segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sou quem quiserem mas serei quem eu quiser





Não existimos pelo que somos mas pelo que nos fazem.
Cá dentro, não somos nada sem os outros e por isso, somos o que dizem.
Não somos o que dizemos, somos o que ouvem de nós.
Deixamos que sejamos os outros, somos a interpretação dos outros pelos outros.
Não somos o que escrevemos, somos o que lêem de nós.
E eu, sou quem me dizem ser, enquanto me importar ser quem os outros dizem.
Sou-o, até me importar ser o que os outros dizem eu ser, para então ser eu, por mim.
E tu, és quem te dizem seres, até te importares seres quem os outros dizem.
Até te importares que sejas o que os outros dizem seres, para seres tu, por ti.
Eu, sou o que me lêem, o que me imaginam, o que me escrevem e o que me dizem que sou.
Mas sou-o, porque me importam os outros... sou-o, só porque o dizem.
E volto a sê-lo só mais desta vez:


Obrigado a ti... que me leste





terça-feira, 9 de novembro de 2010

bicho... da conta.




Volto a mim, ao que sempre fui, para partir, assim, em mim. Fecho-me ao mundo que não me merece, a mim, ao meu. Alda da razão, do saber pelo não chegar, do desgosto pelo não querer, pelo sorriso solitário e a ausência do físico. A minha cabeça é o meu querer, a minha vontade é o meu ser, a minha palavra mostra a ignorância dos outros pelo não saber: estúpida! Estúpida palavra que não sabe, nunca soube, não vai sequer saber nem viver.
Bichos! Bichos do mar que me afogam, bichos da conta que me enrolam, me fecham, me fazem querer estar só, como eles, de patas com patas e cinzento nas costas, na vida. Riscas dorsais que me ferem, chagas que marcam a nascença de um bicho da conta. Vou. Venho. Chego. Parto e parto e torno a partir. Despeço-me à vida e ao mundo, à unicidade, às palavras, deixo as palavras e guardo o silêncio: Eu sou silêncio, eu sou O silêncio, eu sou o tudo do nada que não já não é meu. Eu sou o nada que tive tudo, por isso parto. Não por isso, mas parto, rumo ao tudo, sem nada, em mim, ao meu.
Hoje sou teu. Por um dia sou teu, por um momento sou teu, quieto, ausente, em mim, em conta com a conta do bicho da conta que vive no mar e me afoga pela vista. Ontem fui teu. Por um dia fui teu, por um momento fui teu, quieto, ausente, à espera, em mim. Amanhã... amanhã, minha cara Babilónia, amanhã sou meu! e nem num cabelo me tocas!



domingo, 7 de novembro de 2010

ultima noite



naquela noite, havia qualquer coisa de diferente. O silêncio, naquela noite, parecia impor-se cruelmente: não havia presença. naquela noite, a vontade ficava com as mãos: nos bolsos. A beleza era muda eu era mudo a noite era muda, naquela noite, o toque era surdo. Não havia fome naquela noite. A música era quase perfeita porque era só, porque era só e era só música e eram lágrimas daquelas noites. Os regressos, naquela noite, pesavam tanto que demoravam mais. Os Bichos, mais bichos nessa noite, pressentiam aquela noite, rossavam-se num lamento daquela noite: sentiam.
naquela noite, os beijos não eram beijos: toques de lábios amorfos. não sentidos.
naquela noite o toque da pele não sentido: escondido e fugidio. tímido.
naquela noite, o carinho tão tímido que se tapava a si próprio de vergonha daquela noite. 
A vergonha da solidão daquela noite.
naquela noite, esperou-se, esperou-se, tornou-se a esperar uma última vez, olhou-se, olhou-se, tornou-se a olhar mais uma última vez, esperou-se e olhou-se e nada. naquela noite, havia qualquer coisa de diferente mas que há muito era igual.
Naquele Dia, fui-me embora.



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

(sem título)




Nesta vida, a única que nos deram e teremos, apenas uma coisa custa: Viver.
Com ela, com esta acção impiedosa que não dá tréguas a quem a renega, o mau sabor, a dor, é em admitir que vamos perder. Em nos conformarmos que não seremos os primeiros, em admitir a custo que não somos a maior inteligência e saber.



quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Então e o nosso Benfica?



Há todo um questionar da escrita pela qualidade das letras. Há livros ditos bons e ditos maus. Textos pessoalmente zinhos e pedaços de genialidade em palavras. Depois, há um fenómeno que não consigo bem explicar: o intercâmbio social pelos jornais desportivos.
É sabido que se há assunto em que todos podemos opinar, e até devemos, é o Benfica. Foi inclusive eleito esta semana, finalmente, como o melhor desbloqueador de conversa/quebra de momento embaraçoso, a frase, "então e o nosso Benfica?", mas a possibilidade de iniciar um qualquer contacto através de um jornal desportivo é simplesmente fascinante e digo-o sem qualquer tentativa sarcástica ou pretensão intelectual.
- Bom dia. O Sr. desculpe... importa-se que dê uma leitura?
E daqui podemos falar do braga, de Braga, do orçamento de estado sintetizado num parágrafo entre a análise do próximo clássico e reportagem sobre a nova namorada do Ronaldo, ou de todo o país resumido numa palavra, do Benfica.
A mim é que nunca ninguém me pediu o meu Peixoto.



quarta-feira, 3 de novembro de 2010

a chave da babilónia





O desejo de chegar e tirar aquela gravata que o sufocava crescia. Com ela, a vontade de fumar um cigarro e tornar a respirar a casa. Enquanto caminhava, a chuva caia-lhe sem saber ou, simplesmente, por não se importar. Era quarta-feira.
Ela chegava sempre ás sete e meia e, naquele dia, tudo se mantinha como sempre. Ele tinha-lhe dado as chaves do apartamento, inicialmente, sob uma qualquer desculpa sobre segurança ou de possível necessidade prática futura, mas ambos sabiam o verdadeiro significado daquela chave. Ambos sentiam o peso que ela acarretava.
Estava a acabar o seu primeiro cigarro, debruçado na janela sobre o trânsito, quando ela tocou. Ela tocava sempre.
No final, pela primeira vez, ele pediu-lhe que ficasse, e ela, pela primeira vez não quis ficar.
-Deixo as chaves ao pé da comida do gato. E saiu.
No dia seguinte, ás sete e meia, ninguém tocou... tocou ás oito.