segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Toque. . . .



Ao primeiro toque desperto:
Apuro-me atento a tudo, vidrado no que vejo, arritmando ao sentir o calor alheio e transpiro mais do que pensava poder. Inalo cada suspiro para torna-los meus...
Ao segundo toque relaxo:
Deixo-me ir ao sabor da pele, arrepio-me no escuro até ser luz, expiro o tremer, contorço-me a menos que lentamente e retribuo o toque brincando com a recente descoberta da derme e dos sentidos...
Ao terceiro toque expludo:
Assinto ao prazer e saio involuntariamente da minha pessoa observando-me, atentamente, atónico de ciúmes e inveja de mim para, embora inerte à provocação que me incito, começar a compreender que não sou apenas eu que me desafio. Volto a mim com a mesma lentidão que me vejo contorcer...
Ao quarto toque adormeço:
Sonho o vazio e o Feliz até à primeira luz ténue e acordo com um toque familiar, mas um outro, diferente, mais suave e mais prestável, igual aos outros mas num só. Atemorizo o pensamento com o porvir e entrego-me calmamente, oferecendo-me em reverência numa harmoniosa vénia.
Antes de qualquer outra investida se concretizar, no limiar de mais um toque iminente, no instante imediatamente anterior a ser concretizado, não mensurável de tão ínfimo, desfaço-me... derreto-me em suor e, sereno, deixo-me deslizar para o mar, sorrindo: sou finalmente eu!

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

TCHUUU!, (*sniff*) tchu...

Não fosse o barulho e a sujidade em geral, gostaríamos de viver numa estação de comboios. E não foi preciso muito tempo para nos esquecermos da magia que uma estação de comboios possui:
Os jovens casais,
alheios a tudo e a todos, aparentemente, loucamente apaixonados, pelos cantos em despedidas que aos olhos de estranhos será eterna, como se aquele breve momento fosse o último que iriam passar juntos, como se o mundo acabasse no instante seguinte à sua separação e fosse essa paixão louca e emotiva que quisessem guardar para cada um, sem discussões e ciúmes, apenas pura e irracional paixão, eterna e duradoura;
As pessoas sós e inertes, mal vestidas, sem qualquer preocupação em combinar cores com sapatos e acessórios mas, que só de olhar, parecem ter uma agenda muito mais preenchida e misteriosa que na verdade, julgamos, terem;
Os engravatados, supostos executivos, com as suas pequenas malas de negócio ou pequenos laptops que, para nós, são todos presidentes do conselho de administração de uma grande empresa;
Os já não tão jovens casais, envoltos em afectos discretos, mas nem por isso menos sentidos, de notória experiência por não precisarem de se olhar eternamente nos olhos com medo de se esquecerem um do outro,
absortos ao que os rodeia, mas apenas desfrutando mais uma despedida ou, na melhor das hipóteses conjecturadas, o fim ou o início de mais uma viagem em conjunto;
Os pequenos grupos estrangeiros que, estando de passagem ou de visita, de aspecto invejavelmente cansado e suas mochilas nómadas, arranjam um qualquer recanto para descansar e conviver, involuntariamente alheios aos que os rodeiam, despreocupados com o mundo, e por isso, com uma tranquilidade genuína, na companhia de uma garrafa amiga.

Uma história em cada canto, que primeiro se cruzam, entrelaçadas e confundidas, para depois desaparecerem, por breves momentos, em breves momentos, com a chegada de mais um conjunto de vagões. E todos entram, levando consigo a magia que desaparece da estação, mas que também não parte na viagem, deixando para trás quem diz adeus... e os chapéus.
Até ao próximo reencontro.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Crocodile Dundee usava um JAB-A-ROO

É fácil apegarmo-nos por hábito. Diríamos (se nos fosse permitido, por isso não dizemos) que é quase natural ser-se cego ao ponto de se habituar por hábito. De ter, porque é seguro, e o que é seguro não se estraga. O que se estraga, não se suja e, finalmente, o que não se suja é uma seca! (ou um saco, dependendo da voz).
Estamos a falar de quê? Daquilo que quiserem ou encaixarem, mas podemos dizer que nos lembrámos de tal, por causa das colecções. As colecções que existem e que também nós fazíamos.
Mas acabaram-se as colecções!
Acabaram-se os objectos sem história guardados no habitual sítio especial e seguro para não sujar. Agora coleccionamos textos. Só e apenas e, mesmo esses, já estão tão sujos de más interpretações que já não são nossos… nem sabemos de quem sejam. Nem queremos saber. O que gostávamos de saber é para que servem as colecções. É que apesar de já as termos feito não fazemos a mais pequena ideia de que para que raio servem.
A mais recente colecção a ir à vida foi a de chapéus. Bem… se calhar não foi à vida, simplesmente já não é colecção.
Escolhemos por unanimidade ébria que para o sol o chapéu ideal é um caça kangaros e em duas horas o caça-kangaro-dundee teve mais histórias para contar que os 10 anos que esteve guardado de forma preciosa, cuidada e estúpida no habitual e seguro ex-sítio especial para colecções.

Caldo verde ao pequeno almoço? Só com um JAB-A-ROO na cabeça…

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pessoas ao metro S.A

Com a ajuda um amigo montámos uma empresa-de-Agosto. Uma pequena unidade fabril móvel de Verão para satisfazer a maior das vontades pessoais de cada um nesta silly season. E se a estação se chama silly, o melhor é o sermos parvos para a descrever.
Verão... calor... hormonas aos saltos por uma qualquer razão que desconhecemos e que nada tem a ver com o sol ou os corpos semi-nus, porque em Julho e com a roupa toda já se ouve a loucura das mensagens, os convites para café, os olhares descarados que nunca pretenderam disfarçar a indiscrição, o o que é que tens vestido ou mesmo um queres casar comigo (mais frequente a 31 de Julho), são os requisitos necessários para a instalação unisexo imaginada. Uma manta de retalhos humano trazida a público por, Pessoas ao metro S.A..
Quem nunca comentou fervorosamente enquanto mordia o lábio inferior sobre alguém do sexo oposto, fazendo tamanha louca descrição do escalpe à planta gretada e desidratada do sol sem nunca no fim, sejamos honestos com alguma desilusão, reformular ou deitar por terra todo este pensamento com um, “só é pena é...”.
Srªs e Srs, de preferência meninos e meninas, temos a solução ideal para vós! Ainda está em fase de projecto, é certo, mas poderão a partir de Julho 2010 encomendar a vossa companhia da próxima silly season. O vosso monstro pessoal. Um Frankenstein por medida. Um toys-r-us em formato de gente e comprado ás peças no Aki. Helen Svedin meats Virginia Woolf com uma pitada de Ellen DeGeneres (mas hetero) ou George Cloney meats Leo Tolstoy com uma pitada de Jerry Seinfeld – só para não me chamarem sexista.
E isto tudo pode ser conseguido através de exemplos como este, sendo que não é possível repetir combinações nem fazer pedidos de pessoas já falecidas (Virginia Woolf e Leo Tolstoy acabaram de deixar de ser belos e com piada). É mesmo possível pedir algo como – Faz favor, eu queria juntar o braço direito da D. Zulmira do talho com a cabecinha da senhora minha mãe no corpo da minha empregada doméstica Ucraniana e a boa disposição da senhora da peixaria do Pingo Doce. Por isto, existirá um multi-personal-eco-point (mais chique em inglês) preparado para satisfazer todo um conjunto de clientes mais indecisos e que podem, mais do que escolher por catálogo, visualizar e ouvir simulações reais e ao vivo do conjunto final composto por partes subselentes, que nem por isso são sinónimo de menos qualidade.
Silly season? Silly me...

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Terror

O meu maior medo é mergulhar sorrateiramente, de olhos fechados, e bater fortemente com a cabeça numa canela airosa. É perder as imagens das quais não há fotografias possíveis ou máquinas capazes de captar. É esquecer o olho felino e os seus diferentes rostos no singular. É não conseguir recordar mais o sabor e o toque, não reconhecer o cheiro de olhos fechados e não me vir à memória como se dança com o pulso e as mãos e os dedos ao som do nada. É não lembrar que a brisa também fala, embora baixinho mas atrevida quando precisa de intervir, dando sinal de que a sua vigília é constante e não tolera abusos nos seus domínios.
Mata-me o coração pensar que uma pancada na cabeça me passe a dizer que não existem criaturas escondidas nas areias tintas. Corta-me o ar o mero pensamento de poder não saber mais, os 57 minutos de diferentes tonalidades de vermelho e laranja e azul com que o céu morre. Cega-me a mera possibilidade de esquecer a incandescência decadente do, outrora meu, populado negro privado. Atordoa-me correr o risco de não ouvir mais o silêncio de tudo o que ouvi para que não sinta mais o barulho do nada.

O meu medo de perder e esquecer, para não conseguir recordar ou reconhecer o lembrar, Mata-me! Corta-me! Cega-me! e Atordoa-me!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Não é? Não sei!

-Um brinde!?

- Ao roncar estridente de um rio!
- Ao forçar das partidas e às chegadas a tempo, ao sorriso fácil, às ilhas e aos faróis e aos pequenos almoços imperiais!
- À orquestra filarmónica da Bolanacabeça e ao Olhão para o teatro!
- Às cenouras de todos os dias, às sombras dos ventos em todas as brisas, ao mar de noite e à areia tinta e aos novos velhos, mas sobretudo aos velhos novos!
- Às noites boa-não-está?, às noites ótima-não-está? e às noites fantástica-não-está?!
- Aos brindes a nada de especial com tudo, que tudo é especial, às grutas, às rochas e às algas, ao nascer e ao pôr no mesmo dia, aos silêncios confortáveis e cómodos, aos pic-nics de aviário no monte de uma chaminé, às falésias de tons vermelhos aleatórios e à ponta do altar!
- Aos suspiros...
- Aos tios!Aos avançados, às desluadas noites mágicas de festas e ao infindável fim, aos sorrisos sem explicação, às férias do tempo sem tempo e às minhas...
- Às nossas!!

Tchim-Tchim

sábado, 1 de agosto de 2009

‘Sunshineless’ of the spoted minded



Tenho uma mente com pinta. Muitas pintas. Demasiadas! Pintas que riem e suspiram e me matam quando mudam de côr. Pintas e mais pintas incolores, agradáveis ao toque e impossíveis de tocar por simplesmente serem proibidas. Pintas que só por existirem doem em cima e apertam a meio.
E que fazes tu?
Porque me atormentas tu imaginária com tua meia presença. Porque esqueces o que te digo e fazes de mim uma pinta com pinta para te tornares tu, não numa pinta, mas num borrão. Uma única pinta, enorme, sem forma ou volume mas que ocupa mais espaço do que devia. Digam-me que faz ela! Digam-me!!
E que faço eu?
Porque me angustío eu com tamanha falta de pinta na minha cabeça. Por tanto desejar não ter pintas, começo a guardar em mim o crescimento da angústia de uma derrota que não suporta mais o pesar das horas ébrias em mim. Digam-me o que faço eu! Digam-me!!
Apaguem-me as pintas! Queimem-me! Deitem água no borrão e esfreguem com força! Eliminem-me tudo o que tenho pintado e pintalgado enquanto o gigante aninhado e meio encolhido a dois metros de mim, dorme.
É aproveitar dizem! É agora que está só e indefeso, distraído e em sonhos perdido. É agora! É agora que te deixo, monstro! E subitamente o monstro suspira.
Abre um olho sem nada dizer, pois nada precisa de dizer, e eu pergunto - Tens frio? Calor? Tapo-o, aconchego-o e olho-o com uma ternura desmesurada para a minha métrica, enquanto o monstro re-adormece... e reinicío.
É agora monstro! Agora é que não escapas à morte! É agora que ponho fim à tua vida, à minha, ás tuas pintas e às minhas para escrever, em mim, cá dentro, em cima ou no meio, “Proibido pintar!”.
É agora! É agora que ganho coragem, inspiro fundo e prelongado para dar ar ao interior, ao coração palpitante desejoso de qualquer resto de oxigénio que lhe possa disponibilizar e aos encarquilhados pulmões ainda tingidos de tinto para baixinho, quase sem ar a passar na minha pequena faringe seca, fechada, encolhida e sem espaço para ar, quanto mais para palavras, e com uma voz apenas compreendida por ouvidos estacionários em silêncio à horas, sussurrar: m o n s t r i n h o. . .  v a m o s  d o r m i r ?