sexta-feira, 27 de maio de 2011

De partida para outras Coisas



E, de repente, tudo muda pela ideia da sugestão oferecida, de que tudo vai ser diferente: de repente, não há escape nem poder de decisão efetivo, e isso, não parece ser bom mas também não parece ser mau, apenas assustadoramente muito diferente e assustadoramente muito de repente e... alegremente muito longe.
Mas decidam-se coisas e parta-se. Faça-se finalmente algo de egoisticamente único mas, ao mesmo tempo, para o mundo: o nosso. Decida-se e arrisque-se e, já agora, fale-se antes na minha primeira pessoa: Tenho medo. Medo do nada, mesmo que o nada nada me tenha feito e, curiosamente, ontem, hoje e amanhã, é (foi) dia de Coisas. Depois, se não houver coisa minha que lhe resista, o mundo recomeça, desta vez, novamente e finalmente: Longe daqui !






quinta-feira, 26 de maio de 2011

Raridade sem Género



De forma geral e regular, nos cafés e na rua no masculino (ou de forma mais recatada no feminino), fala-se de gajas boas (,em outros géneros) e outras vangloriações.
De tempos a tempos, de forma pontual, em desprezo global e opinião não partilhada, ouve-se: lá em casa tenho melhor.



quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pretérito (ainda) presente




- Bom dia. Posso ajudá-la a levar esse tabuleiro ?
- Com certeza menina.
- A senhora com a sua idade por aqui... a senhora faz o quê ?
- Eu ? Eu não faço nada menina.
- Então... mas quem lhe faz as compras ?
- Oh... isso é uma pessoa que eu tenho.

(pausa)

- Sabe menina, isso, é o meu amor que eu arranjei quando era nova.



terça-feira, 24 de maio de 2011

Estado pré resiliente




Não há cartas no correio... nem debaixo da porta.
Já ninguém espera nem ninguém responde.
Já não se sabe sequer o que existe e,
com o nada e com ninguém,
não há propósito.
(parece!)
Apenas parece não haver propósito quando tudo é negro até ser claro novamente.
E,
    num sorriso,
                           ás vezes,
                                                é preciso voltar as costas para ver quem vem atrás...





sexta-feira, 20 de maio de 2011

Chove!




MÃE disse:

    Chove...


    Mas isso que importa!,
    se estou aqui abrigado nesta porta
    a ouvir a chuva que cai do céu
    uma melodia de silêncio
    que ninguém mais ouve
    senão eu?


    Chove...


    Mas é do destino
    de quem ama
    ouvir um violino
    até na lama.

José Gomes Ferreira


bjinho



quarta-feira, 18 de maio de 2011

Hoje acordei o sol




Ainda não existem horas nesta manhã,
porque não houve noite nesta noite.
Se não existiu sono, não existiram horas.
É o corpo que aponta os minutos que, quando são horas,
se existe luz,
é tempo.
Mas hoje ainda não existe luz nem existem horas.
Eu, nem sei se ainda existo, por isso     corro,
                                                                c o r r o,
                                                                      c  o  r  r  o
para acordar a luz e com ela, acordar a cidade.
Já sei que com a cidade acordo eu.
E começa a manhã:
Diferente de todas as manhãs, numa manhã que foi dia sem noite.
Começa o dia de dia, sem pernas e sem folgo e sem a prévia noite que adormece o dia e o descansa,
para hoje,
o dia,
ser dia sem noite.
Hoje, ainda não existia luz e já eu     corria,
                                                        c o r r i a,
                                                               c  o  r  r  i  a
e gritava os pulmões em silêncio, na esperança de esquecer as noites e os dias.
Bom dia:
Hoje, foi eu que acordei o sol.








terça-feira, 17 de maio de 2011

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lé máiónése



Andas na vida como andas no mundo: em pontas e na maionese. A cair, de onda em onda, de relevé plié em plié relevé, até te afogares.
Há um ano, vendias-te! pela queixa da não mudança não agradecida, numa incompreensão que se força em não mudar.
Hoje, jantas tomate e vinho com bananas e chocolate... mas na maionese de ontem.








sábado, 14 de maio de 2011

verdade empolada




"A grande fonte de miséria e das desordens da vida humana parece surgir do exagero da diferença entre uma situação permanente e outra... Algumas destas situações podem, sem dúvida, merecer ser preferidas em relação a outras mas nenhuma delas pode merecer ser perseguida com aquele ardor apaixonante que nos leva a infringir regras, sejam de prudência sejam de justiça, ou de corromper a tranquilidade futura das nossas mentes, seja por vergonha da memória da nossa própria insensatez, ou por remorso do horror da nossa própria injustiça."

by Alan Smith, in The Theory of Moral Sentiments - 1759


Por outras palavras:
Sim, algumas coisas são melhores que outras. Devemos ter preferências que nos levam a um futuro em detrimento de outro. Mas quando essas preferências nos impelem demasiado porque exagerámos a diferença entre esses dois futuros, estamos em risco. Quando a nossa ambição é delimitada, leva-nos a trabalhar com alegria. Quando a nossa ambição não tem limite, leva-nos a mentir, a enganar, a roubar, a magoar os outros, a sacrificar coisas de valor. Quando os nossos medos têm limites, somos prudentes, somos cuidadosos, somos pensativos. Quando os nossos medos são ilimitados e aumentados, somos imprudentes e somos cobardes.

Os nossos desejos e as nossas preocupações são ambos, até certo ponto, exagerados porque temos dentro de nós a capacidade de manufaturar a comodidade que, constantemente, perseguimos quando escolhemos experienciar.
No final, depois de tudo, O segredo da felicidade, são as expectativas baixas...



quinta-feira, 12 de maio de 2011

momentos



Não acredito em momentos que não se repetem. Mas não acredito porque não quero. Nem posso: mata-me o pensamento e relaxa-me a ação e isso, não posso admitir (com demasiada frequência pelo menos).
Não acredito em momentos que não se repetem como também não acredito no tempo. Os primeiros, lembram-nos que o bom não termina e precavê-nos que o mau volta sempre. O segundo, faz-me insistir na não mudança pelo tempo, em que a vontade não muda, não sai da linha pela qual foi inicialmente traçada e que, apesar dos empurrões, aquele desenho interior inicial, aquele valor enraizado, volta novamente ao traço.
Já não acreditava antes mas a ideia da não repetição de momentos e do não tempo, fortalece quando, aos 70 anos, me dizem, "estou a preparar uma surpresa para a tua mãe".



terça-feira, 10 de maio de 2011

Tal pai tal filho



- papá papá papá !
- filho !! Por aqui ?
- siiim !
- diz olá ao colega do papá.
- Olá palhaço !



segunda-feira, 9 de maio de 2011

Queda livre



Por vezes, a solução para sobrevivermos é a negação: negamos que precisamos de descansar, negamos que temos medo, negamos o quão desesperadamente queremos ter sucesso, negamos que estamos mal. Mas mais importante, negamos que estamos em negação. Apenas vimos o que queremos ver e acreditamos no que queremos acreditar, e resulta. Mentimos a nós próprios tanto, que a mentira começa a parecer verdade. Negamos tanto, que não conseguimos reconhecer a verdade à frente dos nossos próprios olhos. E, no final do dia, há coisas que simplesmente não conseguimos evitar não falar. Algumas não queremos ouvir, outras falamos porque não conseguimos mais mantermo-nos em silêncio. Algumas são muito mais do que aquilo que dizemos, são aquilo que fazemos. Algumas dizemo-las porque não temos outra escolha, outras guardamo-las só para nós. E, não muito frequentemente, mas todo o de vez em quando, algumas, falam por si.
Por vezes, durante o mesmo frequente todo, não conseguimos ter a calma que queríamos. Perdemos o controle que ninguém gosta de perder. Não há nada pior. É um sinal de fraqueza... de não estar à altura. Mesmo assim, há tempos em que simplesmente sai do nosso controlo: quando o mundo pára de rodar e apercebemo-nos que nada que digamos ou façamos nos vai salvar. Por muito que lutemos, caímos. Perdemos. E é assustador. Exceto na vantagem da queda livre: é a hipótese que damos aos nossos amigos de nos apanharem.
(ou, no limite, de sentirmos o chão)





sábado, 7 de maio de 2011

Por lo que tiene de romántico



Mi abrigo mugriento
El aire amargo
Una lluvia tropical
Me contagias el mal
Ese inútil anhelo
Un crimen contra la humanidad
No me trates mal
Por lo que tiene de romántico
Por lo que tiene de extraño
Me contagias el mal
Desconectado
Zarandeado
Asomado a un final feliz
Tu mirada fija en el huracán
Por lo que tiene de romántico
Por lo que tiene de extraño
Por si me contagias el mal


sexta-feira, 6 de maio de 2011

Fantasias Irrespiráveis




Lembraste de como era quando eras criança e acreditavas em contos de fadas, na fantasia de como seria a tua vida, vestido branco, principe encantado que te levava para um castelo num monte. Deitavas-te à noite na cama, fechavas os olhos e tinha uma completa fé interior. O Pai Natal, a Fada dos Dentes, o Principe Encantado, todos tão reais que os sentias, mas, eventualmente, cresceste e, um dia, abriste os olhos e os contos de fada desapareceram.
Grande parte das pessoas vira-se para as coisas e pessoas em que confia. Mas a questão é que é difícil de largar totalmente aquele conto de fadas porque, quase todos nós, temos uma pequena quantidade de fé, de esperança, de que, um dia, abramos os olhos e tudo se torne verdade.

E no final do dia a esperança é algo de engraçado. Aparece quando menos esperas. É como quando um dia te apercebes que os contos de fadas são ligeiramente diferentes daquilo que sonhaste. O castelo, bem, não é bem um castelo. Não é assim tão importante o felizes para sempre, mas sim o felizes por agora. Sabes, é que de vez em quando, uma vez em cada lua azul, as pessoas vão te surpreender e, de vez em quando, há mesmo umas que te cortam a respiração...


quarta-feira, 4 de maio de 2011

contragosto não há argumentos






Poderá andar-se metido num amor a contragosto? Claro que sim. Um amor a contragosto é um amor em relação ao qual o sujeito que o sofre sabe/palpita que está numa perspectiva catastrófica e que, em princípio, nada pode fazer para evitar a catástrofe, que esta o espera no fim de tudo e se prepara para o mastigar sem contemplações, reduzindo-o a cisco. «Reconquista-me!», diz o objecto desse amor a contragosto, entre mostrando-se e furtando-se logo de seguida. E o sofrente do amor a contragosto compraz-se (afinal com imenso gosto!) em esfalfar-se e em arruinar-se nessa descida aos inferninhos do amor infeliz.

Como se chega - e para quê - a uma situação destas? Por muitos caminhos e para muitos fins. Mas o que importa aqui dizer é que o amor a contragosto não é um amor partilhado. O sofrente nunca é igual a quem lhe inflige o sofrimento. É mais. Mais sentimento, mais tormento. «Mas que figurões!», dirão as rãs que, na circunstância, sempre se juntam para fazer coro. É que eles - o sofrente e o que faz sofrer - não sabem que estão, na sua luta (assalto e defesa), a dar-se em espectáculo aos que, de fora e ainda por cima isentos, assistem a essa terrível devoração afectiva. De um amor a contragosto dificilmente se sai. É como um vício arraigado, é como um redemoinho que puxa irresistivelmente para baixo. Talvez a única maneira, como ensinam certos nadadores experimentados em águas traiçoeiras, seja o sofrente deixar-se ir até ao fundo e aí, com um golpe rápido de braços e de pernas, sair do medonho vórtice. Então, poderá voltar à superfície, nadar para terra, sentar-se na areia e dizer: - Olha do que eu me safei! - O mundo recobrará cor e significado. Quem estiver na situação de sofrente, metido num amor a contragosto, pode treinar este processo de salvação. A Caparica não é longe.


in "Uma coisa em forma de assim", de Alexandre O'Neill



segunda-feira, 2 de maio de 2011

a criança interior



- ...tiraste uma só para ti?
- Tirei. E fi-lo de propósito!
- ...nem sei como comentar isso.
- Sim, foi uma criancice, mas, ás vezes, precisamos de ser crianças para que nos vejam como adultos.



domingo, 1 de maio de 2011

Self Siren Essence



It's when all fails that we wonder:
We can be at the verve of the abyss, staring at the bottom, or at any given garden, just laying naked by the pool, but, it's when all dreams fail, plans sink, future futures, that we begin to wonder:
As hard as it is to understand, we are not the ones strapped to the pole, avoiding, trying not to listen, shouting above all sounds with our eyes shut, gesturing violently, clenching our teeth, clenching our fist with nails carved to the skin, just wishing that all goes away with a new wind... No.
As hard as it is to understand, we are the ones that sing, and the pole, is empty!