segunda-feira, 29 de março de 2010

Prova de vida

Acredito que nos definimos logo de início. Que tudo o que somos e vamos ser, começa desde cedo. Pode até ser assustador pensar na pouca margem de manobra que temos com esta predestinação, um pouco à semelhança da ideia de destino pré-traçado ou mesmo do conceito de fé, mas é assim. E se provas científicas são precisas, então digo, está nos genes!
Quando era mais criança, era o único na minha classe da primária que não dormia. Que ficava, quando todos os outros dormiam deitados, sentado à chinês a olhar à volta, enquanto uma figura adulta ao longe numa secretária, já me conhecendo me dizia com um sorriso na cara, queres um livro? Hoje não contemplo um chão de gente a dormir, resignado e à espera que o tempo acabe para ir brincar, mas ainda continuo sem vontade de perder tempo a dormir, mesmo que não o ocupe com nada de muito útil.
Um pouco mais tarde, se o castanho estava na moda, vestia amarelo e quando passou o amarelo a estar na moda virei-me para o castanho. Mesmo que não tenha saído daí, à minha maneira, continuo a tentar ser o mais diferente possível.
Nunca tive um ídolo nem nunca persegui a minha banda preferida numa digressão. A propósito, aproveito para vos dizer que nunca vos perdoei terem acabado e só me terem deixado 2 álbuns.
Se calhar por tudo isto, faz-me confusão a estandardização dos pés à cabeça à Cristiano Ronaldo, os crespúsculos de filmes com mega audiências, os best sellers e, mais recentemente (hoje de manhã), ligar o rádio e ouvir que há quem vá gastar integralmente as suas férias da Páscoa, numa fila, durante 2 semanas, por causa de uma banda (que até nem é nada de jeito)!
Espero que chova.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Um dia vou ser assim...


Não ligo, não me interessa e sei que a ti também não. Mas gostas.
Também eu gostava de um dia ser desejado assim. De, mesmo que não mo dissessem ou soubesse, ter quem achasse que não havia melhor do que eu. Que eu, era o melhor do mundo e que dificilmente podia fazer melhor do que já tinha feito e continuasse a fazer... também eu gostava de um dia ser assim.
De ser respeitado a medo pela voz e pelo movimento, de impor respeito e gerar um quase ódio com um, vou contar até a três, e nunca passar dos dois e três quartos. De falar pouco para ser ouvido muito. De conseguir, durante uma vida, mostrar a perfeição e esconder o resto, porque embora não conheça o resto, imagino que deva haver qualquer coisa... De bastar olhar para mandar. De olhar lá de cima bem alto e dizer baixinho, monocórdico e disfarçadamente indiferente, hoje portaste-te bem, mas que não se repita que tenho um papel a fazer.
De dizer o que é preciso e não o que é. De passar a ser ouvido pelo fruto das circunstâncias. De passar a surpreender, por não ser só respeito e cara sisuda. De passar a não ser só educação, para educar ainda mais, mesmo quando educasse a idade fora do aprender. De passar a ser idolatrado pela quebra do medo e o esticar da mão, do braço, de tudo! e dizer, ouve-me, e só depois decides. De passar a fazer cair queixo e esbugalhar olhos enquanto falasse e de passar a ouvir, olha, tenho que te partilhar uma coisa.
E se disser agora, que vejo no meu reflexo a impossibilidade de alguma vez ser assim, responder-me-ás qualquer coisa que me passará a deixar a pensar, na impossibilidade dessa impossibilidade. Confundir-me-ás com sábias palavras para me fazeres pensar e no fim eu comentar comigo, também eu gostava de um dia ser assim.
Mas não ligo, não me interessa muito e acho que a ti também não. Mas espero que gostes.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Fumaças...


Dêem-me um fogo para apagar,
Ou um amor para lutar!
Dêem-me uma meta para correr,
Ou algo porque morrer!
Dêem-me de volta o sorriso,
Ou aquilo que preciso!
Dêem-me o tempo parado,
Ou um adeus ao consumado!
Dêem-me com que atravessar,
Ou atirem-me o corpo ao mar!


Dêem-me o que não mereço!
Digam-me! Qual é o preço?
Hoje mesmo vendo a alma
Para que tudo volte à calma!

terça-feira, 16 de março de 2010

Amantes

   E foi o que fez quando tudo terminou, na noite em que ela chegou com o cabelo ainda húmido e movimentos de sonâmbula e adormeceu nos seus joelhos. Mas tudo isso sucedeu muito depois daquele primeiro encontro, pelo que não se verificaram importantes variações no guião previsto. O ritual continuou por caminhos trilhados e previsíveis, embora insuspeitadamente satisfatórios. Julia já tivera outras aventuras, mas nunca sentira, até à tarde em que Álvaro e ela se encontraram pela primeira vez na estreita cama de um hotel, a necessidade de dizer amo-te daquela forma dolorosa, dilacerada, ouvindo-se a si mesma pronunciar com uma deslumbrada estupefacção, palavras que antes sempre se recusara a pronunciar, e num tom desconhecido que se assemelhava muito a um gemido ou a um lamento. Uma manhã em que acordou com o rosto pousado no peito de Álvaro, depois de afastar com cuidado o cabelo despenteado que lhe cobria o rosto, olhou durante muito tempo o seu perfil adormecido, sentindo o suave bater do coração junto à sua face, até que ele, abrindo os olhos, sorriu ao encontrar o seu olhar. Nesse momento, Julia soube com a certeza absoluta que o amava...

sexta-feira, 12 de março de 2010

E se não quisermos lutar?

E se me obrigarem a equipar para a guerra,
Sabendo eu tudo o que isso encerra?
E se falhar em mostrar que o não soldado pode errar,
Sabendo eu que não o têm de fuzilar?


Hoje vou para a guerra como um pacifista,
Sem nada vestido como um naturalista,
De mira no peito como um derrotista
E sem esperança, como é o pessimista.


Hoje combato pelo que acredito,
Para tentar pôr fim ao inaudito.
Hoje vou nu para o conflito!
Hoje digo ou ouço, finito!


E quando uma arma em mim apontar,
Não havendo mais nada a salvar
Só porque falhei no elucidar,
Esperarei sorrindo o disparar.


Se viver, viverei para concluir,
Tudo o ficou para reconstruir.
Se morrer, morrerei a recordar,
Os tempos do não soldado exemplar.


Mas.. e se eu não quiser lutar?

segunda-feira, 8 de março de 2010

A Mentira

.Explodimos! Gritamos a raiva do que ouvimos e do que vemos! Descontrolamo-nos!
,É mais fácil ser poeta do que falar, por isso baixamo-nos, diminuimo-nos e mostramos o errado pela falta de hábito. Não conhecemos o mal. Mostramos tudo ingenuamente. Não há mais segredos. A mentira acaba aqui. No início do tarde demais.
.Crescemos ainda mais! Expulsamos pela raiva e incompreensão daquilo que, agora, só faz sentido. Fumamos o primeiro de há muito, é o simbolo do destroço.
,Saímos. Pensamos, choramos e percebemos. Não dormimos com lágrimas de ideias e, pelo sentimento unicamente descodificável, por ser só nosso, frustramos. É a maior frustração da vida, quando apenas nós sabemos tudo. É o cartão vermelho sem falta. Mas houve falta. Não houve foi agressão e agora, não há compreensão pelas intenções e os factos parecem claros.
.Não dormimos. Pensamos, não percebemos, enraivecemos mais e mais. É o sentimento de traição de a quem demos tudo. Pensamos, não percebemos e enraivecemos ainda mais. Deixamos de querer ver, porque tudo parece claro.
,Voltamos. Num ápice, num impulso que o racional reprova mas o coração sobrepõe porque quem manda é ele, voltamos. Olhamos e crescemos e explicamos. Deixamos o poeta à porta.
.Queremos mas não queremos. Mas porquê?!? Não queremos ouvir, explodimos. Enraivecemos e dizemos tudo. Apontamos e insultamos, perdemos a razão com razão. Fumamos mais um.
,Escrevemos e saímos. Já não olhamos o chão mas o coração mal respira. Conduzimos os olhos turvos ao sítio onde já fomos.
.Lemos. A estupfacção do que lemos tem que ser respondida. Sem palavras.
,Respondemos, mostramos o errado e respondemos. Não.
.Sim!
,não.
.SIM! e um beijo.
,Um beijo... um beijo? Vemos para além de tudo só por quem manda. O coração. De repente, sentimos a esperança em tudo. Sabemos de tudo e deste lado a tranquilidade é maior por isso. Há uma tristeza mais calma e resignada, mas sempre acompanhada da frustração. Dormimos de lençóis vazios e uma segunda almofada de companhia. Mas não dormimos. O corpo mostra-se capaz de resistir a tudo e acompanha a mente que não dorme. Pedimos ao corpo que nos deixe. Imploramos o sono. Desesperamos. Confessa-se a saudade pela companhia dos cabelos, do cheiro e da memória. Horas passam a reler o beijo que agora diz adeus. Assiste-se ao aumento da intensidade da luz a cada segundo. Desta vez, a manhã é mais triste do que a noite. Desta vez, não falta menos um dia. Desta vez, passou mais um e nada. Ocupemos a cabeça fora do nada e façamos tudo. Impossível. Ela está em tudo. No isqueiro, na vela, na água, no sumo, na árvore, no papel, na caneta, no ar, cá dentro e cá fora. Em tudo o que tudo procuro para não pensar. Arrastamo-nos à amizade. Engolimos em seco, respondemos como amigos e mostramos o que está mal. Apelamos à reflexão do porquê do mal do passado.
.A incompreensão da suposta tentativa de transferência de culpa, é cruel. Transmite-se o mal hediondo, o sentimento atroz, e o desejo de esperança ténue nas entrelinhas.
,Conversa-se com a intransigência, apela-se ás soluções. Ao futuro.
.Recorda-se o passado planeado para o futuro, as chances e as hipóteses. O cansaço dos passos em frente e dos recuos e a não compreensão pela não auto avaliação. Diz-se que se dorme.
,O tempo será sempre o tempo. Aprendamos e evoluamos. Se nada acontece por acaso, o que é que será que o acaso trouxe desta vez? Aprendizagem para o futuro? Mas de quem? Do meu certamente. Do teu... Do nosso... Ouve agora o grito ao mundo que querias, ouve uma voz rouca que fica sem voz. Mas não pára. Quererás nomes? Não faz parte de mim, mas todos sabem os nossos. Grito bem alto porque não sei cantar. Ouves?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Amor


(Hoje falamos de amor, só porque não anda na moda e assim, pode ser que a moda pegue)


Amor é fogo que arde sem se ver


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

terça-feira, 2 de março de 2010

Mirage


How can the stars fail to fall,
when wishes dream lonely?

The perfect canvas for hiding
the wide inner exploding.

A miracle, le mirage.
Les deux côtés de ton image.
Le scorpion et l'équilibre,
le poison qui me rend faible.

How can the stars fail to fall?
How can the stars fail to fall,
when dreams are deceiving?

Blow stardust in my eyes
and I'll taste your never-fading
flaming grin in my sighs.
Give in!

segunda-feira, 1 de março de 2010

Ao primeiro burro de Março!

Hoje, já não és Cristo! És mais ainda. És Cristo e mais um e para isso, nem precisaste de ressuscitar. Bastou-te a manutenção.
Os anos passam e tu não mudas, nem queres. Olha, se queres que te diga, nem precisas. Bastas-te a ti e chocolates, que se já passaste o J.C., lá deves saber o que fazes...
Porra que ainda nem a Ele cheguei e já penso que tenho papas para te ralhar!
Bem sei que não te seguem multidões, nem curas leprosos. Nem queres, por isso calo-me e deixo de te querer fazer quem gostaria, assim como um pai faz para um filho mais velho.
Existe na maioria de nós uma forte tendência em crescer. É uma inclinação para que todos parecem cair, e os que não caem, como tu, ficam-se a rir para os que insistentemente gritam, Anda para aqui! Salta! Vem para este lado do espelho, agarra a tua sombra, pula até nós, não caias na toca do coelho! Deixa-te disso! Anda!
Sabes, acho que é inveja isto que sinto. Uma espécie de ciúmes teus, por seres assim como também eu gostaria. De, todos os dias, ver a vida lucidamente drogado e sobriamente alcoolizado. De acordar e também eu me querer chamar Peter, como tu, mas não falo do apóstolo, falo do Pan. Mas não me interpretes mal, não é que não sejas grande nem não queiras crescer, é só porque daqui de baixo, és maior do que eu.