sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

cócórócócó.


Um dia (se algum dia o for) quando for pai, hei-de, de vez em quando, só para o chatear, responder ao meu filho enigmático e misterioso.
Mas só após ter ganho algum estatuto. Tipo deixar ferver, ficar ali a marinar a relação pai filho, toma lá dá cá e de repente! Uma resposta nos queixos que o deixa a pensar uma semana. Como se não bastasse (e porque de certeza que sairá ao pai) viro costas e acaba a discussão, só porque eu me vou embora e não há mais nada a acrescentar ao queixo dele, deixando-o a corroer-se.
Assim um pouco como a minha mãe, mas como já não vai dar para ser mãe na próxima década, fico-me antes por pai...




(...)
-Oh mãe, 'tá bem!!!! Já percebi!!! Já me disseste isso três vezes!!!
-E se for preciso digo 4.
-Sim, se me quiseres chatear...
-Eu sou muito mãe galinha... nem imaginas quanto.
(pausa)
-...se sou teu filho...
(sorrisos)
-somos todos uns expatriados.
(toma lá as costas e fim de discussão)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Réplica

Voltam as forças pela vontade,
Mas com ela uma contrariedade:
O desejo de ser isento,
Na ilusão das forças darem alento.

Volta a vontade de ter força,
Mas não chega ser forte.
É preciso lidar com este imprevisto:
Fora daqui não existo!

Sozinhos, andamos ociosamente à deriva,
E o coração aperta, pelo desejo de outra saliva.
Fora daqui não existo!
Mas mesmo assim, conformo-me e subsisto.

Pela vontade do empenho, resistimos.
Durante os amargos dias que nos iludimos,
Emagrecemos. Desvanecemo-nos num murganho.
Mas não importa. É no voltar que está o ganho!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Teima na ventura sem métrica


A pequena folha do rio, feliz sem rumo ao sabor do vento,
Pensa, por não traçar seu caminho, poder a cada momento,
Surpreender-se com a invencível felicidade do acaso.
Que, por ser apenas um pequeno corpo raso,
Pode inventar cada sentimento,
Conduzindo no gigante rio, ao sabor do forte vento.
É a lei do desprendido, que pensa que tudo vai bem,
Enquanto se mantiver sem planos, nem vendo demasiado além.
Logo se vê, para quem não vê, é um plano demasiado arriscado,
Mas a verdade é que é a pequena folha, depois de tudo somado,
Entre as margens de terra, na estrada de água e de troncos,
Que troca o verde pelo castanho e o insípido pelo sorriso dos tontos.
Por ser pequena e relaxada, outrora verde e pendurada,
Não pode ser mais que isso e gozar a vida despreocupada.
Junte-se o rio e o vento, os troncos e as margens,
Que à pequena folha rasa, não são permitidas libertinagens!
A insípida folha sorridente, está agora condenada.
O seu destino, pelas regras dos outros, será vir a ser afundada.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Mute






Não ouço nada!, pensava em pânico.
Subitamente, um repentino retirar do som, mostrava um novo mundo de silêncio, um que julgava não ser capaz de compreender (sem preocupação), apenas pela imagem.
Vejo-o melhor assim, pensou mais calmo, fazendo-se forte, de ouvidos tapados e olhos abertos.
“Mostra-te-me” então!
Foi este o pacto secreto que fizemos:
Tu não me ouves e eu não te digo mais nada... Mostro-to!
Eu não te ouço e tu “mostras-me-te”!

Ah, mas ainda sou pequeno para ti... ainda me fazes sombra...
Como é na falta de comunicação que  tudo o resto desaba, o medo é de não te pertencer.
E volta o pânico.
Por não conseguirmos apenas ver, por necessitarmos de  compreender, de escutar e de olhar, por precisarmos de tudo... nada ouvimos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O pescador (cont.)


(...)
Sempre que se achou forte o suficiente para se contradizer caiu de fraqueza, para sempre se voltar a erguer, arrependido ou não, e continuar, igualmente forte ou mais fragilizado, mas até ali. Desta vez seria diferente, soube-o naquele instante. O medo de não guardar o passado, agora revisitado, era infundado e a mera presença naquele local fortalecia-lhe a memória ao nível do cheiro e do toque de tal forma que, quando fechava os olhos, via todas a tonalidades imprimidas do passado, deixando de sentir a chuva e o vento de agora, e a fraca visão do mundo a um palmo. Não o incomodava não ver, ali, já tinha visto tudo.
Deixou-se antes estar, sem tempo, durante horas, até não sentir mais o corpo de frio que, abandonando-o, fazia-o sem tremer. Antes de voltar, depois de reabsorver toda a memória daquele lugar, decorando-lhe o cheiro e as formas como se de uma mulher tratasse, guardando a indisposição negra e o mau feitio dela de agora, para juntar à beleza calma de antes, repetiu – Não me resta mais nada! E voltou pelo caminho que o trouxe, cabisbaixo, resignado com o destino, que o destino lhe tinha traçado.
Tinha-se apenas a si próprio para conversar enquanto voltava. Não podemos mudar o passado mas temos a capacidade de alterar o futuro, cavaqueou consigo inúmeras vezes sem conseguir imaginar uma qualquer resposta argumentativa. Era uma frase do passado, do dia em que tinha sofrido com a honestidade das suas palavras e cujo significado se perdera com os anos.
Sentia-se agastado pelas escolhas e pela sua própria incompreensão nelas. Era como se um qualquer plano divino, que obstinadamente não acreditava, lhe tivesse rotulado a solidão na alma, destinando-o ao isolamento afectivo do mundo.
Desde criança que tinha um gosto especial pelo lúgubre que, de tempos a tempos, incentivava e provocava forçadamente, com um prazer que chegava a considerar atroz pela perversidade do sentimento, mas que considerava ser imprescindível ao seu equilíbrio. Este e outros pensamentos de igual índole, assombravam-lhe a noção de normalidade da sua pessoa, mas nunca o deixando, até então, importunar-se por eles, porque conseguiu sempre encontrar uma âncora que o estabilizasse. Era dessa âncora que sentia falta. De uma sombra sem luz nem início, que a todos os momentos o acompanhasse e o fixassem à terra. Era tarde demais para tudo, pensava.
Chegava finalmente ao seu destino.
(...)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Raios parta o caraças do mundo!



Assim de repente, levantamos a cabeça para ouvir qualquer coisa, e a babilónia ardeu. E se não, então está a arder.
É na falta de bases que se traduz o insucesso posterior, ou na quase obrigatoriedade dissimulada, de baixar a fasquia. Oscilamos para a desordem.
Parece que actualmente o objectivo é termos 10 milhões de doutores, só para que tenhamos muitos e, qualquer dia, o director tem a 4ª classe, todos os seus empregados são mestres, e nenhum deles (burros!) percebe porque raio é que não são eles os directores.
Ai o antigamente é que era bom!, pois claro que não, que o mundo agora é 3D, mas onde e quando é que demos a volta a isto?
A ex-capital do império cheira a cinzas e como tudo o resto é província, poucos são os que não ardem. Até as fénix arderam todas e o D. Sebastião não voltava nem que lhe pagassem em ouro num dia limpo.
O mundo mudou, e enganem-se (os optimistas) se tudo é cíclico, porque nada voltará ao mesmo. A geração da Bimby e das luvas de silicone num ouvirá o som espacial das Peta Zetas, nem esfolará as mãos numa pederneira.
Raios parta o caraças do mundo que me condicionou o futuro!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Às vezes, aqui, faz frio


De tudo o que não é, é o que poderia ser que queremos.
Mas cá em baixo somos tudo.
De tudo o que não somos, é o que queremos ser que sentimos falta.
Mas cá em baixo sonhamos acordados a realidade.
De tudo o que não existe, é o que tornaria a realidade suportável que sonhamos.
Cá em baixo, tudo é grande.
Mas de entre tudo o que é pequeno, é do alto que as preferimos ver, e de entre tudo o que é grande, é do alto que as vimos melhor.
Mas cá em baixo andam os que olham os pés e, de mãos nos bolsos, atormentam os grandes, porque aqui, tudo é grande. Aqui, o fumo não chega, porque sobe, como o calor, e por isso, aqui, cá em baixo, faz frio de vez em quando.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O pescador


(...)
-Não me resta mais nada, disse baixinho o pescador.
De tudo o que tinha, a única coisa que me resta é a imagem do mar e do céu, pois já nem a areia me sobra.
No cume de um, agora qualquer rochedo, mesmo que no topo, no alto de tudo, onde a visão do mundo é panorâmica, não espera que alguém o ouça e abandona a esperança de ser visto.
Juntos, pensa, nada proferimos com medo de corromper o momento, bastam sorrisos sinceros e vislumbres de mistério em silêncio. Sós, nada temos a dizer, e mesmo que o tivéssemos, este vento pouco quer saber ou ouvir sobre devaneios solitários, ou arrependimentos de quem vive agora num ermo.
Era o dia do seu aniversário, mas nem por isso deixava de o celebrar como um anacoreta, fugindo à norma e ao usual, como aliás sempre tinha feito desde que se lembrava de ter feito anos, refugiando-se antes na inimportância do significado que lhe atribuía, para não dar explicações sobre a falta de interesse no assunto.
Este ano, tinha resolvido retirar-se, mas completamente só, deixando as passadas quase singulares companhias deste dia, que sempre lhe despertaram uma inexplicável melancolia, outrora atribuída precisamente à sua singularidade e nunca ás pessoas, e fugiu. Fugiu para onde foi feliz, contrariando uma promessa pessoal, sem encargos para a consciência por só a ele poder acusar de incumprimento. Pela primeira vez, quebrou a promessa de não voltar e voltou aquele lugar, consciente do risco de modificar o fixo e o estipulado previamente como felicidade imutável.
Ele acreditava que os lugares, durassem o tempo que durassem, eram como as imagens: tornavam-se fixos e eternos, confortavelmente presos a uma representação, só alteráveis se revisitados. Nunca voltava onde já tinha sido, nem insistia onde não o tinha e, como para os lugares, também para os momentos. Mesmo assim voltou.
(...)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

AH-CHOO!


Os anos passam e no dia a seguir, tomamos consciência que somos, nada mais nada menos, do que: os mesmos!
Como não quero tornar este espaço cor-de-rosa, não só pela cor (que não me fica muito bem) como pelo conteúdo, reúno uma série de rosadas.
A minha primeira iniciativa, após fazer a pré inscrição no grupo de pessoas que põe aspas no jovem, quando referente à própria pessoa, foi, de forma muito madura, de quem gosta imenso de pertencer à categoria do independente charmoso homem italiano, que ainda vive com os pais (mas em Portugal), escrever um bilhete à minha mãe.
Coloquei-o junto à chávena do pequeno almoço, e dei-lhe o seguinte título: "Coisas-que-gostava-de-te-pedir-só-porque-me-dava-muito-jeito-não-gastar-dinheiro-com-elas". Entre outras coisas, pedi uma escova de dentes.
Rosada nr 2:
Há delas pessoas que tossem e sai merda. Há delas outras que espirram e espalham sabedoria em forma de sorriso.
Perguntaram ao Rui Zink, numa espécie de questionário que, mesmo não o conhecendo deve adorar, daqueles do género, "o que é que a personalidade x faria se vivesse num templo budista com Internet e a lâmpada de Aladino de desejos ilimitados?". Mas mais simples porque foi para a Revista. A verdade é que eu li e a pergunta era, o que desejavam para elas, para o país e para o mundo em 2010.
Para ele, não interessa. Para o país, "a única coisa que Portugal precisa é que o Pepe recupere a tempo do mundial. Fora isso está tudo bem". Para o mundo, "já se começam a sentir os efeitos da presença de um cão de água português como conselheiro dos Obama. A comissão europeia já adoptou um José Barroso. Para se cumprir o quinto império só falta que a China se converta aos segredos do Bem Viver que deixámos em Macau".
Santinho.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Caro João:





sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A década da partilha, by OMAI



Evoluímos para a perfeição.
Era bom, mas não. Evoluímos é para o improvável caos, aquele que seria mais certo de acontecer mas por uma qualquer razão não se dá. E se o caos pessoal não atinge, não faz danos nem baixas, além da singular, o caos social por si só, é devastador. O incómodo em massa.
O caos não está só na desordem, está no aproveitar da ordem anunciada dos outros. Por isso mesmo, estão cada vez mais reunidas as condições para o caos e a culpa é do índice de avaliação individual. Passamos a explicar:
Nos anos 80/90 foi o quociente de inteligência que ditou o evidenciar de cada. Um QI elevado era sinal de genialidade por sobressair, entre muitos, os medianos, como alguém intelectualmente mais evoluído. Era de única importância uma capacidade de raciocínio elevada e de um encadear lógico aliado ao domínio das faculdades visual-espacial não verbais. Um génio dominava os hemisférios do seu cérebro!
Com o passar dos anos, chegando ás décadas de 90/00, com as depressões geniais, os loucos, surgiu um factor avaliativo para ajudar à definição de grande ser pensante. Perfeito perfeito, seria ser-se um génio emocionalmente estável e equilibrado. Ora chamemos-lhe quociente emocial, que torna qualquer indivíduo de QI elevado, num de sensibilidade desenvolvida e, ao mesmo tempo, capaz de tomar decisões baseadas na tolerância, fundada na capacidade de compreensão. Um génio dominava todo o seu cérebro e o sistema nervoso!
No começo de mais uma década, um outro parâmetro começa a sobressair, sendo olhado com  alguma relevância na avaliação do indivíduo. As redes sociais, que a poucos escapam, teve, por esta mesma razão, uma grande influência nesta nova evolução avaliativa. Junta-se aos anteriores, o quociente social. Já não é necessário ser-se genial e um grande controlo emocial não basta. Temos de o ser isso tudo, também em comunidade, capazes de uma interacção social que nos destaque. Um génio domina as massas!
Vivemos na década da partilha. Todos querem partilhar, contar, mostrar, dizer, exibir, falar... Olha! Olha! Olha! E pegou. Em muito pouco tempo, de estaca, pegou. E pegou porque somos muito curiosos e, de repente, toma lá tudo o que queres saber. Quando é que a curiosidade acaba? O que acontecerá? É só mudar a fórmula e inventar outro quociente.


Sejamos anacoretas e nada disto interessa. Mas vivamos para o mundo em redor, contrariados ou não, mesmo que o criticando, e joguemos pelas regras.
Para nós, a evidência pessoal está na consciência de tudo...
Sendo considerados aclamados visionários, podemos adiantar que em 2020, falar-se-á do quociente consciente, que não é mais do que a capacidade de estar consciente a toda a sociedade. Senão, veja-se: Inteligência -> controlo da inteligência pelo controlo emocional -> controlo emocional em comunidade -> consciência dos QIs+QEs+QSs que nos rodeiam (QC).
Só por isto, só assim sem mais nada, acho que já mereço um Nobel...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Distribuição (mais do que) normal


É tudo uma questão de estatística, mas não há probabilidades garantidas. Vai do 1 ao 99% e fica o 1% (para cima e para baixo) a prever os casos... especiais.


Cuspir num homem é 96% certo de ser retribuído por um murro na cara. Numa mulher, 99% certo de levar, pelo menos, um estalo (bem dado) nas trombas com a mão mais anelada. Caso especial: estupefacção e outros cuspos.
Existe 1% de hipóteses de comer peixe fresco à 2ª feira. Caso especial: pescar o próprio peixe e pescadores em tempos de crise com mais de 5 filhos abaixo dos 12 anos.
A probabilidade de beber um café e este ter vindo do Brasil é de 61%, no entanto, se estivermos na Alemanha, existe a mesma mas de ter vindo da Colômbia. Caso especial: não beber café ou este vir do Vietname.
Hoje há 20% de hipóteses de chover. Caso especial: chover.
Em todo o mundo, com 99% de certeza, no último minuto caíram 6000 raios na terra. Caso especial: Feriados e mudança da hora.
77% de todas as estatísticas têm a ver com tabaco. Caso especial: As que são sobre cancro do pulmão.
85% das mulheres usa o número de soutien errado. Caso especial: hippies.
91% dos homens solta uma flatulência silenciosa em público, sempre que pensa que ninguém a vai ouvir. 43% acha que não vai cheirar. Caso especial: Homens após uma proctoscopia e transexuais.
89% das estatísticas oficiais são fidedignas, escrupulosas e baseadas numa amostra credível. Caso especial: osmeusamigosimaginários.


Azar? Azar é ter uma estatística baixa.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

remoto resquício



Contínuos resquícios da pouca luz,
Censurada pela agitada palavra,
Alimentam o desejo de viver...
Criam-no.
É por eles que torno a ansiar.
Por uma nova oportunidade de os mal tratar,
De me tornar a queixar e, principalmente,
De voltar a ouvir queixas.


É no acabar da luz que acordo.
Estremunhado, insulto o seu fim
Pelo desaproveitar do tempo.
Mas faço-o de engano consciente,
Pois é no fim da luz,
Por entre a sua pouca dimensão,
Dentro do resquício luminoso,
Que marco o interregno momentâneo do coração.
É por ele que agora me queixo.


Agora, que a luz já não é pouca,
É somente a mesma,
A queixa não se ouve.
É dela que tenho saudades... da queixa.
Porque mesmo quando a luz acabava,
Naquela indeterminação do fim do crepúsculo
e do início da noite,
Mesmo aí,
As queixas não eram apenas queixas,
Eram apenas caras.


E tudo recomeçava.
Com a vontade alheia ao mundo,
Onde só aqueles resquícios importavam.
Fora deles,
Nada!
De uma singela janela para o mundo,
Um outro que nunca chego a visitar,
Que nada me diz,
Apenas observo à cada vez menos média luz,
O seu desaparecer.
E depois?
Depois é como antes.
Vivo!
(até ao próximo resquício de luz)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Os doze pinhões por abrir



01Fazemos promessas enquanto vimos o futuro.
São os planos do fim, de um ano maduro.
02Começa um novo, um verde ainda moço,
Cheio de vigor, não há desvios neste troço.


03Este ano, quem trocou as passas por um mirtilo,
Safe-se agora com um único desejo daquilo.
04Nada a temer, que basta uma ericácea petiz,
Para pedir o que se quer, e ser Feliz.


05Para os outros, por cada passa, um desejo,
Mas se de uma vez, doze num pestanejo
06Não chegam para o pedido,
Não há vigor ou moço, que te livrem do castigo.


07Dizem que de promessas está o inferno cheio,
Pois nunca fez mal a ninguém, morder um pouco do freio.
08Por uns instantes parar para poder pensar,
No caminho por onde nos vamos encaminhar.


09E é em jeito de senso comum,
Este conselho embrulhado em debrum.
10Que apesar de dever ser bom senso,
Deixo-o com um gosto imenso.


11É neste postzinho de sabedoria popular,
Que deixamos votos de um ano singular.
12E se já se sabe que não será para toda a gente,
Se for só para nós, também fico contente.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Hermaphroditus


Era uma vez o Hermes. Olá Afrodite, coisa tal, vamos só ali atrás e... já está!
Era uma vez o Hermaphroditus. Rapaz esbelto, de um porte invejável, com uma face apenas possível de descrever por Bocage em seus poemas. Um deus.
Ora uma tal de Salmacis, afeiçoou-se loucamente pelo nosso rapaz, que transpirava lascívia, sendo portanto compreensível tal rendição aos seus naturais encantos. Pensando de forma contrária, e sendo o nosso rapaz, daqueles às direitas, este, pediu à senhora para ir polir a estátua de Mercúrio ao templo mais próximo, antes que a sua paciência divina se esgotasse. Vendo-se livre de tal impertinência, foi tomar um banho. Eis que, surpreendido por detrás, Salmacis envolve o seu corpo no do nosso jovem Hermaphroditus, afagando-se a ele, beijando-lhe o peito vigorosamente, oferecendo-se numa tamanha luxúria que deixou o rapaz perplexo. Antes que este emitisse qualquer palavra, Salmacis implorou aos deuses que os dois não mais se separassem.
E parece que assim foi. Não sei se os deuses perceberam mal o que a senhora queria mas, sabe-se que seus corpos tornaram-se num só e o nosso rapaz, coitado, só porque não estava na onda daquela senhora, tornou-se no primeiro intersexual da história.
Toda esta introdução porque, recentemente, lemos que a Lady Gaga tem uma pila. Os fãs mais aguerridos, estarão neste momento a fechar o browser comentando, só agora?
Ora se tem uma pila, sendo uma lady, é portanto uma hermafrodita.
Primeira dúvida de muitas: será mais correcto dizer umA ou UM?
A história diz-nos que, inicialmente, será um. Mas depois do ‘um’ ter sido agarrado por detrás, parece-nos que umA estará um pouco mais correcto.
Uma outra dúvida ocorre-nos. Será possível ter sexo com “ela” própria? É que isto eleva a masturbação a um outro patamar.
Algumas mentes mais conservadoras, de bases cristãs mais sólidas, estarão certamente a indagar-se sobre esta mesma masturbação sem preservativo. Será possível engravidar-se a ela própria?