sábado, 31 de dezembro de 2011

nãorepetição



- Não acha que, no geral, temos tendência a nos repetirmos ?
- Não não.


sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

a cidade de ulisses



Os turistas vão à procura de lugares para fugirem de si próprios, da rotina, do stress, da infelicidade, do tédio, da velhice, da morte. Vêem os lugares onde chegam apenas de relance e não ficam a conhecer nenhum, porque logo os trocam por outros e fogem para mais longe. Os viajantes vão à procura de si, noutros lugares que ficam a conhecer profundamente, porque nenhum esforço lhes parece demasiado e nenhuma passo excessivo, tão grande é o desejo de se encontrarem.
As agências de viagens e os turistas só se interessam, obviamente, pelas cidades reais. Os viajantes preferem as cidades imaginadas. Com sorte, conseguem encontrá-las, ao menos, uma vez na vida.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Saudosa inconsciência



Quando cheguei ao hospital, assim que souberam o que tinha, foi a primeira coisa que me proibiram de fazer. Depois desse dia, foram poucos os momentos em que não tive vontade.
Hoje, o dia em que me deram alta, foi a primeira coisa que fiz. Quando volto a pensar em tudo isso, lembro-me só que era muito feliz e relembro-me que é disso que tenho saudades. Talvez por culpa do Gin, cada dia sei menos sobre o porquê, mas que era, sei-o e sinto-o com toda a certeza que só se pode ser, por já ter sido, e isso, nem o Gin consegue apagar...


segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

duas horas e vinte cinco minutos de paraíso



Acordei com ele a avisar-me:
- Já venho, não te atrases !
E deixei-me dormir novamente. É uma manhã de Inverno a acordar-me a um segundo de cada vez, por cada gota de água nunca quente o suficiente para me confortar a manhã. Aqui, o verdadeiro dia só começa quando se abrem as janelas de madeira e se tem frio. Só o gelo em bicos dos pés, a saltitar na tarefa para que seja rápida e fria, pela preguiça de calçar o que foi descalço à presa e à força antes de deitar, me acorda verdadeiramente o sorriso. Este sol quente de madrugada fora da época, fala-me do final de mais um ano.
Uma insónia da minha Mãe assusta-me o frio e relembra-me em forma de agenda as horas futuras. De volta a mim, o meu pequeno almoço é o cheiro quente e o silêncio torrado com manteiga. Enquanto os consumo, à mesma velocidade que os meus olhos sentem o mover de um sol sem brisa, enquanto acordo os pulmões fechados da noite anterior, enfeitiçado pelo chilrear e os ladrares longínquos, passa por mim o meu Irmão, de inchada na mão e tarefas feitas, já desperto há muitas mais horas que as minhas. Aos poucos, a manhã acorda e cala o sol que cala o frio que cala o verde que cala os pássaros que calam os cães que acordam o mundo e me cala a mim e, já com o meu Pai desperto e o carro a acordar, ele finaliza o aviso e diz-me:
- Vamos !


domingo, 25 de dezembro de 2011

Quem é que faz anos hoje, quem é !



Feliz Natal ?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Não-problema


Quando as variáveis são poucas, o problema apresenta-se simples.



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Down



- A mãe estava a berrar tanto... achas que ficou bem ?
- Não te preocupes. Não penses mais nisso.
- Sabes, acho que estou apaixonado. Ela gosta do (...) não gosta? E gosta mais do que de mim ?
- Gosta de maneira diferente. Mas gosta muito de ti.
- Acho que estou apaixonado.
- Gosta da (...) e gosta de ti. Gosta dos dois muito.
- Acho que estou apaixonado... sabes como é pai ?


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

cabeça a prémio?



Alugo-te o corpo ao teu melhor preço.
Mas não te iludas...
Para a cabeça não tens moeda.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Domingo



Apetece-me sentar e escrever como outros, inventar um nome e dirigir um texto. Sabes, gostava de voltar a ser quem fui, só para dizeres que me conheces porque fui quem sempre conheceste. Tenho vontade de ser eterno para alguém, de um corpo de companhia ao meu, para trocar devaneios em silêncio, sorrir no fim, fumar um cigarro e me sentir exausto de bom com tudo isso. Quero sair daqui e tudo num segundo, recomeçar de novo sem saber nada, ter tudo de repente e estar longe, bem longe daqui, com todo o bom sinal que isso implicaria. Quero voltar a África e apaixonar-me, mas por agora, quero só um whisky, velho, muito velho, e seco, e quente e em jejum para matar um nó com outro. "Quero" três vez, já é mais do que o resto das outras fracas acções e se por querer posso, não significa que aconteça... mas quero, e quero muito.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Fado




É o que vivemos que nos molda a cara,
o que sonhamos,
           que nos faz viver,
o que sentimos,
           que nos faz perder,
mas é pelo que desistimos que somos assombrados.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

enfado



Ter consciência que não penso já é pensar demais.


quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ex-break up sex



- Precisamos de falar...
- Pelo jeito da sua voz, parece assunto sério...
- Você sempre se comporta do mesmo jeito. Estou farta. Não aguento mais !
- Pois bem... Você quer falar, a gente fala, mas só com uma condição.
- Está pondo condições ? Você sempre reage assim !
- Só falamos com uma unica condição!
- Diga então... que condição é essa ?
- No final, fazemos amor.
- Saia !


terça-feira, 29 de novembro de 2011

Futuro de la Palice




sou aquilo que faço,
não aquilo que espero que aconteça.


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

reflexo




A ausência de conhecimento é o espelho da ignorância.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

two ships...

...one wreck.


quarta-feira, 2 de novembro de 2011

terça-feira, 1 de novembro de 2011

sem título



todo   o   esforço   que   faço   para   não   ser   eu,

é    um   passo   para   me   afastar   de   mim   mesmo.


segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sem título, propósito ou destinatário,



no concreto da busca,
procuro não sei bem o quê,
sem saber o que fazer quando encontrar,
mas pretendendo
(não sei bem como)
indagar a presença em silêncio mútuo.

Esta porta que se me apresenta na procura,
não lhe toco,
não lhe bato,
nem a passo,
porque não posso passar portas que não me vêem.

Deste meu lado,
aguardo o que só eu vejo:
a cobardia da procura pelo excesso de sanidade.

A coragem da procura
(de não sei bem o quê),
resulta do retrocesso da sanidade
e o retrocesso do passo
(ao encontrar o que procuro),
é o que me faz tristemente são.

Mesmo assim procuro,
e porque as portas não falam,
arrepio caminho,
e amanhã,
volto a procurar.



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

المغرب‎ - Marché des Caravanes, nr. 19: Vous connaît la crise mondiale ?




Quando nos voltamos a reunir com Hammi, pedimos-lhe que no regresso nos leve onde comprar o chá de todo o Marrocos. Leva-nos a Rissani, a um antigo bazar de produtos alimentares, onde compramos todo o chá que vamos querer consumir e oferecer.
Perante a enorme agitação da cidade, Hammi explica-nos o movimento fora do normal, pelo decorrer do mercado tri-semanal e pela feira dos burros mensal. Centenas de burros estacionados, à espera de serem comprados por 100€ cada. A curiosidade impôs-se de imediato: "Et le dromedaire?". 1000€ e vendem-se uma vez por mês. Neste momento ficamos a saber o valor da Ana, pela qual ofereceram 20 dromedários. Antes de voltarmos ao jipe, perguntamos a Hammi sobre a possibilidade de entrarmos no mercado à nossa frente. Hammi hesita, olha para a entrada do mercado e diz que podemos ir se quisermos, mas que ele não pode abandonar o jipe. A polícia pode aparecer.
Entramos no mercado dos mercados, onde tudo se vende numa aparente confusão de produtos e pessoas. Fruto de como a televisão e as notícias nos apresentam parte do mundo árabe, a minha desconfiança aqui é maior do que nos outros sítios. Estamos por entre becos minúsculos, completamente rodeados de estranhos que nos parecem olhar com desconfiança. Talvez com a mesma aparente desconfiança que olharia para uma mulher de burka no meio de um nosso mercado municipal, mas que não seria mais do que a estranheza pela sua presença. Neste sentimento de empatia, destruo toda a desconfiança e torno-me imune aos olhares, sorrindo sempre em cada passo. Vários comerciantes revelam-se surpreendentemente simpáticos, ao cumprimentarem-nos, convidarem-nos a comprar qualquer coisa no seu espaço, ou simplesmente indicando as diferentes áreas do mercado que podíamos visitar. Uns oferecem o seu canto para tirar uma fotografia, outros, mais sérios, impedem vivamente qualquer tentativa. Um sorriso e um pedido de desculpa e prosseguimos por entre a carne exposta ao ar repleta de moscas, tâmaras a secar, roupa, pequenos produtos electrónicos chineses, chinelos, fruta, especiarias e tudo o que um Berbere poderá querer comprar, num mercado que parece ter tudo. Aqui, como em quase todos os outros locais, a interpelação é a mesma:
- Portuguixe? bátátáfrita.
E uma nova:
- Lixboa? Benfica!
Ao voltarmos, antes de sairmos, Pedro lembra-se que precisa de comprar tabaco e ofereço-me para voltar atrás com ele. Encontramos Ismael, um árabe que nos tinha acompanhado pelo mercado, mesmo perante a nossa indiferença, farta de compras impingidas. Agora, com pressa, pergunto-lhe onde podemos comprar tabaco. Sigam-me, responde. E sigo-mo-lo por entre o labiríntico mercado. Enquanto Pedro compra tabaco, Ismael explica-me que tudo o que tem vestido, incluindo um relógio da Nike, foi trocado com estrangeiros. A camisa e as calças da Toyota foi trocada, os sapatos foram trocados, tudo foi trocado. Não consigo evitar uma gargalhada e faz questão de dizer que fala muito a sério. Num riso, recuso-me a trocar de roupa com ele e pede-me que pelo menos tiremos uma foto da loja dele, para que possamos fazer publicidade em Portugal. Devolvemos a amabilidade de nos indicar onde comprar tabaco, aceitando.
Entramos para uma de três salas da loja, onde expõe um largo número de bugigangas e muitos dos típicos souvenirs marroquinos. Tira vários colares de uma gaveta e coloca-os em cima de uma mesa, enquanto comento com o Pedro que fomos só comprar tabaco há 10 minutos e ainda não voltámos. Responde-me com a escolha de um pequeno tambor de uma das prateleiras. Perante o interesse, de imediato entra o dono da loja, bastante mais velho que Ismael, pronto a fazer negócio com um fantástico tambor de pele de dromedário, muito resistente ás elevadas temperaturas. Ismael pede-me para o acompanhar a outra sala. Uma sala rectangular, com estantes do chão ao tecto repletas dos mais variados tipos de tapetes em todas as paredes e todo o centro da sala vazio. Pedro e o dono juntam-se nós e num sorriso que transparece a grande amabilidade e esconde ao máximo o vendedor, o dono diz-me:
- Estes são os nossos produtos, não têm que comprar nada, gostava só que vissem e se não estiverem interessados, pas de problem.
Começa a retirar tapetes que vai estendendo no chão.
- Este tapete é de seda com lã (1º). Podem reparar na qualidade superior.
E estende um bonito tapete em tons de amarelo, bem trabalhado, aparentemente de boa qualidade para o meu olho não especialista.
- Este, é de lã (2º). Não tão bom.
Confirmo com o olhar que é notória a diferença de qualidade.
- E este é de fraca de qualidade (3º), como se pode reparar pelos pespontos e o fraco acabamento.
E entende-o no chão, com indiferença por aquela pobre peça.
Ismael passa-lhe um pequeno caderno já escrito e uma caneta e o dono escreve-me o preço dos três tapetes:
1º 1600 DH
2º 980 DH
3º 560 DH
Passa-me o caderno para as mãos e pergunta-me:
- Quando aqui entraste, quando olhaste para todos estes tapetes, qual foi o primeiro valor que te veio à cabeça? O primeiro de todos!
Na folha de papel quadriculada do pequeno caderno escrevo 200 e devolvo-lhe o caderno.
- Muito bem. E o preço com o tambor?
Passa-me novamente o caderno, olho para o Pedro, escrevo 250 e devolvo-lhe o caderno.
- Ok. Escreve-me o teu máximo possível pelo tambor e pelo tapete.
O dono não revelava qualquer emoção de surpresa ou indignação sobre as ofertas que eu ia escrevendo. Limitava-se a sorrir, interrompendo por vezes a venda para afirmar que podíamos eventualmente não chegar a um acordo, mas que não havia qualquer problema. Uma espécie do nosso, amigos à mesma.
Ismael interrompe e do outro lado da sala pergunta-nos:
- Chá com ou sem açúcar?
Tratando-se de um negócio, o chá era óbvio e obrigatório, a única questão era o tempero.
Para definir o máximo possível voltei a olhar para o Pedro que me responde em silêncio, num olhar cúmplice que retrato na folha de papel quadriculada: 300.
- Não pode ser! O máximo! Aquilo que é mesmo o máximo!
E apercebendo-se da minha troca de olhares para o Pedro, rouba-me o caderno das mãos e dá-o ao Pedro. O máximo dos máximos: Mais dois euros e escreve 320. O dono faz um ar sério e diz:
- Uma proposta séria!
Fazemos uma contas rápidas em voz alta, falamos um pouco de português com uma voz universalmente indignada e Pedro sobe um euro: 330. O dono solta uma genuína gargalha e diz-me que posso ir embora porque vai ficar a negociar com o Pedro. Esboço um leve sorriso e ele retira novamente o caderno das mãos do Pedro e pergunta-me:
- Vous connaît la crise mondiale ?
- Conheço muito bem!
E soltamos os três uma enorme gargalhada.
- Ok. Escreve aí a tua proposta final. Aquela que ou é ou não é. O que escreveres, ou aceito, ou amigos à mesma. A tua proposta final!
Pergunto a Pedro quanto quer pagar pelo tambor, fazemos contas e decidimos o nosso máximo. Escrevo 350 e devolvo-lhe o caderno.
O dono gesticula, fala em Árabe como se já não estivéssemos na sala, pressiona o topo da caneta fechando-a e guarda-a no bolso, continuando aquilo que não conseguimos compreender. O negócio terminou. Tinham passado mais de quarenta minutos desde que fomos "só ali comprar tabaco" e podíamos finalmente regressar. Imaginava a preocupação de quem nos esperava.
- Ok. Fechado! Mas com uma condição! Têm de fazer publicidade sobre nós em Portugal e junto dos vossos amigos. Sem compromisso, claro.
Ismael acompanha-nos à saída. Dá-nos um aperto de mão e deseja-nos boa viagem.
Ana estava dentro do jipe com Hammi. Aparentemente, teve que se refugiar da multidão que a começou a cercar, cada vez mais próxima dela e da sua beleza ocidental de ombros destapados.
Partimos em direcção a Ouarzazate.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

المغرب‎ - Sahara (parte 2)

Eu, que não acredito na perfeição e raramente uso a palavra, senti neste momento, um momento perfeito. Um momento em que não havia nada para dizer senão escutar. Um momento que me aquecia tanto como o chá. Um momento, que só por ser aquele momento, perfeito, me fazia sorrir. Aqui não há nada, por isso, não se pensa em mais nada. Aqui, pensa-se no que se vê: aqui moram mais estrelas. E no fim deste momento, conversa-se sobre tudo isto.
Hakim presenteia-nos com algo completamente diferente: arroz com tomate e ervilhas de uma qualidade estranhamente elevada. Novamente, não pedíamos mais. Por nós, era aquele O jantar, mas refeição que é refeição tinha ter Tagine de frango. E porque tudo era diferente, ao melão acrescentou laranja e foi tocar djambé ao som reggae da minha melhor escrita Berbere: "Oh saramáá, oh saramÁÁÁ, oh sARAMÁÁÁÁ!". Resolvemos rodear Hakim e o tímido amigo que o acompanha com as lanternas de velas espalhadas, para que nos pudéssemos juntar.
Tratando-se de um país muçulmano, onde o álcool praticamente não existe, não resistimos em comprar no aeroporto uma garrafa de whisky para a viagem. Este era o momento de a saborear. Enquanto bebia pela primeira vez com gosto um whisky, quente, sem gelo, Hakim pergunta-me o que bebo. Não ofereço por ter medo de ferir susceptibilidades culturais mas Hakim é diferente de todos os outros árabes até então e oferece-se para provar. De um trago, bebe todo o meu copo de whisky, engelha todas as rugas da cara e após uma falta de ar que lhe vem de uma convulsão no peito, dirige-se a Muhammad, o seu amigo, naquilo que me parece ter sido uma série de sonoros praguejares. Muito forte!, diz no final.
Hakim apenas arranhava o espanhol, mas preferia-o ao seu francês fluente. Queria treinar. Perguntamos-lhe como aprendeu.
- Com a escolha da vida, responde, colocando-se numa postura mais sábia.
Este é o único momento que Hakim não está a brincar, a ser engraçado ou a ter piada.
- Há dois tipos de pessoas: abertas e fechadas. Há quem venha aqui e vá dormir. Há quem venha aqui e fique, e converse, e cante... portugueses, italianos e espanhóis... tudo o resto não interessa, diz sério.
Perguntamos-lhe se conhece outros países. Esteve de passagem em Espanha. Quem sabe, um dia podes ir a outros sítios, sair daqui, conhecer o mundo.
- Nasci no deserto, vou morrer no deserto.
- Não sabes. Quem sabe um di...
- Nasci no deserto, vou morrer no deserto!
E termina com esta frase o único momento sério. Depois cantamos, conversamos, tocamos, tornamos a cantar, partilhamos e o Pedro improvisa o acompanhamento com uma guitarra. Ás 5h é o despertar para ver o nascer do sol, por isso, ás 23h achamos que o Hakim está cansado e deixamo-lo ir dormir.
Para nós ainda não é hora e decidimos ir caminhar pelo deserto nocturno. Uma lanterna à porta do acampamento e uma outra para nos iluminar o caminho e traçamos como objectivo a silhueta da duna mais alta. No deserto, parece existir sempre uma duna mais alta que a anterior e a porta do acampamento é agora um pequeno ponto longínquo de luz. Finalmente, num consenso de altura, como se quiséssemos (e conseguíssemos) observar a paisagem do alto da noite, sentamo-nos no topo da duna mais alta. Este é o momento mais perfeito do deserto. Esta é a definição de ausência de som, pois é aqui que o silêncio toma outro significado. Só um poeta talvez o conseguisse definir. O silêncio do deserto é ouvir apenas o vento que nada traz com ele. Foi quando decidimos voltar que reparamos na porta do acampamento. Tinha-se apagado. Felizmente o deserto tinha memorizado os nossos passos e voltámos, de olhos no chão, repisando as mesmas pegadas até chegarmos aos nossos aposentos, para finalmente dormir.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

المغرب‎ - Sahara (parte 1)



Os grandes sonhos rodeados do desconhecimento, geralmente, não são muito grandes. Quando são sítios por descobrir, um sonho em forma de viagem chega a ser referido apenas pelo seu Continente: Quero ir a África! Do meu ainda muito desconhecimento do mundo, nasceu o sonho do deserto: Quero ir ao deserto! Ao Deserto do Lawrence e da Cleópatra, ao Deserto do National Geographic e, principalmente, ao poético Deserto amarelo das fotos. Pouco lúcido (que é uma  espécie de simpatia para comigo mesmo ao não me chamar estúpido), houve uma altura em que a única coisa que queria desta viagem era ir ao deserto. Tipo teletransporte e voltar. Foi de resto como tudo surgiu mas, felizmente, estes meus momentos têm tanto de lucidez como de duração.
Hammi explica-nos que existem dois tipos de deserto: o do sonho - Erg (de que faz parte o Sahara), e aquele que ninguém fala nem visita, por ser completamente rochoso - Hamma. Debaixo de 40º que confundem a miragem do horizonte em final de tarde, cercados pela inóspita paisagem de terra preta, queimada para sempre pelo sol, o Hamma, há já uma centena de quilómetros que nos acompanha. A 40Km da fronteira com a Argélia eis que surge Erg, magnífico, numa das mais maravilhosas paisagens da natureza.
Hammi dá-nos indicações sobre o que se segue: vamos trocá-lo por Hakim.
Durante a viagem houve sempre uma contagiante tentativa de nos sentirmos, para nós próprios, de alguma forma únicos. Por vezes ingénuo, eu queria ser descobridor, e quando não conseguia, sentia uma quase desilusão. Foi o que senti quando Hakim soube que éramos portugueses: "portuguixe? fixe fixe peniche; Queres queres, não queres não comes!". Já estava colonizado.
Hakim obrigou cada um a levar duas garrafas de litro e meio de água consigo. Devidamente apresentados aos dromedários, seguimos viagem deserto dentro. 8 Km em duas horas, apenas (por vezes) desconfortáveis no rabo e onde a cada metro o silêncio era mais puro, os resquícios de civilização menores, a areia mais virgem e o sol mais baixo.
Chegamos já de noite a um pequeno acampamento sem ninguém. Hakim, aponta-nos os nossos humildes aposentos e oferece-nos um chá de boas vindas para relaxarmos, enquanto prepara o jantar. Não que estivéssemos à espera, mas no deserto não há casa de banho nem qualquer forma de nos lavarmos.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

المغرب‎ - Hammi



"Hammi, nous ne aimes pas beaucoup des touriste!", foi das primeiras coisas que lhe disse.
Hammi tem 26 anos mas, talvez pelo ar sério dos seus óculos árabes, aparenta bastante mais. Na sua carta de condução (que troco em forma da partilha cultural pelo meu cartão de cidadão), aparenta os 24 anos da altura, um pouco diferente, com bastante mais cabelo, mas onde não estava, como agora, casado há 3 meses. Afinal, pensei no momento, talvez não haja assim tanto contraste cultural como isso...
Hammi é o nosso reservado mas bem disposto guia de serviço e, apesar da coincidência de algumas paragens estratégicas iniciais, junto de vendedores de estrada astuciosamente colocados, parece cumprir bem o pedido de visita a Marrocos turístico sem turistas. Nunca saiu de Marrocos e, se por vezes parece não se importar com isso, outras, embora não o dizendo, transmite alguma curiosidade de visitar o país dos turistas que o visitam. Num país onde o ordenado mínimo ronda os 200€, o turismo rende-lhe 250. Di-lo com naturalidade, sem qualquer lamento.
Em cada paragem, Hammi não nos acompanha. Por vezes comporta-se como um alegre motorista, rigoroso com o tempo de paragem embora sem nunca exigir que nos apressemos. Durante toda a viagem vai explicando a paisagem, mas na altura de sair, não abandona o jipe. Não é exigente com as pré estabelecidas horas de oração árabe. Se estamos em viagem, reza quando chegarmos.
Às refeições, consegue sempre escapulir-se antes que lhe perguntemos alguma coisa e a meio da viagem, fartamo-nos desta evasão impessoal e o Nuno diz-lhe que a partir de hoje vai sempre almoçar connosco. Que fazemos questão. Hammi come com as mãos e nós de talheres. Hammi pede uma água e nós uma rara cerveja marroquina. Hammi pede sempre a tajine e nós evitamos sempre a tajine. Explica-nos que todos os dias, ás 7h da manhã, come uma sopa e um chá. Ao almoço, tajine de poulet ou a tajine de bouef e ao jantar acrescenta um acompanhamento de arroz ou batatas. Todas as sextas-feiras come cous-cous e tudo isto, durante toda a vida.
Numa das refeições aproveito para lhe perguntar sobre o seu recém casamento. Casado há 3 meses, fala da cerimónia com um misto de timidez infantil e de contentamento. O casamento durou 3 dias. Muito diferente de um casamento português que lhe mostro, do meu último ainda presente na máquina digital. Não tem fotos do dele, mas tem o do primo no telemóvel, que partilha. Ao primeiro dia, a noiva apresenta-se tradicionalmente toda tapada e só no último revela o rosto. Perguntamos-lhe por filhos e volta o sorriso comprometido de criança.
- Para o ano... talvez, diz rindo. Para o ano!, diz sério.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

المغرب‎ - OPO / RAK



Com saída prevista para as 15h, às 14h, ainda enviávamos mensagens uns aos outros a informar que estávamos a sair do trabalho para ir fazer a mala e tomar um último banho. Este era o nosso estado de relaxamento. Os joelhos no chão do Francisco Sá Carneiro, virados para a nossa Meca em forma de cartaz de bacalhau com broa (que tanta saudades ainda viríamos a sentir), representava o nosso estado de espírito.
Marrocos foi a nossa inauguração de África e, Marrakech, é acima de tudo, um mundo à parte para qualquer ocidental não habituado a este continente, onde tudo é diferente e, de europeu, só o Francês. Se existem nove milhões de bicicletas em Beijing, Marrakech parece ter o equivalente em motas, o mesmo trânsito e o dobro do caos. Mohammad, o nosso taxista, parece sorrir com deleite ao nosso ar incrédulo sempre quase batemos em alguém e sorri ainda mais ás nossas interjeições de tal confusão. Serpenteia-se por entre motas, carros e pessoas que não respeitam quaisquer do nossos códigos de circulação ou regras de segurança. "Come le chinois", goza Mohammad.
- É aqui, diz enquanto aponta para um beco escuro onde o carro não passa. Sempre em frente e depois à direita.
Para primeira noite escolhemos um Riad perto da praça Djemaa el Fna. Uma quase modesta porta de entrada, revela no interior um antigo palacete marroquino, escondido por entre as movimentadas ruas da cidade. O nosso porto de abrigo é, em conceito, semelhante à europeia "guest-house", mas mais sumptuoso. No interior impera a calma, imposta pelo som de uma fonte interior, o sítio ideal para relaxar num banho, depois de uma visita nocturna a uma das maiores e mais movimentadas praças de África e do mundo. Marrakech profunda e diurna ficaria para outro dia, pois bem cedo teríamos, pela primeira vez, Hammi à nossa espera.

domingo, 23 de outubro de 2011

2 meses de leite com salada, entre outros




A comida estragada preserva-se muito melhor no frigorífico do que a comida em bom estado.



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

undoubted




it's not a question of love.
that,
is unquestionable.

it's not a question of passion.
that,
is undeniable.

it's just a matter of sanity,
and that,
is incontestable.



domingo, 16 de outubro de 2011

Frio, onde estás ?



O cérebro humano masculino está preparado para 4,1 meses de calor seguidos e 3,75 meses de roupas frescas, justas e curtas. Findo estes, provou um estudo recente, há lugar a descompensações hormonais de crescimento exponencial.
Frio, onde estás ?


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

caminhos



- Olá! Por aqui ?
- Isso digo eu: Por aqui? Que tal foi ?
- A melhor experiência da minha vida... 15 meses de estudo, de trabalho, de viagens... voltei há um mês e ainda me custa tudo isto... mas o melhor foi a Tanzânia... as crianças, África, tudo! Adorei! E tu ?
- Eu, comprei uma casa e para o ano vou-me casar. Temos que sair um dia destes.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

auto crença



- Um estudo recente provou que o consumo regular e continuo de vitamina D tem grande influência na saúde futura de um individuo, diminuindo drasticamente, por exemplo, o risco de cancro.
- Deve ser por isso que sou tão saudável e nunca tive qualquer problema de saúde... todos os dias, nos passados 20 anos, bebi sempre um sumo de laranja por dia.
- A vitamina da laranja não é a B ?
- Tens razão... Qual é a D ?
- É a do peixe.
- Pois... Esses estudos valem o que valem...


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

gesto


Apontando para o agora, num círculo completo na sua direcção, afirmou:
"Até à próxima vez"


sábado, 24 de setembro de 2011

Invisible qualities



I'm a promiscuous alcoholic with relationship issues... Will you marry me ?


terça-feira, 13 de setembro de 2011

gosto




Ás vezes espanta-me o meu gosto. Não por ser divinamente apurado, refinado ou simplesmente bom, que, mesmo não o sendo, gostos, efectivamente não se deveriam discutir. Não. Espanta-me por sempre me agradar.
Não há escolha material ou artística consciente e mediamente ponderada que não seja do meu agrado. Mas o espanto não vem desta mediocridade de escolha. O espantoso está na contínua intensidade do agrado.
Poderá até haver quem diga que, tudo isto, é uma falta de personalidade artística de extremo bom gosto.



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

pegamonstro



 - Há uma semana, quando voei daqui, tinha os mesmos planos de agora, menos um ou dois desejos e algumas vontades não avaliadas.

- Que esperavas? Discutir os segredos da vida? Conversar o mundo num copo? Nadar em pensamentos absurdos e rires-te de tudo isso? Era isso que esperavas?
- Erradamente, nunca me apaixonei por um estranho... é que é no desconhecido que reside grande parte do sucesso. Seja como for, apesar de nada esperar, apenas por não pensar no que espero, confirmo: tenho uma enorme falta de personalidade linguística!
- Afrodisíaco? Afrodisíaco é quem está ao teu lado.



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Olá boa tarde, tudo bem? Tenho uma coisa nos dentes




Passou 1 ano, 3 meses e 27 dias desde a última verdadeira estupidez alucinogénica que escrevemos. Pensei, para grande tristeza minha, que a secção tinha morrido cá em cima, mas como não diz a minha mãe, bom neurónio à casa torna. Vou aproveitar antes que se vá novamente:

Na primeira pessoa, hoje, falei de palavras e de beijos pequeninos com uma strange person. Como as próprias palavras eram sobre beijos pequeninos, no fundo, no final, hoje, falei de beijinhos. Parece que há quem se irrite intrinsecamente com a palavra 'jinhos' e, se existe uma pessoa que se irrita, existem certamente muitas mais. Para essas (que já expliquei à outra) passo a explicar. 'jinhos' não é mais do que um beijinho sem o 'b', que é a contracção labial apaniscada, vulgo consoante-sopra-na-palhinha, através da sibilante cool ‘j’. Para os que ainda não fecharam o browser, exercitem-se na pronúncia das seguintes palavras:

1. jjjjinhos
2. bbbbbeijo
3. beiiiiijo
4. jiiiinhos

A primeira é claramente a mais cool. Eu chamo-lhe o beijo Martini com som (e sem polegar).
A segunda, pela contracção facial-ó-labial, é sem dúvida a mais apaniscada.
A terceira é médio apaniscada com sorriso no meio (conforme o tom vocal empregue).
A quarta é a mais estranha porque envolve demasiados dentes à mostra.

Por esta altura, 'jinhos', foi comparada, para meu grande espanto, ao grupo etimológico onde estão presentes, por exemplo, kiduxo e migo. Kiduxo não sei o que seja mas faz-me lembrar um animal empalhado. Migo sempre me soou a nome do meio de Judas.
Jinho não é mais do que tipo de beijo a despachar. É, ao mesmo tempo, menos que um beijinho mas muito mais do que isso. Um beijinho, só por si, já é uma coisinha pequenina, tipo um chocho literário e nós, pessoalmente, não somos fãs dos chochos, nunca fomos, nem mesmo naquela fase de experimentação da pré adolescência. Arrisco mesmo a dizer, sem qualquer tentativa de me mostrar másculo e suas variantes, que saltei directamente para o beijo, linguado e outros familiares de França. Ahhh o túnel do colégio... primeiro beijo: 8 anos! Ela tinha 10 e as amigas vigiavam a entrada do túnel. Era, como agora, o mais pequeno dos 6 e vestia um bibe laranja. Ela envergava um magnífico bibe verde e nunca tinha chumbado. Que misto de saudades e pena por não ter aberto os olhos e ficado com uma memória mais acentuada do acontecimento.
Resumindo e terminando, espero apenas que alguém leia isto no meio de muitos olhos, isto, assumindo que como nós, está completamente no papel da análise muscular da coisa e tenha por isso, o mesmo resultado inquisidor do ambiente circundante, de como quem avalia um louco. Olá boa tarde, tudo bem? Tenho uma coisa nos dentes.




Nota de rodapé: detestamos vivamente a palavra beijinhos quase tanto como detestamos 'jinhos', 'kiduxo', 'fofo', 'migo' e um sem número de outras que me dão vontade de, pacificamente e na maior das calmas mas com bastante força, partir os dentes a quem as profere.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Paz Interior



Não se sabe bem porquê mas está lá, presente em cada mais momentos do que desejaríamos, num (aparente) infinito eco de pequena dimensão, que mói... que insiste... que repete e repete e, repetidamente, paira sobre nós entranhando-se numa incómoda voz omnipresente.
Depois, o tempo passa e a loucura aumenta, espalha-se, entranha-se ainda mais e corrói o que falta roer. Agora, a normalidade é ouvir e o estranho é o silêncio.
Somos mesmo aquilo que desejamos ser: aquilo a que nos propomos, não pelo que nos precisamos de convencer, porque nem sempre é o que queremos, mas pelo que sabemos que queremos.
Já sei!
E numa chegada: o silêncio...
Já sei!
E num pensamento: o silêncio?!
E as cores do mundo são diferentes, onde os únicos tons de cinzento são uma névoa que paira, que flutua, ora mais leve que o ar, ora, por vezes (raramente), mais pesada. As vozes imperceptíveis, são agora sopros de suspiros airosos que não sabem roer, porque não têm corpo nem voz.



terça-feira, 23 de agosto de 2011

Subconsciente




É pelo nosso próprio sono que o subconsciente não nos deixa dormir. Fala-nos em susto, grita-nos em silêncio de caras tapadas e rosna-nos ao pasmo.
Eu, que não me lembro da última vez que sonhei, que me canso do mundo para não sonhar, que tenho medo dele e o torno alcoólatra para que durma, sorrio ao mundo a preto a branco. Nos meus não sonhos de não sono, ainda sou bicho. Lavo-me em formato esquizo de pensamento dividido, unilateral, comunicando sem ser comunicado.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Zéquinha




- Tu é que andas de SLK não é?
- Yah.
- Então e quando tiveres filhos?
- Compro um a Diesel.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O Génio do norte



- Se pudessem escolher uma mulher para se apaixonar loucamente por vocês quem é que bocês escolhiam?

- ...
- Eu escolhia a Hilary Clinton... debe ser espetacular ter esse tipo de poder e dizer, "enbia o sudão cu caralho!"


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

2cv




- Que tal esta ?

- Não gosto. Tem os olhos mto afastados da cara.
- É... Parecem os farois de um dois cavalos.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

perceções mal observadas



- A Inês era a miúda mais gira da festa.
- Não, não era. Era era a da saia mais curta.



quarta-feira, 3 de agosto de 2011

FooOool.e




Ás vezes apetece-me comprar um bandoneón só para ter o prazer de o desfazer em pedaços de pontapés musicais, a um murro por oitava!
Uma simples ideia, é quanto basta para destruir o pensamento. Por sua vez, muitas outras vezes, um pensamento, é quanto basta para fazer surgir uma ideia.
Uma lagarta concertina de raciocínio que dá vontade de bater só por ousar alterar-me o ritmo cardíaco!
O pior suplício do homem, é uma espera e a pior categoria em que se pode alguma vez encaixar, é o cinzento.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Guardada nos Rascunhos





Hoje acordarei cheio de coragem!
Pronto para enfrentar o mundo e lhe mostrar quem manda. Com a coragem que acordarei para ensinar o mundo, aconselhar a todos - que todos me parecem procurar o conselho. Aparentemente, é em mim que a verdade vive e, por isso mesmo, ensino e mostro e sorrio a sabedoria do óbvio e do teórico, aquela de que todos parecem precisar.
Deste lado logo se vê... se via, porque hoje, hoje cuidarei de mim. Curar-me-ei, completar-me-ei mais um pouco e comigo mesmo, e farei ainda um pequeno acrescento.
Corajoso, vou denunciar o interior e viver para a lua ao sol. Vou aprender a voar, a crescer e a aparecer, e vou dizer que estou ali, e aqui e ali, sempre e ao mesmo tempo.
Hoje, vou dizer que sim e não ter medo do não.
Vou ser pensamento em voz, corajosa presença numa vulgar coragem que julgo ser só minha e, no derradeiro e final acto, corajoso, como sempre acordo e me deito, carrego no vermelho e leio todas as nobres intenções numa única fralda: "Guardada nos Rascunhos".



quinta-feira, 21 de julho de 2011

3218




Todos os dias um acaso diferente. Uma, ocasião imprevista que produzia um facto: o próprio acaso. Um acontecimento inesperado, repentino - casual mesmo - até ao "Feliz Acaso" que era ele próprio a hipótese fortuita de que, se calhar, talvez, por um mero contínuo acaso, naquele dia, desejar insistentemente e de forma repetida, de olhos fechados, cerrados a toda força, engelhados na pele e na expressão e na força do desejo, um 3218.
600 mil pessoas em Lisboa e, naquele dia, no dia que o mais desejou, como se - pensava - fosse impossível desejar ainda mais, vezes e vezes sem conta, com todo o falso poder da sua cabeça que tentava em vão influenciar o mundo e o acaso, a provocar o próprio acaso, eis que surge um redondo e magnífico e azul e alheio a ele e ao mundo... 3218... edição especial... sem parar... deixando-o parado... num repetido sinal vermelho, de um apático acompanhar de cabeça alheio ao restante.
Nessa noite de 3ª feira haveria de sonhar... e muito. - E infelizmente!, acrescentava-lhe o fustigado interior.



terça-feira, 19 de julho de 2011

El hijo de la novia



- ¡Osvaldo, ayudame! ¡Me quieren robar!
(Rafa) No tengas miedo.
(Osvaldo) ¡Rajá de acá, te rompo la cara!
(Rafa) ¡No, por favor! ¡Nati! ¡Nati, abríme! ¡Es mi novia! Déjame hablarle por el portero.
(Osvaldo) ¡El portero soy yo y con vos no hablo!
(Natalia) Osvaldo, déjalo.
(Rafa) ¿Qué te dije? Es mi novia.
Abríme la puerta, necesito que me escuches.
(Natalia) No, ¿qué querés?
(Rafa) Necesito hablar con vos, a solas.
(Osvaldo) No sé qué hacer con este tipo.
(Rafa) Quédate, qué carajo me importa. Oíme, correte.
Escuchame, por favor. Necesito que me escuches. Lo hice todo mal. Nunca te escuché, nunca te di bola. Pero parece que lo vi, el problema. Y dicen que si lo ves, eso es parte de la solución. La cagada es que no te dicen qué parte es. ¿El 50%, 2%? No sé.
Pero... yo creo que me hizo bien la terapia. La intensiva, digo.
Qué más.
Ya sé, sí. Que, bueno... no es verdad que no quiero tener más problemas. Yo no quiero problemas con las cuentas... pero quiero los tuyos. Quiero los de Vicki, los de mis viejos. Te lo juro. Son mi familia. Yo los quiero ayudar. Y que... mirá... yo quiero... vivir toda una vida con vos, llena de problemas, los tuyos y los míos... porque esos son problemas... esos son. Y el que no tiene esos problemas... ése es el problema más grande que puede tener.
Y... Que aunque no sea no sé... Bill Gates... Einstein o Dick Watson...quiero vivir toda mi vida con vos. Llena de problemas. Y te voy a cuidar... te voy a cuidar por más problemas que tengas.
¡Que tenga!
¡Que tengamos!
Y... no sé qué más decirte.
Decime algo vos, por favor.
...
No contesta.
(Osvalado) Y, las niñas son un problema, hermano.
¿Quién es Dick Watson?
(Rafa) Qué sé yo.
(Osvaldo) Yo al muchacho lo veo sincero, Natalia.



segunda-feira, 4 de julho de 2011

Que és ______ ?



______ es lo que miras, lo que sigues mirando, no sabes porque continuas mirándolo y no consigues dejarlo de mirar. Es lo que recuerdas con una sonrisa y muy ______, es lo que recuerdas con una risa. Es lo que te hace suspirar. Es lo que te gusta y no comprendes porque te está gustando. ______ es como la piel de una mujer, como tus ojos cuando se abren, como tu pecho lleno de aire, como el descubrimiento de tus manos, como tus pies descalzos en la arena más fina, como el toque del sol en tu rostro y es como la brisa en tu cuerpo desnudo.



quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bóia Pretérita Imperfeita




Futura é a desilusão assombrada:
Planos por terra ____ de voar:
Cartas sem trunfos:
Ideias sós que não mais do que de ideias:
A representação teatralmente ocupada,
As Peças
Os Actos
Os Momentos em utopia que nunca ______,
apenas por terem sido planeados.
Os desejos,
muitas vezes agradecidos pelas estrelas,
________ maneira de lhe chegar,
encontra__-no.
Os planos, precisos,
elaborados,
mais certos ____ do fracasso.
Bisonho futuro de jovens planos,
Vate louco da vida!
- Estou cansado, disse.
Sinto um cansaço que é só meu e que por isso,
me cansa ainda mais,
Me corrói e me come os cantos de mim.
É um cansaço de estômago e de cabeça e de uma falta de vontade do mundo que me come o âmago.
É uma guerra de Domingo que amanhã será branca,
cada vez menos,
até ao próximo plano, ou Domingo.
É um cansaço pelo futuro de ontem e pelo passado de amanhã e é só isso que cansa.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

mulher fatal




É uma noite quente, sufocante e sem vento. Daquelas noites que levam as pessoas a fazer coisas secretas, suadas. Eu espero. E escuto. Por momentos tudo fica tão silencioso quanto é possível em Sin City. Coiotes uivam nas colinas. O ruído das sirenes da polícia eleva-se no ar, antes de ser abafado pelo rugido surdo do tráfego. Começo a ficar com a perna direita dormente e penso em descer as escadas e recuperar o dinheiro com que subornei o porteiro, quando ouço o ruído das chaves na fechadura e eles entram...

- Esta é a última vez, Sally. Tem de ser a última vez!
- Como quiseres, Joey.
- Desta vez é a sério!

Ela desliza para fora do casaco como quem desembrulha um presente lentamente, para exibir o material. E que material! Tem um corpo capaz de despertar um morto. A voz é que estraga tudo. Uma vozinha aguda, de menina mimada. Açucarada e cheia de falsa inocência.


- Sonhei contigo ontem à noite, Joey. Foi um belo sonho. Queres que to conte?
- Hoje não tenho tempo para sonhos. Não tenho muito tempo. Tenho que voltar para casa cedo. Esta é a nossa última vez. Não posso continuar a correr riscos destes.
- Como quiseres, Joey. Tu mandas. Tu é que és o chefe.

Ele acrescenta mais uma boa meia dúzia de sílabas a "chefe", assobiando o fff final como uma profissional. Isso basta para deixar o idiota a arfar.


- É essa maldita da Glória. Não pára de me fazer perguntas. Aposto que suspeita de alguma coisa. Se me levar a tribunal fica-me com tudo!
- Tudo o que tu trabalhaste tanto para ganhar.
- Tens toda a razão. Trabalhei como um cão. Trabalhei a vida toda, noite e dia. Anos e anos. Construí um negócio do nada. Do nada!
- E ninguém dá valor ao teu esforço, Joey? Não como tu mereces.
- É isso mesmo. Ninguém! Nem os meus empregados, que se não fosse eu, andavam a pedir nas ruas e muito menos a Glória, grande puta! Vive na casa que eu lhe comprei, veste as roupas que eu lhe paguei com o dinheiro que custou a ganhar e não dá o mínimo valor ao meu esforço!
- Nem sequer se dá ao trabalho de tentar perceber a pressão a que estou sujeito. Nem sequer tenta! Maldita! Sempre em cima de mim, sempre com exigências. Nunca me deixa respirar tal como todos esses preguiçosos que não receberiam o ordenado se eu não lhes assinasse os cheques... Eles podem adoecer, mas eu? Nem pensar!
- Isso é porque tu és forte.
- PODER CRER QUE SIM! MAS ALGUÉM RECONHECE ISSO? NÃO! SÓ ME QUEREM EXPLORAR! UM DIAS DESTES DESPEÇO-OS A TODOS! MOSTRO-LHES QUEM É O PATRÃO. MOSTRO-LHE QUEM É QUE MANDA!
- Podes mostrar-me a mim, Joey. Podes mostrar-me quem é que manda.
- Eu vou-te mostrar... vou-te mostrar quem é que manda...

Então ela começa a gemer e a chamar-lhe chefe enquanto ele grunhe. A coisa termina depressa.
Já tenho tudo o que precisava. O mais triste é que algumas das fotos que tirei estão muito boas.


- Oh meu deus Joey. Foi fantástico. Fizeste-me sentir como uma mulher. Sei que soa foleiro, mas é verdade. A mais pura das verdades. Só um homem a sério faz uma mulher sentir-se assim.
- Amo-te, miúda. Sabes bem que te amo.
- Também te amo, Joey. Tu és tudo o que sempre quis num homem. Conto os minutos quando tu não estás. É a pura verdade! Começam-me a doer os pulsos. Podes-me passar as chaves das algemas. Estão na minha bolsa.
- Nem imaginas o quanto eu te amo! Quanto me tenho sacrificado. Quanto isto me custa...
- Joey... que estás a fazer?!
- Isto está a dar cabo de mim! Amo-te tanto... Mas tenho que o fazer! Trabalhei muito para chegar aqui! Como um cão! E a Glória vai ficar com tudo! A culpa é dela! Não tenho alternativa!
- Não, Joey! Por favor. Não digo a ninguém. Juro por deus!
- Eu sei que tu não queres falar, Sally, eu sei disso...
- Joey... suplico-te, querido...
- Não tornes isto mais difícil, puta de merda!
- Ninguém mata ninguém. Pelo menos à minha frente.
- MATA-ME JÁ ESSE CABRÃO!
- *WHUDD*


"Então, dás-me boleia?" pergunta ela na sua verdadeira voz, uma que há muito perdeu a inocência. Pego na chave e tiro-lhe as algemas. Servem para prender o outro palhaço até chegar a mulher da limpeza. À saída, ela dá-lhe um pontapé de despedida que lhe vai doer depois de acordar.
Apanho a estrada para El Redondo ao longo da colina até à cidade velha. É o caminho mais longo mas, da maneira como ela treme, imagino que este passeio só lhe fará bem. Ao princípio, o mais que ela consegue fazer é soluçar, assoar-se e fumar. Fuma-me seis cigarros. Quando ela estava a começar a acalmar, uma loura cheia de pressa quase que nos atira para a valeta. A pobre da Sally quase morre de susto. Aquela vaca conduz como se tivesse o diabo a persegui-la. Deve ser louca. Nunca há justificação para exceder os limites de velocidade.


- Obrigada por me salvares a vida, amigo!

Ela arranja a maquilhagem e afasta-se num passo sedutor enquanto acena um adeus e lança uma piscadela de olho cúmplice. Uma puta para outra. Foi a última coisa que vi dela antes de submergir no mar de carne da cidade velha.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

dramatikós


- Daqui a 30 dias vou morrer.
- Então, egoisticamente, serei a última pessoa que verás. Depois, morrerei eu todos dias, até te voltar a encontrar.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Sebe




Assim que acabo de escrever, não me lembro do que escrevi e é apenas quando releio que me lembro do porquê de o ter escrito. Ás vezes, a meio do que escrevo, esqueço-me de tudo, depois, lembro-me da razão pela qual escrevo. Fosse eu outro e não escrevia. Tivesse eu tempo e vivido e certamente não teria escrito, mas só escrevo por viver e por um dia ter vivido qualquer coisa que valesse a pena escrever. Exprimo-me em letras, mas sou tímido, matreiro e desconfiado e por isso, as minhas letras não se percebem e, ainda mais por isso, tento que ao menos, já que não se percebem, que sejam bonitas de se ler e de se ouvir quando as dizemos a nós próprios, murmurando a sua leitura e respeitando as minhas pausas. Esta é a minha única regra e exigência: as minhas pausas. As longas, as curtas e as sem tempo, que ficam... no ar, a pairar, sem tempo, desconectadas e já sem sentido, como este, um daqueles momentos em que já não me lembro do que escrevi e só relendo me volto a lembrar do porquê de o ter escrito: Já tudo é demasiado fácil à nossa volta: o mundo é demasiado fácil, não se compram puzzles nem se percorrem encruzilhadas. Os meus labirintos correm o risco de ser só isso: uma mancha verde ao longe, elogiada raramente por quem gosta do som murmurado de um quebra cabeças mas que certamente não o percebe. Se perceber, que duvido, perceberá que me exprimo em letras, que não sei sequer falar, ou se gosto da minha língua. Gosto mais de corpos e de escrever sobre eles e... eis que surge mais uma sebe.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

prudência

Assumamos que tudo o que pensamos dos outros é pensado sobre nós e o elogio será mais cuidado e o desdém repensado.


sábado, 18 de junho de 2011

Some things são qualquer coisa



Praticamos insistentemente para um momento que ainda não vislumbramos. Aperfeiçoamo-nos e tentamos influenciar o que nos rodeia, com qualquer coisa de nosso. Suspeitamos por qualquer coisa e guardamo-nos para ela. Deixamos o tempo passar, na esperança de que ele nos aperfeiçoe e que, com ele, venha qualquer coisa...

- What is this ?
- For you João, disse ela. Something I knew you'd like. Something for you to remember and, maybe, something for a special occasion.
"Something", disse-me ela. Detesto receber prendas. Nunca sei como reagir perante a desilusão e as expectativas desfraldadas. Demoro-me a rasgar o papel do pequeno embrulho mal embrulhado, caseiro e manual, como eu gosto. Na minha cabeça, treino já um sorriso satisfeito. Mas não há sorrisos desfraldados nem desilusão disfarçada.
- I'm... speechless... This is... amazing! Although I imagine this was what you intended to, I don't quite know if you're aware of how much I've appreciated this... I don't know what to say... Thank you!
Ela eleva o queixo e sorri um sorriso de missão cumprida, imagino eu (que não consegui tirar os olhos do desembrulho), de peito inchado e satisfeito. Termino numa contente voz de orgulho.
- I will save it for a very special occasion.

...eu pelo menos pratico essa suspeita e, principalmente passado todo este tempo, agora, que revejo a minha prenda de pó, penso insistentemente nela e nas suas implicações. É que ao pegar nela, no fundo, apercebo-me que há muito que expirou o prazo de validade.




quinta-feira, 16 de junho de 2011

aparte parêntesiado




São indicadores de má gestão financeira, de sanidade emocional comprometida e saúde mental dúbia (mas principalmente a primeira) quando o total do preço do Häagen-Dazs representa metade da fatura das compras de ontem. A segunda e a terceira tem mais a ver com o fato de hoje, o referido produto, já não existir...



quarta-feira, 15 de junho de 2011

egoísmo precioso explicado:



Não se emprestam livros!
Passam por lugares, viajam, sabem muito (demasiado) e com eles partilhamos tudo: Dou-lhes o meu toque, sempre leve e meigo; não há um único que se possa queixar de não ser bem tratado; passeiam apenas quando lhes apetece; viajam sem pagar nada; não requerem qualquer esforço para a sua vivência; possuem uma reforma abonatória garantida; a sua figura está sempre no melhor dos tratos.
Emprestar um livro é perder parte de nós e, receber um livro emprestado, é envenenar a alma de um doce veneno que não compreendemos, maltratar a experiência que nos fez e esbanjar o secreto tempo que nos faz.
Note to self: que não se repita!



terça-feira, 14 de junho de 2011

já não estou aqui



O medo adulto não é, muitas das vezes, mais do que o cansaço num desconhecimento. E é isso que esta viagem é: medo. Medo e bom e saudade e, sobretudo, desconhecimento. É não dormir pelo desconforto de que sonho e sei, num sonho, como é a vida numa remota e desconhecida noturna estação. Não tive a sorte de ter escolhido o sol mas, se a escolha foi minha, não é correcto da minha parte chamar-lhe sorte. Digo antes que não tive a audácia (ou mesmo a coragem) de ter escolhido o sol. Escolhi antes a negra solidão e toda a sua falta de luz.
Há cantos que não ouso chegar perto só pelo cheiro infeto a mijo. Não é a pestilenta urina ácida acumulada nos cantos mais recônditos, é mesmo mijo. No olhar dos residentes deste local, vejo o mesmo cheiro corrompido e caducado em forma de olhos, que me atrevo a desafiar: Não mexe ao encontrar o meu. Bastou um relance, um olhar de um segundo num sentimento inquieto de observação terceira, para numa fração de troca de olhares, eu perder e ser dominado pelos olhos negros. Aqui só vivem estes olhares, em corredores estreitos, espalhados pelo chão que me fazem medir os meus mínimos de limpeza. Apesar de aparentemente invisíveis, de ninguém se importar que os olhos durmam no chão, nas escadas ou nos corredores à média ou quase nenhuma luz, todos passam sem tocar, quebrando o ritmo certo dos passos que ora atrasam para acertar o evitar, ora adiantam para dar um salto e retomar. À medida que as horas passam, o mesmo ritmo dos passos torna-se pouco espesso e, com esta nova densidade, o movimento desaparece. Jogamos agora o jogo da estática. Nas regras, todos temos que ser pobres e, nas peças, todos temos que ter álcool.
Podia ter escolhido o sol, escolhi isto mas, até para mim, isto, está neste momento a ser demais e, aquele aparentemente inóspito e degradante café, agora, parece-me o mais acolhedor dos hotéis.
É aqui que me vou manter escondido até as horas me acordarem de volta e me trouxerem, numa voz de lençóis lavados e pequeno almoço na cama, de volta ao tempo. Neste medo pelo desconhecido, refaço a seguinte métrica: O estado de civilização de um sítio, mede-se não pela resposta à pergunta (que se torna irrelevante) mas pelo simples fato de ser feita a pergunta: se morresse aqui, neste preciso instante, neste mesmo local... que aconteceria ao meu corpo?
Foi não saber responder a esta pergunta que me fez suar frio de medo e pensar: O medo adulto não é, muitas das vezes, mais do que o cansaço num desconhecimento.



segunda-feira, 13 de junho de 2011







PARTE 3


- EPÍLOGO -




*knock* *knock* ! Who's there?



Até hoje, em média, 526 pessoas visitaram este blog todos os meses. Destas, 335 foram únicas (não repetidas). 150 das visitas mensais, fizeram-no pela primeira vez e, no mesmo intervalo, 185 voltaram a visitá-lo.
Maio de 2009 e Maio de 2011 foram os meses com mais visitas imaginárias e Agosto de 2010 foi, de longe, o menos visto.
Foram escritos 344 posts em 121 semanas, ou seja, em média, desde o dia 10 de Fevereiro de 2009 até hoje, foram escritos 3 posts por semana.

No entanto, no total e até à data, foram feitos apenas 302 comentários, que apenas consigo explicar nas palavra de um grande amigo meu que, outrora e a título de opinião pessoal sobre este blog, me disse que a escrita solitária e anónima e muitas vezes demasiado pessoal que o caracteriza, não é mais do que uma outra forma de masturbação. Algo que, acrescento, ninguém tem por hábito comentar, seja do próprio, seja de outro...






FIM DE PARTE 2




terça-feira, 7 de junho de 2011

Planet of Women





The two headed ladies said I couldn't land my ship.
I said "it will only take a minute".

- well, she said
- what's in it ?
- oh, I don't know, just some weird shit
- OK.

when I got to the surface there were women everywhere
-Hey, how you're doing?
and all the men were slaves, they had us all dressed up in chains
-uh, look at that one!
and there was a queen.
she had her own... dressed up in black.
-come back here Sam!
Her name was, I Like It Like That, queen I Like It Like That.
And fell in love with the leader from the underground he said he'd set me free.
But when I fell asleep he stole the keys and slit the scene.
I guess I'll never learn. No I'll never learn.
Fags in drag no matter were i land,
I get burned, so burned

It's hard living on a planet of women.
Gonna walk to the river and throw myself in it.

-Bye Bye.





segunda-feira, 6 de junho de 2011

Por,


    por vezes, por uma, por sempre ou por todos os dias,
por até depois e um, dois... demasiadas ou de vez em quando...
      mas sempre por qualquer coisa.

Por um momento, por dois, por uma ou duas lembranças, por vários pensamentos,
por algumas imagens ou por outras poucas...
      mas sempre por qualquer coisa.

Pelo silêncio de momentos em cor, pela paz, pela lentidão profunda do ar que entra e pela mesma cadência de ar que sai, nas páginas brancas e num lápis, nas seguintes e numa caneta...
      mas sempre numa qualquer névoa que fica.

Pela chuva que já caiu e pelo sol que já aqueceu,
(principalmente o sol)
                                                 na terceira pessoa de pele
(sem dúvida a pele das peles)
                                                          ou na vontade do ser, no sermos nós e no não sermos,
      mas no sermos sempre qualquer coisa,
nos sonhos de agora e nos de outrora, na tentativa indolente de pensamentos, vem uma música que fica por entre os sons que se parecem esquecer e as imagens que não vão, na capacidade de recordar, de manter e  de não querer sequer perder por cima por uma qualquer e nostálgica qualquer coisa






de silêncio.



sábado, 4 de junho de 2011

(mera)quimera



existe neste regresso um voltar ao mesmo estado de desejo de partida. não o mesmo, que já mudou o tempo que nos muda a nós. que tenta. desta, por pouco, que o regresso é apenas para voltar novamente, e partir, e voltar, e partir... até um dia não querer voltar, e um outro1, (aqui) longe, não querer partir.
Cá (de longe) o tempo é mais curto, mais pouco e mais tudo. Aqui, parece não haver nadas de tempo nem tempos sem nada: não há trocas de palavras que se trocam, porque Longe2 (aqui), sou ar por entre as nuvens: uma (mera) brisa.
E é só mais um pouco, grita o tempo, no ar, sem tempo nem ar, ao vento e Longe (daqui).


1 A melhor maneira de lidar com os outros é tomá-los por aquilo que eles acham que são e deixá-los em paz.
2 Pastor do Monte, Tão Longe de Mim