terça-feira, 31 de agosto de 2010

The view from the top



"They take pictures of mountain climbers at the top of the mountain. They’re smiling. Ecstatic. Triumphant. They don’t take pictures along the way. Cause who wants to remember the rest of it? We push ourselves because we have to. Not because we like it. The relentless climb. The pain and anguish of taking it to the next level. Nobody takes pictures of that. Nobody wants to remember. We just want to remember the view from the top. The breathtaking moment at the edge of the world. That’s what keeps us climbing. And it’s worth the pain. That’s the crazy part. It’s worth anything."

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O momento dos momentos não é o momento.


O momento dos momentos não é o carinho desmedido que se troca,
não é o gosto da descoberta da pele pelo toque,
não é o extravagante sabor do sentir dos húmidos lábios comidos pelos dedos,
não é o conhecimento do gosto pela língua.


O momento dos momentos não é o sentir dos cabelos molhados pelo momento,
não é o admirável revelar do corpo pelo momento,
não é o deleite do descer do corpo pelo momento,
não é o prazer do momento pelo momento.


O momento dos momentos não é o êxtase do momento,
não é um gemido que se solta,
não é uma palavra que se confessa,
não é um momento.


O momento dos momentos não é um momento,
não é nada: é tudo!
O momento dos momentos antecipa o momento dos momentos:
abraçamo-nos e dormimos.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

No dia seguinte voltou:



- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Encontramo-nos na bandeira azul


Escrevo os momentos que guardo para inevitavelmente esquecer. Não controlo o tempo em mim: o do esquecimento do pormenor e do sabor, o tempo da memória que sai, dos momentos que se perdem pelo tempo: por isso escrevo. Escrevo para não me esquecer daquilo que tenho medo de não me lembrar mais: de mim.
-Encontramo-nos na bandeira azul...
Ele chegou primeiro. A minha ansiedade de não saber: o medo de tudo sem pensar em nada: a ansiedade do esperar. O diferente repetir, a agitação: a cada passo mais passos. Escondida, procurei-o com o olhar, quis ser eu a encontrá-lo primeiro, a chegar sorrateiramente e me plantar: Na sombra da bandeira azul: O resto do teu cabelo que te mostrava todo, que te denunciava. O tempo que não passa: o caminho até ti que não acaba: Tu que não chegas. Camuflada pelas sombras, tentando-me esconder de ti, escondida até ti na multidão que desaparecia, para ficar: No instante que te descobri na sombra: Só tu. A ansiedade: a agitação. Seca-me a boca, aperta-me o estômago, falta-me o ar: Faltam-me as forças e planto-me.
Silêncio: Fixam-se olhares: Tudo cai: Deixa-se tudo voar e cair: O mundo desaparece, ficamos nós e um abraço de muito tempo. Um abraço de cair o sol, levantar a lua, cair a lua, levantar o sol: e ainda o mesmo abraço. As minhas mãos na tua cara: Deixa-me olhar para ti, não te largo, não te deixo, deixa-me olhar para ti. As tuas mãos na minha cara: Olha para mim, não me largues, não me deixes, olha para mim: Uma lágrima de saudade com muito mais do que uma saudade. Uma lágrima presa no tempo, cansada de esperar: Um beijo num abraço dentro de um beijo fora de um olhar fixo num lugar sem ninguém: Nós: O mundo deserto: A bandeira azul nas nossas cabeças à sua sombra: O melhor momento e as nossas mãos dadas:
-Anda...

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

somos o esquecimento que seremos

Dizem que somos parecidos, parecendo-nos em aspecto e feitio. Dizem que foi de ti que herdei as artes, por muito modestas que ainda sejam, e dizem que foi o teu génio que se prolongou por mim.
Digam o que disserem, eu digo que vou herdar de ti as dores de ossos. Digo que vou envelhecer de dores e queixar-me à minha M.A., se tiver a tua sorte de a encontrar. Se conseguir viver em casa própria, também vou enxotar as crianças que se atreverem a jogar ás escondidas no meu quintal, vou ser tanto avô babado como homem impaciente. Continuando-te, vou continuar a não deixar que me mexam nas minhas coisas mas fazer muitas mais do que as que terei, para que as possa dar e mostrar a quem gosto. Vou espalhar sorrisos e boa disposição aos outros, só porque me está nos genes que me passaste.
Digam o que disserem, parecidos ou não, porque a história se repete e eu não acredito no destino, mas acredito na impossibilidade de fugirmos à nossa herança genética, se a minha história for a tua, com ou sem dores nos ossos, agrada-me! Agrada-me muito. Mas olha, se me encontrar a um eu, como tu a mim, não me deixarei ir tão cedo. Não deixarei que esse eu, como tu a mim, cá fique sem saber mais e não tenha o tempo que não tiveste para mais lhe ensinar. E se nada tiver para lhe ensinar, se por feitio não quiser ou não me apetecer, então, falo-ei ouvir as histórias dos anos de uma vida, para que as possa recordar e contar com orgulho. Se vier verdadeiramente a aprender a pintar, se vier a conseguir escrever, se me apurar, ensinar-lhe-ei.
Hoje, faz 13 anos que partiste.