segunda-feira, 31 de maio de 2010

Silêncio



- O apreciar do silêncio não é para todos. Requer uma sensibilidade e calma própria para o saber apreciar.
- Ah pois não... Eu quando está muito barulho não consigo fazer nada. O ruído incomoda-me.
- Eu gosto de substituir o silêncio por música.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bernardo Soares um dia disse:

"Considero a vida uma estalagem onde tenho que me demorar até que chegue a diligência do
abismo. Não sei onde me levará, porque não sei nada. Poderia considerar esta estalagem uma
prisão, porque estou compelido a aguardar nela; poderia considerá-la um lugar de sociáveis,
porque aqui me encontro com outros. Não sou, porém, nem impaciente nem comum. Deixo ao
que são os que se fecham no quarto, deitados moles na cama onde esperam sem sono; deixo ao
que fazem os que conversam nas salas, de onde as músicas e as vozes chegam cómodas até
mim. Sento-me à porta e embebo meus olhos e ouvidos nas cores e nos sons da paisagem, e
canto lento, para mim só, vagos cantos que componho enquanto espero.
Para todos nós descerá a noite e chegará a diligência. Gozo a brisa que me dão e a alma que
me deram para gozá-la, e não interrogo mais nem procuro. Se o que deixar escrito no livro
dos viajantes puder, relido um dia por outros, entretê-los também na passagem, será bem. Se
não o lerem, nem se entretiverem, será bem também."

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O país - patrocinado por CP


- Ganham não sei quanto mais do que o presidente da república... mas isso faz algum sentido? É o maior é o maior, toda a gente sabe disso... O Salazar é que era bom... um homem bom. Com a PIDE eu não concordo, agora com Salazar... Nós agora não vemos nada cá... não temos subsídios para nada
- Antigamente trocavam milho por azeite
- Nós agora não podemos produzir nada... eu só gostava de ver, cancelavam só durante um mês o que vem de fora... morríamos de fome! Por isso é que gostava daquele homem.
- Façam greve! Faz-se greve por tudo... se faz chuva, se faz sol se cai granizo...
- Mas não são os que trabalham que fazem greve... São os da função pública!
- Não são os da serra e do campo não!
- Roubam no banco, fazem o que querem, vão presos e não os obrigam a pôr o dinheiro.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Valor

- Agora que ando sozinho, penso em tanta coisa... Sonho com ela todas as noites. Ela dizia que eu tinha tudo o que ela queria para ela. Até no hospital, ela olhava para mim e sabia o que eu estava a pensar. Uma mulher daquelas não era para ir embora. Por isso, ando a pensar em tudo isto... se há céu... no outro mundo...
- ...no inferno.
- O inferno é onde andamos todos. Eu não dava grande valor, pensava que as outras senhoras eram assim e um dia ela disse-me, quando te faltar é que vais sentir a minha falta. E ela já cá não está e agora eu vejo que tinha razão... Mas porque é que não fui eu!? Safava-se melhor ela cá do que eu.
Ela conhecia-me, não tinha ciúmes. Mesmo no meio de mulheres ela conhecia-me, sabia como eu era. Foi em Dezembro de 99. Ao início não acreditava que ela tinha ido, agora, que sonho sabendo que ela partiu, ela diz-me, "não fui nada".

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Vendo-me!

Alterei o negativo prévio pelo acrescento, e este, aviso, é mais um enigma para a não compreensão. Ficam as palavras do indecifrável, apenas sem solução se se não se perceber que a chave serve em todas. Ficam as letras manchadas da discórdia e da insónia, fica a data marcada da decisão, fica tudo apontado na dupla raiva da não compreensão, fico eu a um canto e o ponto de interrogação num outro. Deixou de importar a importância e a dimensão, que a pequena vírgula, tudo pode contra mim, e a quente, como não se deve, de dentes cerrados, como não é suposto, sem uma qualquer calma que deveria... que deveríamos, mas não temos, mas que eu reconheço e não quero, deixando mais uma acha nesta fogueira. Desta vez que arda toda e de uma vez e até ao fim! Que acabem as letras e os pontos e as vírgulas e os acentos em todas as direcções, os sinónimos em demasia e as dúvidas absurdas. Que acabem, não pela não leitura mas pela não escrita. Pese-se a importância das coisas e o futuro, decida-se entre o prazer “desinchador” da folha de papel e o querer suado, descompassado do sorriso sério e da felicidade aos dias certos, que embora não haja escolha nem seja necessário escolher entre as letras, que são as minhas amantes, e a serenidade da calma e de um fogo lento e baixo, se a houvesse, não hesitava por um instante!
Não se apagam fogos com letras e quando penso em acalmar uma qualquer chama com palavras, já começo a ver um futuro texto de fumo preto. Sou assim, desprovido de qualidades que me encham o âmago, encho-o antes pelos outros, por ti, e sou-o insatisfeito e sem visão aprazível do meu eu, pequeno e reduzido à minha insignificância, como antes me ordenavam os meus pais. Sou-o, escondo-o e faço disso o meu escudo sem que isso me incomode admiti-lo. Afinal, este é só mais um enigma incompreensível pelas palavras do indecifrável. Incomoda-me apenas que o descubram a sério, que o vejam e decidam por sua culpa e influência e não por mim.
Por isso, hoje ofereço-me de forma quase gratuita: Sou do melhor sorriso, do primeiro obrigado e do faz favor de passar.
Bom dia... e sou teu…
Boa noite... e para a vida...
Como correu o dia... e peço-te em casamento…
Estás bem?... e passo-te a roupa…
Estava óptimo... e lavo-te a louça…
Adorei!... e não tens que te preocupar com mais nada…
Desculpa... e dou-te o mundo a teus pés…
Obrigada... e eu a teus pés…
És mesmo assim… e deixo de ser homem, deixo de ser forte, deixo de ser tudo, faço-me nada, volátil, estonteio sem saber que fazer, coro, derreto-me até ao chão que pisas, tapo a cara para que não me vejas frágil, mas deixo a boca de fora para que me vejas alegre e a sorrir, pois caí numa poça de choro de felicidade.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A semana dos três F

Esta foi a semana do volta ao passado do antigo regime, retornado para nos salvar da crise. Em pensamento pelo menos, que o azar do "maior português de sempre", sua ‘eminência’, Doutor António de Oliveira Salazar, foi, entre muitas outras coisas, a não existência de agências de rating... Esta foi a semana dos mais puros e verdadeiros valores portugueses de outrora, simbolizados novamente pelos "três F": Fado, Futebol e Fátima.
A um mês da candidatura de Fado como património cultural imaterial da Unesco, esta semana temos novamente o “destino” na voz. Todos cantamos a crise ao som melancólico e dolente de um fado sem solução. E se Fado era Amália, hoje, Fado é muito mais do que uma pessoa, mas se o quisermos, a Mariza será, apesar de uma sombra, a mais Amália dos nossos dias.
No futebol, o Benfica era o Benfica e, esta semana e este ano, continua o Benfica.
Fátima está no mesmo sítio, mais rica e opulenta, menos modesta que já não há monte nem pastores e, esta semana, a nossa senhora é sua santidade.


Viva o Benfica!
Viva o Papa!
Viva… a Amália (que deus a tenha) e a Mariza (que deus a deixa cá estar)
Viva Portugal!


Não, não, não! Calma!
Esta não foi a semana dos três F, foi a semana dos três J!
Joseph (Ratzinger), Jorge Jesus e José (Castro)

quinta-feira, 13 de maio de 2010

13-de-Maio.pt = Dolce far niente

-Oh Maria, tá a dar aquele senhor de branco e sapatos vermelhos na TB!
-Oh pá muda essa porcaria para a praça da alegria!
-Também tá a dar o senhor!
-Então muda para o outro da companhia!
-Também tá na mesma!
-Nem o Goucha!?
-Nada!
-Oh, desliga mas é essa porcaria
-Olha lá… porque é que nós não fomos trabalhar hoje?


Com toda a presunção, injustiça social e snobeira a que tenho direito,
13-de-Maio.pt = Dolce far niente!


PS: Oh senhor Vitor, o senhor não é funcionário público... Será que não podia ter aberto hoje? E o meu café?

terça-feira, 11 de maio de 2010

The hearts wants, what the heart wants

It’s a dream of a life a time. A feeling of an age, timeless and unforeseen. The wish of the small and the wish of the brave. It’s the one truth in all the lies. The thing that makes us fall and the same thing that makes us rise. It’s a single idea with no explanation. A distinct thought we run to and from by delight and by fear. Just has if it doesn’t exist, we deny it and for the same unsinkable reason, we embrace it. We drank it and we befuddle ourselves till we fall with hideous smile of happiness. It’s you… It’s me… It’s us in a speck of dust, in the air, in the trees, in our sand and in our water. It’s the world on the strings of the puppeteer of fate, the one that doesn’t exist but we all believe in. And for some strange reason, for a mere thought of greatness, a hope of unbearable love, a give in to all with the reciprocity of the unexplained, we think, we see, we touch and we close our eyes to the unusual. Not to not see it, but to perfect it by the darkness of the shutted eyes of imagination. And still, the image doesn’t go away. The fertile imagination doesn’t perfect it and we are delightful stuck with the meaning of beauty. We embrace its cold, its flaws, its temper and suddenly, we can no longer run from it all. It’s as if they were right all along, as if I don’t have the power of refusal or the will of choice. He has spoken what he wants and there is nothing that can be done but to suffer in the hands of the handless muscle that drives men to insanity. In the end, “the hearts wants, what the heart wants”.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Chove cá dentro

És tu que me contas o que já sei,
no teu repetido compasso
da sinfonia da gota e me revela
o que sinto mas não sei.
Ora lenta...
ora meiga...
ora tu, mas sempre compassada.
Há uma pureza na água dos céus
e no seu ressoar
que só eu e ela entendemos.
Um pouco como a irritação profunda
que partilhamos na insónia solitária,
por ser solitária.


Deixemos de lado a tranquilidade
do não saber e do saber,
a calma do respirar ao meu ouvido
e fiquemos só os dois.
Fiquemos contigo,
lenta...
meiga..
compassada,
enquanto me adormeces,
gota a gota.
Cada vez mais espaçada...
Longe...
Uma...
Outra..


E é então que a chuva pára
e com ela,
o respirar no meu ouvido.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Post 200...

E com tamanha rapidez, aparecem 200 textozinhos.
Sem interessar se era interpretado ou 'desinterpretado', motivado ou 'desinspirado', foram aparecendo 200 posts a escrever asneiras, divagações, parvoíces, suspiros e desabafos, que para grande admiração nossa, mas extremo agrado, ainda há quem leia.
Contradizendo-me, relembro os primeiros textos, as primeiras ideias e o porquê de fazer algo que não era meu: escrever para além de mim, para mostrar aos outros. E aquilo que era suposto ser o que um dia um 'cãoraivoso' ladrou de masturbação literária, tornou-se simplesmente um peep show de borla. Mudou-se o conceito de, ninguém tem nada a ver com nada, para, ora leiam lá isto!
E de repente, o telefone toca, "you've got mail", "adorei aquilo que escreveste" e, por tudo isto, corrompo o que dizia. Ou antes, altero-me e mostro. Mas altero-me demasiado rápido e mostro demais demasiado rápido. E cá estou eu, novamente a fazer o mesmo.


200 posts... 200 posts em pouco mais de um ano, eliminando sábados e domingos, revela não só que andei demasiado ocupado mas também revela muito lixo... Aos 300 reformo-me.