sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Adeus

Hoje, há uma espécie de melancolia feliz neste dia. Um sentimento que me entristece a alma para o futuro. Contente porque partes, triste porque não ficas. Nem podes, que só tens a perder. Mas a verdade é que nem é por ti, é por aquilo que representas: É dos últimos!
Cá dentro, num fundo especial, esta espécie de mal estar, para mim sempre presente em cada mudança e que se calhar também tu deves sentir (nem que não seja quando lá chegares) não é mais do que a reflexão sobre a partida de todos. Porque não conseguimos deixar de fazer planos para o futuro, porque o fazemos especialmente antes de partimos ou apenas quando partimos, planos de, quem sabe... planos de vai ser assim, de ai jasus e quando nós... Planos ocos e sem expressão, porque contigo, com vocês, não faço planos para não me desiludir.
E no fim de tudo, no início fica só a saudade, para quem fica e para quem parte, seja para longe ou para perto. Ficam os desejos de cada, para o futuro do outro. Ficam os abraços e os sorrisos nostálgicos. Ficam os suspiros da partida em silêncio. Ficam os insultos sem malícia. Ficam os nomes e as alcunhas. Fica quem veio entretanto e fica quem partiu mas não era nosso. Fica a terra e cidade e, sobretudo, de tudo o que fica, de tudo isto, o que mais guardamos para todo o sempre, aquilo não fazemos planos nem desejamos, aquilo que sabemos ser certo no futuro, é aquilo que sabemos que verdadeiramente fica: As histórias.

Mas por enquanto, hoje, fico só eu.


Adeus por um, adeus por todos.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Manifesto inaudível do desejo infantil

Começo seco, num estado, embora erróneo, penoso e de aparentemente amargo com a vida. Não com a minha, entenda-se. Com a dos outros:
-Ando farto do mundo que me rodeia e com saudades daquilo que não vejo, pela esperança de que talvez isso seja diferente. Passei a refugiar os ouvidos no som do tempo em que não ouvia, porque estava a crescer, só para não me cansar daquilo que ouço. E, mesmo sendo mais deprimente aquilo que se ouvia nessa altura, é o que agora ouço que mais me atemoriza. Chego mesmo a ter medo do que ouço por pensar que estou sozinho e, se tenho medo, é porque penso que estou sozinho naquilo que ouço. Reflicto que não devia ter crescido sozinho, que devia ter tido mais amigos e absorvido o mal de todos, só para que tudo isto não me fizesse confusão mais tarde.


Continuo ameno e sonhador como sempre fui, talvez demasiado até, por constantemente vaguear quando não o devia. É o meu escape para o pensamento, consciente do bem e do mal que me acarreta:
-Se calhar por isto sinto uma nostalgia bruta de voltar a ser criança. De me deitar no chão do meu quarto e ver as montanhas na cama, enquanto falo com os supostos bonecos inanimados e lhes ordeno a vida. De aprender a ser rei e acumular cargos de general e astronauta sem nave, aqueles que voam lentamente desde o chão até ao espaço, mas à civil, de calças rasgadas da terra, sem capacetes nem fatos tontos nem 'ésses' no peito...
Tenho saudades de me entreter sozinho sem precisar de mais nada no mundo e não sentir falta senão de uma bola... Saudades do muro do jardim e dos primeiros insectos, de não ter medo de aranhas e, principalmente, saudades de ouvir gritar o meu nome de uma janela, para que voltasse a casa antes que o final de luz do resto de dia, me engolisse de cansaço.


Será isto uma crise de um terço de idade?
Tenho de me deixar de folhear a Alice (a do país das maravilhas), mentalizar-me de que o Principezinho é ficção e voltar à Divina Comédia.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sou mau, logo existo

Podem-nos educar como quiserem, ensinarem-nos as coisas do mundo e como tudo acontece. Podem-nos dizer o que há e o que não há, quem faz e quem não faz, que nada disso se sobrepõe ao sentimento do que vimos à nossa volta.
A única coisa que nos ensinam e preparam (ou tentam) é a reagir e a interpretar. Nem é a absorver, que isso não se ensina, aprende-se. E quando o ouvimos de uma entidade que consideramos superior, então, interiorizamo-lo como certo. Passa a ser essa a única verdade, aquela que possuímos porque foi a que nos disseram. E quem nos disse sabe tudo. 
Se, pela experiência, vamos aprendendo por nós próprios, também o vamos aprendendo pelos outros, os que se nos apresentam à nossa frente para, inconscientemente (para os dois), nos oferecerem a experiência. Sejam os passarinhos ou sejam o que for. E se só crescemos por nós próprios, então crescemos pelos outros.
Espera lá!
Afinal, se calhar, a culpa nem é nossa. É somente daquilo que se nos foi apresentando à nossa frente.


Eu acredito no contexto:
Cresço mau se me fazem mal. Se vejo o mal, se ouço que tudo é mau, também eu serei mau. Pior do que seria, é certo, mas mais forte, mais preparado e mais consciente do mundo. Daquele que é mau, pelo menos...
Mas se não o conheço, então cresço ingénuo e ignorante. Não sei é se acredito nisso, que é possível não o conhecer. Pelo menos por algum tempo, porque quem diz não o conhecer mente. A quem diz não o conhecer, não é permitido pelos outros que não o conheça, porque se não o conhece é porque está a mentir e se está a mentir, é porque já é mau. Como os outros.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

14 de Fevereiro

Uma vez, quando tinha 8 anos, cheguei a casa e disse à minha mãe - Quero um ramo de flores para oferecer à Catarina! A minha mãe, sempre disponível para financiar o amor, respondeu-me com um sorriso na cara e qualquer coisa como - E que flores é que a... Catarina gosta mais?
O resto não tinha eu bem pensado. Deixou-me à porta da escola com um grande ramo de flores (eu era pequeno, tudo era grande), um pátio cheio de miúdos para atravessar e dois andares para subir, sempre com aquilo na mão. Todo emperuado, de pequeno peito feito sempre a olhar em frente, alheio à maioria de olhares espantados e aos restantes trocistas, lá fui eu, de ramo na mão, mochila nas costas e bibe laranja vestido.
O resto é nevoeiro mental e, Catarina, se por ventura procurares o teu nome no Google e encontrares isto, relembra-me, mas penso que ficámos por aqui não foi? Tenho ideia que ainda me valeu um sorriso após espanto em cara vermelha e, posteriormente, sem querer difamar a imagem da Catarina, que nunca mais vi, um beijo.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Cupid mistake



   A retoma da economia começa este fim de semana, com o encontro mundial de ursinho de peluche, sapos, shreks, fionas, coisinhas fofas e outras quiduchices nauseantes.
   Para todos os que esperam por um erro do cupido, bom fim de semana.
   Aos restantes... bom fim de semana.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Bom dia. O que é que vai ser?



Tenho uma espécie de fascínio ligeiro por certas rotinas. Apesar de ter um pavor a rotinas no geral, para algumas em específico tenho um gosto particular.

Gosto de chegar a um sítio e que me digam "Oh! Como está? Já cá não vinha há muito tempo. Os miúdos?". Claro que também gosto de andar nu pela rua e ninguém olhar mim, por isso, aquilo que ainda gosto mais é de chegar a um balcão e partilhar um olhar cúmplice com o empregado. Fazer um sorriso e dizer simplesmente, "Bom dia. O costume, se faz favor.".
Alguém dir-me-ia neste momento, "pfff... menino.".
Será que é muito difícil, depois de ver alguém pela manhã de todos os dias da semana, durante uma série de semanas que perfazem meses, depois de ouvir algo como, "Bom dia. Uma sandes mista e uma meia de leite directa, se faz favor.", conseguir não perguntar, nesses mesmos todos os dias da semana de todas as semanas de uma série de meses, "Bom dia. O que é que vai ser?"?
Claro que vai ser a mesma coisa, sô dona Manuela!
O pior disto tudo é ter alguém atrás de nós que quando é atendido diz, "Bom dia. Costume se faz favor.".

Tento não desistir e avançar com o dia mas, até agora, ainda só consegui "rotinar" o lanche. E se há algo para que o futebol serve é para isto. Para fazer perguntas do género, "Então o que é se passou com o seu Porto?" e a partir daqui vem história de Portugal e o estado da nação.
Apesar de tudo, estou muito perto de conseguir o meu objectivo quando ao lanche, em que peço sempre duas torradas, o Gil já pergunta, "Duas torradas e um fino?".

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

1 ano de amigos imaginários

Faz hoje um ano que loucos somos nós. Do inglês, crazy-r-us. Eu e eles, digo, por isso, parabéns eles, Os Meus Amigos Imaginários.
Tudo começou um dia quando me levantei e alguém não se calava. Primeiro, uma voz que falava, opinava, aconselhava e desdenhava à velocidade de uma bata branca e um Largactil. Pouco depois, muitas e a falar ao mesmo tempo. Não levei muito a deixar de os procurar e menos ainda a perceber que interagiam à minha voz. Pior, viam o que eu via e ouviam o que eu pensava.
Desde o primeiro post que o objectivo foi eles falarem e eu escrever mas, entretanto, a escrita apurou e os gostos mudaram consoante a época interior, embora a loonicidade nem por isso.
Apercebo-me que um ano depois, encontro-me no mesmo sítio: parado em frente a um teclado ou de caneta na mão, cheio de vontade e ideias mas, ao mesmo tempo e novamente neste momento, com um bloqueio de pensamento para as partilhar.
Faz hoje um ano no passado, correu bem para o futuro, por isso aguardemos. Quem sabe se não será este o ano em que publicamos um livro, agora que existe a editora Alêtheia da Zita Seabra. Não façamos comparações, mas se o colosso Mário Crespo o faz, porque não o fazemos nós, portentoso ciclope de dois olhos?
Parabéns a nós.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Consciência das coisas

(...) É a maior tragédia, com que o destino pode castigar o homem. O desejo de ser outro, diferente daquilo que somos: não pode arder um desejo mais doloroso no coração

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Hoje muda tudo!


Para o bem ou para o mal, hoje muda tudo!
Hoje muda a liberdade, a disponibilidade é outra e tudo é diferente. Tudo é melhor porque se avança e tudo é pior porque se recua, e, no mesmo dia que tudo muda, é coincidentemente o dia em que o inferno fica um pouco mais cheio.
Hoje, dou um murro na mesa com a maior força que tenho, aleijo-me propositadamente e espero que fique marca para não esquecer. Desfiguro a pele da minha própria mão para que me apavore o olhar, parto-lhe os ossos para que a passe a fechar com dificuldade, para que, descontroladamente, passe a tremer de aviso, informando-me. Deformo-a para que me doa, para que me aterrorize de feia e tatuo-lhe a lembrança, para me recorde do dia em que transbordei o inferno.
Ouviste? Não? Hoje, dei um murro na mesa com toda a força que tenho mas nada se ouviu. Eu senti. A mão não mexe, mas o silêncio passou despercebido. Foi só mais um murro na mesa... foi apenas mais um... mas este nunca me tinha doído assim... e continua...