quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

remoto resquício



Contínuos resquícios da pouca luz,
Censurada pela agitada palavra,
Alimentam o desejo de viver...
Criam-no.
É por eles que torno a ansiar.
Por uma nova oportunidade de os mal tratar,
De me tornar a queixar e, principalmente,
De voltar a ouvir queixas.


É no acabar da luz que acordo.
Estremunhado, insulto o seu fim
Pelo desaproveitar do tempo.
Mas faço-o de engano consciente,
Pois é no fim da luz,
Por entre a sua pouca dimensão,
Dentro do resquício luminoso,
Que marco o interregno momentâneo do coração.
É por ele que agora me queixo.


Agora, que a luz já não é pouca,
É somente a mesma,
A queixa não se ouve.
É dela que tenho saudades... da queixa.
Porque mesmo quando a luz acabava,
Naquela indeterminação do fim do crepúsculo
e do início da noite,
Mesmo aí,
As queixas não eram apenas queixas,
Eram apenas caras.


E tudo recomeçava.
Com a vontade alheia ao mundo,
Onde só aqueles resquícios importavam.
Fora deles,
Nada!
De uma singela janela para o mundo,
Um outro que nunca chego a visitar,
Que nada me diz,
Apenas observo à cada vez menos média luz,
O seu desaparecer.
E depois?
Depois é como antes.
Vivo!
(até ao próximo resquício de luz)

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