segunda-feira, 30 de abril de 2012


quarta-feira, 25 de abril de 2012

Mãe sofre

- Fiz uns crepes maravilhosos na minha sertã nova de crepes. Soberbos ! Jantar a petiscar morcela de entrada, seguida de crepes com salada de fruta, nozes, gelado e chantilly... Houve alguém que disse que os de compra são também bons... Saudades!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

(sem título)


Faz tempo que não escrevo uma letra.
Corrigir um acento que seja !
Uma pequena vírgula para, pausadamente, separar algo.
Nada...
Só me ocorre a inconcebível sinceridade e
já não consigo ser sub-reptício nas letras.


segunda-feira, 2 de abril de 2012

O meu nome é [o meu nome] !



O meu nome é só meu e é por ele que me chamam ou repreendem no fim de uma frase de voz acentuadamente exclamada. O meu nome não serve para carinhos, sorrisos ou melosas interjeições, nem é proferido no final de "tens muita piada", mas foi várias vezes utilizado no final de "não te volto a chamar". Gosto de ti, ponto. Não te quero voltar a ver [o meu nome].
Quando [o meu nome] é usado no início, tremo numa ansiedade desmedida, enquanto aguardo o tempo entre o meu nome e a palavra seguinte. [O meu nome], "passas-me a água?" e a água ainda treme num jarramoto.
O meu nome, que é só meu, nunca é dito por mim, excepto quando me apresento. Olá, eu sou [o meu nome]. Eu sou muito mais do que o meu nome, mas é pelo nome que sou conhecido, exclamado no fim, não usado de bom e incerto pelo início.


sexta-feira, 30 de março de 2012

Assonia Execra



Existirá o dia que te descobrei os podres que não partilho,
as dessintonias imperdoáveis e os gostos sem sentido em que não me revejo.
Aguardo ansiosamente a queda de um pano que me faça voltar a mexer,
que me faça voltar a ver o mundo noutras cores,
apagar sedentários e ignorantes sorrisos
e me adormeça.


quarta-feira, 28 de março de 2012

No tempo em que andava na escola



, lia cartas sem perceber o que eram as pessoas. Lia-as e depois deitava-as fora. Se já não as tivesse comigo, se desaparecessem para o lixo, não existiam, e se não existiam, num rápido e astuto raciocínio de alívio, podiam nunca ter existido, e se nunca tinham existido, não precisavam de ser respondidas. Era o tempo em que o amor não tinha resposta.
No tempo em que andava na escola, brincava muito no parque da urbanização, a cidade era metade da de agora e o expoente máximo do meu afecto era um puxar de cabelos ou um pontapé. Depois fugia e nada acontecia. Era o tempo em que o amor era cobarde.
No tempo em que andava na escola, as garagens eram mais pequenas, tinham músicas e ofereciam coca-cola. Era a altura em que subitamente a música adormecia sozinha, a garagem se juntava em pares e eu ia ver os carros passarem até a música acordar. Era o tempo em que o amor não existia.
No tempo em que andava na escola, os melhores sítios eram as bancadas de pedra e os bancos longínquos onde o mundo não passava. Era o tempo em que o amor se escondia.
E foi no tempo em que ainda andava na escola que descobri as letras, que encontrei o mundo num par de palavras e o fiz meu por mim próprio, e foi o meu fim e o do amor, e agora, depois desse tempo, às vezes, parece que ainda não saí da escola.



terça-feira, 27 de março de 2012

(In)sensibilidades



- Há certas silhuetas que têm qualquer coisa de especial. No geral, são silhuetas que puxam ao imaginário do desejo, que nos agradam e nos chamam mas, quando analisadas mais de perto, quando escrutinadas ao pormenor, nada têm nada de extraordinário. São só a soma de vários perfis perfeitos num único, erróneo e banal. Não sei explicar o tipo de atracção que há nessas silhuetas ou o que é que me faz sentir assim...

- Isso, é miopia.



segunda-feira, 26 de março de 2012

Lol


- Ponto a favor: não escreve lol.
- Porquê a favor?
- Porque não gosto! Porque gosto de me rir com todos os 'a' e 'e' que isso implica, bem alto, junto dos 'h', ambos repetidos: dois pares para o riso modesto; repetição infinita para muita piada; e maiúsculas para o choro !
- Vou ter de me apaixonar para continuar a conversar contigo, não percebi metade...
- AHAHAHAHAHAHAHAH


domingo, 18 de março de 2012

32Gb de olhos verdes



- Não me sai da cabeça...
- Não consigo deixar de pensar nisto...
- Há qualquer coisa naquela miúda...
- Não sei qual compre...
- aquelas sardas, aquele olhar...
- a versão de 16 ou de 32 ?
- aquela inquietude toda, sempre a mexer a cabeça, e de repente...
- é que não sei se tenho tanta música para lá por.
- fixa-te os olhos e o mundo à volta desaparece...
- A diferença de preço ainda é grande.
- deixo-a de ouvir e só vejo aqueles olhos...
- se calhar vou para o de 16.
- e aquela pinta no meio do olho esquerdo a interromper todo aquele verde magnífico? Deixa-me sem fala...
- Encomendo já hoje para estar cá 5ª.
- E as conversas ?
- Por acaso já me estava a sentir a mais.
- Acho que devias comprar a versão de 16.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Valor



- Se fosse eu que estivesse no teu lugar... Tu dá valor ao que tens !
- Darei valor ao que tenho, quando lhe der valor, não antes (pelo que ainda não sei) nem depois (pela saudade do já que soube).


terça-feira, 13 de março de 2012

Outros tempos



Houve um tempo,
que conduzia toda a noite só para estar de manhã,
que oferecia flores
e de tão bom,
era mau.
Em tempos,
houve um tempo de música nova,
de longas manhãs
pelas longas noites anteriores,
de vinho tinto e de carne.
Em tempos,
o tempo era de planos desmesurados e sem medidas,
as esperas eram agonizantes
e, por ser um tempo que se julgava não ter fim,
não se media o infinito.
Em tempos,
houve um tempo de um sol diferente para uma pele despreocupada,
de um insosso mar sem sal,
de voadoras estrelas cadentes
e do estranho bom tempo.
Tempos houve do Genuíno e da dúvida,
do Calor e da indiferença,
do Querer e da simples vontade.
Houve em tempos,
um desejo que começou com um vento que nunca estava longe,
era o tempo em que o vento me falava
e eu contava os dias e as horas,
era um tempo de magnífica ingenuidade,
de línguas revoltas e ignorantes corpos,
eram tempos sem gatos nem ciúmes...
e até eram bons tempos...
mas isso,
eram Outros tempos.


quinta-feira, 8 de março de 2012

Paridela Mental

Se me dizes, porque não me apetece.
                              Não argumentarei.

                              Se me dizes, porque não quero.
                                                            Nada direi.

                                                            Mas se me dizes que achas que não,
                                                                        então,

                                                             perguntar-te-ei porquê.

                              Não tentarei mudar a tua opinião,
só as premissas pelas quais a acentas,

e assim,

                partindo deste raciocínio,

                                     argumentando desta forma,

                                                                                                              mudarei o mundo.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Vento



O fim do Verão é sempre um momento de calma.

Há uma ligeira mudança no ar.

Continua a ser Agosto,

o sol brilha,

mas já traz o conhecimento do que se avizinha.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

L.M.F.C.P.


Como é que se diz a um irmão que o seu irmão acabou de morrer. Com que frieza se engole em seco e se diz, o tio morreu. Com que forças para não chorar o mundo num rio se consegue aguentar, quando nos pedem para repetir, porque não ouviram, porque não podem ter ouvido, porque o que parece terem ouvido é impossível, porque é do mais novo de 5 que fala, o último e, por isso, também será sempre o último a ir. O tio morreu. Se tivesses largado uma lágrima não teria tido força para mais nada senão ficar imóvel a ver-te. Se calhar, é de ti a força que se instala nesta garganta que engole em seco, a mesma força com que informo a minha mãe, a força que a minha mãe não tem porque me pergunta mais vezes o que acabei de dizer, e repete, e me pergunta o que lhe acabei de dizer, a força que não tem porque a perdeu toda naquele instante, porque também ela não percebe nem acredita. Mas foi a tua força que quebrou mais tarde o silêncio. Eu, que nunca me calo mas tanto gosto da ausência do som, nunca um silêncio me calou tanto.
Como é que se perde um tio sem se pensar num pai. Como é que se perde um pai sem se pensar num pai. Como é que se pensa quando se perde um marido e como é que se entende quando ninguém explica porque é que acontece o que acontece. Como é que tens tanta força junta para conseguires a ousadia de te sentares assim nesse sofá, com essas lágrimas de coragem.
Voltou a ser natal: todos. Menos um.
"Um choque"; "Não valemos mesmo nada"; "Foi como ele queria que fosse". Mas eu não sei dizer essas coisas, nem sei chorar à frente dos outros. Não foste tu que me ensinaste que mais vale fugir para um canto, mas foi contigo que aprendi a desaparecer para a sombra mais densa de um cedro, para um escuro alheio do mundo e, principalmente, de todos. Esconder um rio de mãos tapadas e voltar a ser uma barragem. Foi só um pequeno riacho, não te preocupes e só nós os dois é que sabemos isso.
O mundo não parou mas o tempo não passa e despedimos-nos, um de cada vez, no desconforto da incerteza do dia certo do regresso, mas na única certeza que não cabe cá dentro de tão certa: tio morreu.