terça-feira, 16 de março de 2010

Amantes

   E foi o que fez quando tudo terminou, na noite em que ela chegou com o cabelo ainda húmido e movimentos de sonâmbula e adormeceu nos seus joelhos. Mas tudo isso sucedeu muito depois daquele primeiro encontro, pelo que não se verificaram importantes variações no guião previsto. O ritual continuou por caminhos trilhados e previsíveis, embora insuspeitadamente satisfatórios. Julia já tivera outras aventuras, mas nunca sentira, até à tarde em que Álvaro e ela se encontraram pela primeira vez na estreita cama de um hotel, a necessidade de dizer amo-te daquela forma dolorosa, dilacerada, ouvindo-se a si mesma pronunciar com uma deslumbrada estupefacção, palavras que antes sempre se recusara a pronunciar, e num tom desconhecido que se assemelhava muito a um gemido ou a um lamento. Uma manhã em que acordou com o rosto pousado no peito de Álvaro, depois de afastar com cuidado o cabelo despenteado que lhe cobria o rosto, olhou durante muito tempo o seu perfil adormecido, sentindo o suave bater do coração junto à sua face, até que ele, abrindo os olhos, sorriu ao encontrar o seu olhar. Nesse momento, Julia soube com a certeza absoluta que o amava...

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