segunda-feira, 31 de outubro de 2011

sem título, propósito ou destinatário,



no concreto da busca,
procuro não sei bem o quê,
sem saber o que fazer quando encontrar,
mas pretendendo
(não sei bem como)
indagar a presença em silêncio mútuo.

Esta porta que se me apresenta na procura,
não lhe toco,
não lhe bato,
nem a passo,
porque não posso passar portas que não me vêem.

Deste meu lado,
aguardo o que só eu vejo:
a cobardia da procura pelo excesso de sanidade.

A coragem da procura
(de não sei bem o quê),
resulta do retrocesso da sanidade
e o retrocesso do passo
(ao encontrar o que procuro),
é o que me faz tristemente são.

Mesmo assim procuro,
e porque as portas não falam,
arrepio caminho,
e amanhã,
volto a procurar.



sexta-feira, 28 de outubro de 2011

المغرب‎ - Marché des Caravanes, nr. 19: Vous connaît la crise mondiale ?




Quando nos voltamos a reunir com Hammi, pedimos-lhe que no regresso nos leve onde comprar o chá de todo o Marrocos. Leva-nos a Rissani, a um antigo bazar de produtos alimentares, onde compramos todo o chá que vamos querer consumir e oferecer.
Perante a enorme agitação da cidade, Hammi explica-nos o movimento fora do normal, pelo decorrer do mercado tri-semanal e pela feira dos burros mensal. Centenas de burros estacionados, à espera de serem comprados por 100€ cada. A curiosidade impôs-se de imediato: "Et le dromedaire?". 1000€ e vendem-se uma vez por mês. Neste momento ficamos a saber o valor da Ana, pela qual ofereceram 20 dromedários. Antes de voltarmos ao jipe, perguntamos a Hammi sobre a possibilidade de entrarmos no mercado à nossa frente. Hammi hesita, olha para a entrada do mercado e diz que podemos ir se quisermos, mas que ele não pode abandonar o jipe. A polícia pode aparecer.
Entramos no mercado dos mercados, onde tudo se vende numa aparente confusão de produtos e pessoas. Fruto de como a televisão e as notícias nos apresentam parte do mundo árabe, a minha desconfiança aqui é maior do que nos outros sítios. Estamos por entre becos minúsculos, completamente rodeados de estranhos que nos parecem olhar com desconfiança. Talvez com a mesma aparente desconfiança que olharia para uma mulher de burka no meio de um nosso mercado municipal, mas que não seria mais do que a estranheza pela sua presença. Neste sentimento de empatia, destruo toda a desconfiança e torno-me imune aos olhares, sorrindo sempre em cada passo. Vários comerciantes revelam-se surpreendentemente simpáticos, ao cumprimentarem-nos, convidarem-nos a comprar qualquer coisa no seu espaço, ou simplesmente indicando as diferentes áreas do mercado que podíamos visitar. Uns oferecem o seu canto para tirar uma fotografia, outros, mais sérios, impedem vivamente qualquer tentativa. Um sorriso e um pedido de desculpa e prosseguimos por entre a carne exposta ao ar repleta de moscas, tâmaras a secar, roupa, pequenos produtos electrónicos chineses, chinelos, fruta, especiarias e tudo o que um Berbere poderá querer comprar, num mercado que parece ter tudo. Aqui, como em quase todos os outros locais, a interpelação é a mesma:
- Portuguixe? bátátáfrita.
E uma nova:
- Lixboa? Benfica!
Ao voltarmos, antes de sairmos, Pedro lembra-se que precisa de comprar tabaco e ofereço-me para voltar atrás com ele. Encontramos Ismael, um árabe que nos tinha acompanhado pelo mercado, mesmo perante a nossa indiferença, farta de compras impingidas. Agora, com pressa, pergunto-lhe onde podemos comprar tabaco. Sigam-me, responde. E sigo-mo-lo por entre o labiríntico mercado. Enquanto Pedro compra tabaco, Ismael explica-me que tudo o que tem vestido, incluindo um relógio da Nike, foi trocado com estrangeiros. A camisa e as calças da Toyota foi trocada, os sapatos foram trocados, tudo foi trocado. Não consigo evitar uma gargalhada e faz questão de dizer que fala muito a sério. Num riso, recuso-me a trocar de roupa com ele e pede-me que pelo menos tiremos uma foto da loja dele, para que possamos fazer publicidade em Portugal. Devolvemos a amabilidade de nos indicar onde comprar tabaco, aceitando.
Entramos para uma de três salas da loja, onde expõe um largo número de bugigangas e muitos dos típicos souvenirs marroquinos. Tira vários colares de uma gaveta e coloca-os em cima de uma mesa, enquanto comento com o Pedro que fomos só comprar tabaco há 10 minutos e ainda não voltámos. Responde-me com a escolha de um pequeno tambor de uma das prateleiras. Perante o interesse, de imediato entra o dono da loja, bastante mais velho que Ismael, pronto a fazer negócio com um fantástico tambor de pele de dromedário, muito resistente ás elevadas temperaturas. Ismael pede-me para o acompanhar a outra sala. Uma sala rectangular, com estantes do chão ao tecto repletas dos mais variados tipos de tapetes em todas as paredes e todo o centro da sala vazio. Pedro e o dono juntam-se nós e num sorriso que transparece a grande amabilidade e esconde ao máximo o vendedor, o dono diz-me:
- Estes são os nossos produtos, não têm que comprar nada, gostava só que vissem e se não estiverem interessados, pas de problem.
Começa a retirar tapetes que vai estendendo no chão.
- Este tapete é de seda com lã (1º). Podem reparar na qualidade superior.
E estende um bonito tapete em tons de amarelo, bem trabalhado, aparentemente de boa qualidade para o meu olho não especialista.
- Este, é de lã (2º). Não tão bom.
Confirmo com o olhar que é notória a diferença de qualidade.
- E este é de fraca de qualidade (3º), como se pode reparar pelos pespontos e o fraco acabamento.
E entende-o no chão, com indiferença por aquela pobre peça.
Ismael passa-lhe um pequeno caderno já escrito e uma caneta e o dono escreve-me o preço dos três tapetes:
1º 1600 DH
2º 980 DH
3º 560 DH
Passa-me o caderno para as mãos e pergunta-me:
- Quando aqui entraste, quando olhaste para todos estes tapetes, qual foi o primeiro valor que te veio à cabeça? O primeiro de todos!
Na folha de papel quadriculada do pequeno caderno escrevo 200 e devolvo-lhe o caderno.
- Muito bem. E o preço com o tambor?
Passa-me novamente o caderno, olho para o Pedro, escrevo 250 e devolvo-lhe o caderno.
- Ok. Escreve-me o teu máximo possível pelo tambor e pelo tapete.
O dono não revelava qualquer emoção de surpresa ou indignação sobre as ofertas que eu ia escrevendo. Limitava-se a sorrir, interrompendo por vezes a venda para afirmar que podíamos eventualmente não chegar a um acordo, mas que não havia qualquer problema. Uma espécie do nosso, amigos à mesma.
Ismael interrompe e do outro lado da sala pergunta-nos:
- Chá com ou sem açúcar?
Tratando-se de um negócio, o chá era óbvio e obrigatório, a única questão era o tempero.
Para definir o máximo possível voltei a olhar para o Pedro que me responde em silêncio, num olhar cúmplice que retrato na folha de papel quadriculada: 300.
- Não pode ser! O máximo! Aquilo que é mesmo o máximo!
E apercebendo-se da minha troca de olhares para o Pedro, rouba-me o caderno das mãos e dá-o ao Pedro. O máximo dos máximos: Mais dois euros e escreve 320. O dono faz um ar sério e diz:
- Uma proposta séria!
Fazemos uma contas rápidas em voz alta, falamos um pouco de português com uma voz universalmente indignada e Pedro sobe um euro: 330. O dono solta uma genuína gargalha e diz-me que posso ir embora porque vai ficar a negociar com o Pedro. Esboço um leve sorriso e ele retira novamente o caderno das mãos do Pedro e pergunta-me:
- Vous connaît la crise mondiale ?
- Conheço muito bem!
E soltamos os três uma enorme gargalhada.
- Ok. Escreve aí a tua proposta final. Aquela que ou é ou não é. O que escreveres, ou aceito, ou amigos à mesma. A tua proposta final!
Pergunto a Pedro quanto quer pagar pelo tambor, fazemos contas e decidimos o nosso máximo. Escrevo 350 e devolvo-lhe o caderno.
O dono gesticula, fala em Árabe como se já não estivéssemos na sala, pressiona o topo da caneta fechando-a e guarda-a no bolso, continuando aquilo que não conseguimos compreender. O negócio terminou. Tinham passado mais de quarenta minutos desde que fomos "só ali comprar tabaco" e podíamos finalmente regressar. Imaginava a preocupação de quem nos esperava.
- Ok. Fechado! Mas com uma condição! Têm de fazer publicidade sobre nós em Portugal e junto dos vossos amigos. Sem compromisso, claro.
Ismael acompanha-nos à saída. Dá-nos um aperto de mão e deseja-nos boa viagem.
Ana estava dentro do jipe com Hammi. Aparentemente, teve que se refugiar da multidão que a começou a cercar, cada vez mais próxima dela e da sua beleza ocidental de ombros destapados.
Partimos em direcção a Ouarzazate.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

المغرب‎ - Sahara (parte 2)

Eu, que não acredito na perfeição e raramente uso a palavra, senti neste momento, um momento perfeito. Um momento em que não havia nada para dizer senão escutar. Um momento que me aquecia tanto como o chá. Um momento, que só por ser aquele momento, perfeito, me fazia sorrir. Aqui não há nada, por isso, não se pensa em mais nada. Aqui, pensa-se no que se vê: aqui moram mais estrelas. E no fim deste momento, conversa-se sobre tudo isto.
Hakim presenteia-nos com algo completamente diferente: arroz com tomate e ervilhas de uma qualidade estranhamente elevada. Novamente, não pedíamos mais. Por nós, era aquele O jantar, mas refeição que é refeição tinha ter Tagine de frango. E porque tudo era diferente, ao melão acrescentou laranja e foi tocar djambé ao som reggae da minha melhor escrita Berbere: "Oh saramáá, oh saramÁÁÁ, oh sARAMÁÁÁÁ!". Resolvemos rodear Hakim e o tímido amigo que o acompanha com as lanternas de velas espalhadas, para que nos pudéssemos juntar.
Tratando-se de um país muçulmano, onde o álcool praticamente não existe, não resistimos em comprar no aeroporto uma garrafa de whisky para a viagem. Este era o momento de a saborear. Enquanto bebia pela primeira vez com gosto um whisky, quente, sem gelo, Hakim pergunta-me o que bebo. Não ofereço por ter medo de ferir susceptibilidades culturais mas Hakim é diferente de todos os outros árabes até então e oferece-se para provar. De um trago, bebe todo o meu copo de whisky, engelha todas as rugas da cara e após uma falta de ar que lhe vem de uma convulsão no peito, dirige-se a Muhammad, o seu amigo, naquilo que me parece ter sido uma série de sonoros praguejares. Muito forte!, diz no final.
Hakim apenas arranhava o espanhol, mas preferia-o ao seu francês fluente. Queria treinar. Perguntamos-lhe como aprendeu.
- Com a escolha da vida, responde, colocando-se numa postura mais sábia.
Este é o único momento que Hakim não está a brincar, a ser engraçado ou a ter piada.
- Há dois tipos de pessoas: abertas e fechadas. Há quem venha aqui e vá dormir. Há quem venha aqui e fique, e converse, e cante... portugueses, italianos e espanhóis... tudo o resto não interessa, diz sério.
Perguntamos-lhe se conhece outros países. Esteve de passagem em Espanha. Quem sabe, um dia podes ir a outros sítios, sair daqui, conhecer o mundo.
- Nasci no deserto, vou morrer no deserto.
- Não sabes. Quem sabe um di...
- Nasci no deserto, vou morrer no deserto!
E termina com esta frase o único momento sério. Depois cantamos, conversamos, tocamos, tornamos a cantar, partilhamos e o Pedro improvisa o acompanhamento com uma guitarra. Ás 5h é o despertar para ver o nascer do sol, por isso, ás 23h achamos que o Hakim está cansado e deixamo-lo ir dormir.
Para nós ainda não é hora e decidimos ir caminhar pelo deserto nocturno. Uma lanterna à porta do acampamento e uma outra para nos iluminar o caminho e traçamos como objectivo a silhueta da duna mais alta. No deserto, parece existir sempre uma duna mais alta que a anterior e a porta do acampamento é agora um pequeno ponto longínquo de luz. Finalmente, num consenso de altura, como se quiséssemos (e conseguíssemos) observar a paisagem do alto da noite, sentamo-nos no topo da duna mais alta. Este é o momento mais perfeito do deserto. Esta é a definição de ausência de som, pois é aqui que o silêncio toma outro significado. Só um poeta talvez o conseguisse definir. O silêncio do deserto é ouvir apenas o vento que nada traz com ele. Foi quando decidimos voltar que reparamos na porta do acampamento. Tinha-se apagado. Felizmente o deserto tinha memorizado os nossos passos e voltámos, de olhos no chão, repisando as mesmas pegadas até chegarmos aos nossos aposentos, para finalmente dormir.


quarta-feira, 26 de outubro de 2011

المغرب‎ - Sahara (parte 1)



Os grandes sonhos rodeados do desconhecimento, geralmente, não são muito grandes. Quando são sítios por descobrir, um sonho em forma de viagem chega a ser referido apenas pelo seu Continente: Quero ir a África! Do meu ainda muito desconhecimento do mundo, nasceu o sonho do deserto: Quero ir ao deserto! Ao Deserto do Lawrence e da Cleópatra, ao Deserto do National Geographic e, principalmente, ao poético Deserto amarelo das fotos. Pouco lúcido (que é uma  espécie de simpatia para comigo mesmo ao não me chamar estúpido), houve uma altura em que a única coisa que queria desta viagem era ir ao deserto. Tipo teletransporte e voltar. Foi de resto como tudo surgiu mas, felizmente, estes meus momentos têm tanto de lucidez como de duração.
Hammi explica-nos que existem dois tipos de deserto: o do sonho - Erg (de que faz parte o Sahara), e aquele que ninguém fala nem visita, por ser completamente rochoso - Hamma. Debaixo de 40º que confundem a miragem do horizonte em final de tarde, cercados pela inóspita paisagem de terra preta, queimada para sempre pelo sol, o Hamma, há já uma centena de quilómetros que nos acompanha. A 40Km da fronteira com a Argélia eis que surge Erg, magnífico, numa das mais maravilhosas paisagens da natureza.
Hammi dá-nos indicações sobre o que se segue: vamos trocá-lo por Hakim.
Durante a viagem houve sempre uma contagiante tentativa de nos sentirmos, para nós próprios, de alguma forma únicos. Por vezes ingénuo, eu queria ser descobridor, e quando não conseguia, sentia uma quase desilusão. Foi o que senti quando Hakim soube que éramos portugueses: "portuguixe? fixe fixe peniche; Queres queres, não queres não comes!". Já estava colonizado.
Hakim obrigou cada um a levar duas garrafas de litro e meio de água consigo. Devidamente apresentados aos dromedários, seguimos viagem deserto dentro. 8 Km em duas horas, apenas (por vezes) desconfortáveis no rabo e onde a cada metro o silêncio era mais puro, os resquícios de civilização menores, a areia mais virgem e o sol mais baixo.
Chegamos já de noite a um pequeno acampamento sem ninguém. Hakim, aponta-nos os nossos humildes aposentos e oferece-nos um chá de boas vindas para relaxarmos, enquanto prepara o jantar. Não que estivéssemos à espera, mas no deserto não há casa de banho nem qualquer forma de nos lavarmos.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

المغرب‎ - Hammi



"Hammi, nous ne aimes pas beaucoup des touriste!", foi das primeiras coisas que lhe disse.
Hammi tem 26 anos mas, talvez pelo ar sério dos seus óculos árabes, aparenta bastante mais. Na sua carta de condução (que troco em forma da partilha cultural pelo meu cartão de cidadão), aparenta os 24 anos da altura, um pouco diferente, com bastante mais cabelo, mas onde não estava, como agora, casado há 3 meses. Afinal, pensei no momento, talvez não haja assim tanto contraste cultural como isso...
Hammi é o nosso reservado mas bem disposto guia de serviço e, apesar da coincidência de algumas paragens estratégicas iniciais, junto de vendedores de estrada astuciosamente colocados, parece cumprir bem o pedido de visita a Marrocos turístico sem turistas. Nunca saiu de Marrocos e, se por vezes parece não se importar com isso, outras, embora não o dizendo, transmite alguma curiosidade de visitar o país dos turistas que o visitam. Num país onde o ordenado mínimo ronda os 200€, o turismo rende-lhe 250. Di-lo com naturalidade, sem qualquer lamento.
Em cada paragem, Hammi não nos acompanha. Por vezes comporta-se como um alegre motorista, rigoroso com o tempo de paragem embora sem nunca exigir que nos apressemos. Durante toda a viagem vai explicando a paisagem, mas na altura de sair, não abandona o jipe. Não é exigente com as pré estabelecidas horas de oração árabe. Se estamos em viagem, reza quando chegarmos.
Às refeições, consegue sempre escapulir-se antes que lhe perguntemos alguma coisa e a meio da viagem, fartamo-nos desta evasão impessoal e o Nuno diz-lhe que a partir de hoje vai sempre almoçar connosco. Que fazemos questão. Hammi come com as mãos e nós de talheres. Hammi pede uma água e nós uma rara cerveja marroquina. Hammi pede sempre a tajine e nós evitamos sempre a tajine. Explica-nos que todos os dias, ás 7h da manhã, come uma sopa e um chá. Ao almoço, tajine de poulet ou a tajine de bouef e ao jantar acrescenta um acompanhamento de arroz ou batatas. Todas as sextas-feiras come cous-cous e tudo isto, durante toda a vida.
Numa das refeições aproveito para lhe perguntar sobre o seu recém casamento. Casado há 3 meses, fala da cerimónia com um misto de timidez infantil e de contentamento. O casamento durou 3 dias. Muito diferente de um casamento português que lhe mostro, do meu último ainda presente na máquina digital. Não tem fotos do dele, mas tem o do primo no telemóvel, que partilha. Ao primeiro dia, a noiva apresenta-se tradicionalmente toda tapada e só no último revela o rosto. Perguntamos-lhe por filhos e volta o sorriso comprometido de criança.
- Para o ano... talvez, diz rindo. Para o ano!, diz sério.


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

المغرب‎ - OPO / RAK



Com saída prevista para as 15h, às 14h, ainda enviávamos mensagens uns aos outros a informar que estávamos a sair do trabalho para ir fazer a mala e tomar um último banho. Este era o nosso estado de relaxamento. Os joelhos no chão do Francisco Sá Carneiro, virados para a nossa Meca em forma de cartaz de bacalhau com broa (que tanta saudades ainda viríamos a sentir), representava o nosso estado de espírito.
Marrocos foi a nossa inauguração de África e, Marrakech, é acima de tudo, um mundo à parte para qualquer ocidental não habituado a este continente, onde tudo é diferente e, de europeu, só o Francês. Se existem nove milhões de bicicletas em Beijing, Marrakech parece ter o equivalente em motas, o mesmo trânsito e o dobro do caos. Mohammad, o nosso taxista, parece sorrir com deleite ao nosso ar incrédulo sempre quase batemos em alguém e sorri ainda mais ás nossas interjeições de tal confusão. Serpenteia-se por entre motas, carros e pessoas que não respeitam quaisquer do nossos códigos de circulação ou regras de segurança. "Come le chinois", goza Mohammad.
- É aqui, diz enquanto aponta para um beco escuro onde o carro não passa. Sempre em frente e depois à direita.
Para primeira noite escolhemos um Riad perto da praça Djemaa el Fna. Uma quase modesta porta de entrada, revela no interior um antigo palacete marroquino, escondido por entre as movimentadas ruas da cidade. O nosso porto de abrigo é, em conceito, semelhante à europeia "guest-house", mas mais sumptuoso. No interior impera a calma, imposta pelo som de uma fonte interior, o sítio ideal para relaxar num banho, depois de uma visita nocturna a uma das maiores e mais movimentadas praças de África e do mundo. Marrakech profunda e diurna ficaria para outro dia, pois bem cedo teríamos, pela primeira vez, Hammi à nossa espera.

domingo, 23 de outubro de 2011

2 meses de leite com salada, entre outros




A comida estragada preserva-se muito melhor no frigorífico do que a comida em bom estado.



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

undoubted




it's not a question of love.
that,
is unquestionable.

it's not a question of passion.
that,
is undeniable.

it's just a matter of sanity,
and that,
is incontestable.



domingo, 16 de outubro de 2011

Frio, onde estás ?



O cérebro humano masculino está preparado para 4,1 meses de calor seguidos e 3,75 meses de roupas frescas, justas e curtas. Findo estes, provou um estudo recente, há lugar a descompensações hormonais de crescimento exponencial.
Frio, onde estás ?


sexta-feira, 14 de outubro de 2011

caminhos



- Olá! Por aqui ?
- Isso digo eu: Por aqui? Que tal foi ?
- A melhor experiência da minha vida... 15 meses de estudo, de trabalho, de viagens... voltei há um mês e ainda me custa tudo isto... mas o melhor foi a Tanzânia... as crianças, África, tudo! Adorei! E tu ?
- Eu, comprei uma casa e para o ano vou-me casar. Temos que sair um dia destes.



quinta-feira, 13 de outubro de 2011

auto crença



- Um estudo recente provou que o consumo regular e continuo de vitamina D tem grande influência na saúde futura de um individuo, diminuindo drasticamente, por exemplo, o risco de cancro.
- Deve ser por isso que sou tão saudável e nunca tive qualquer problema de saúde... todos os dias, nos passados 20 anos, bebi sempre um sumo de laranja por dia.
- A vitamina da laranja não é a B ?
- Tens razão... Qual é a D ?
- É a do peixe.
- Pois... Esses estudos valem o que valem...


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

gesto


Apontando para o agora, num círculo completo na sua direcção, afirmou:
"Até à próxima vez"