quarta-feira, 26 de outubro de 2011

المغرب‎ - Sahara (parte 1)



Os grandes sonhos rodeados do desconhecimento, geralmente, não são muito grandes. Quando são sítios por descobrir, um sonho em forma de viagem chega a ser referido apenas pelo seu Continente: Quero ir a África! Do meu ainda muito desconhecimento do mundo, nasceu o sonho do deserto: Quero ir ao deserto! Ao Deserto do Lawrence e da Cleópatra, ao Deserto do National Geographic e, principalmente, ao poético Deserto amarelo das fotos. Pouco lúcido (que é uma  espécie de simpatia para comigo mesmo ao não me chamar estúpido), houve uma altura em que a única coisa que queria desta viagem era ir ao deserto. Tipo teletransporte e voltar. Foi de resto como tudo surgiu mas, felizmente, estes meus momentos têm tanto de lucidez como de duração.
Hammi explica-nos que existem dois tipos de deserto: o do sonho - Erg (de que faz parte o Sahara), e aquele que ninguém fala nem visita, por ser completamente rochoso - Hamma. Debaixo de 40º que confundem a miragem do horizonte em final de tarde, cercados pela inóspita paisagem de terra preta, queimada para sempre pelo sol, o Hamma, há já uma centena de quilómetros que nos acompanha. A 40Km da fronteira com a Argélia eis que surge Erg, magnífico, numa das mais maravilhosas paisagens da natureza.
Hammi dá-nos indicações sobre o que se segue: vamos trocá-lo por Hakim.
Durante a viagem houve sempre uma contagiante tentativa de nos sentirmos, para nós próprios, de alguma forma únicos. Por vezes ingénuo, eu queria ser descobridor, e quando não conseguia, sentia uma quase desilusão. Foi o que senti quando Hakim soube que éramos portugueses: "portuguixe? fixe fixe peniche; Queres queres, não queres não comes!". Já estava colonizado.
Hakim obrigou cada um a levar duas garrafas de litro e meio de água consigo. Devidamente apresentados aos dromedários, seguimos viagem deserto dentro. 8 Km em duas horas, apenas (por vezes) desconfortáveis no rabo e onde a cada metro o silêncio era mais puro, os resquícios de civilização menores, a areia mais virgem e o sol mais baixo.
Chegamos já de noite a um pequeno acampamento sem ninguém. Hakim, aponta-nos os nossos humildes aposentos e oferece-nos um chá de boas vindas para relaxarmos, enquanto prepara o jantar. Não que estivéssemos à espera, mas no deserto não há casa de banho nem qualquer forma de nos lavarmos.

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