terça-feira, 25 de outubro de 2011

المغرب‎ - Hammi



"Hammi, nous ne aimes pas beaucoup des touriste!", foi das primeiras coisas que lhe disse.
Hammi tem 26 anos mas, talvez pelo ar sério dos seus óculos árabes, aparenta bastante mais. Na sua carta de condução (que troco em forma da partilha cultural pelo meu cartão de cidadão), aparenta os 24 anos da altura, um pouco diferente, com bastante mais cabelo, mas onde não estava, como agora, casado há 3 meses. Afinal, pensei no momento, talvez não haja assim tanto contraste cultural como isso...
Hammi é o nosso reservado mas bem disposto guia de serviço e, apesar da coincidência de algumas paragens estratégicas iniciais, junto de vendedores de estrada astuciosamente colocados, parece cumprir bem o pedido de visita a Marrocos turístico sem turistas. Nunca saiu de Marrocos e, se por vezes parece não se importar com isso, outras, embora não o dizendo, transmite alguma curiosidade de visitar o país dos turistas que o visitam. Num país onde o ordenado mínimo ronda os 200€, o turismo rende-lhe 250. Di-lo com naturalidade, sem qualquer lamento.
Em cada paragem, Hammi não nos acompanha. Por vezes comporta-se como um alegre motorista, rigoroso com o tempo de paragem embora sem nunca exigir que nos apressemos. Durante toda a viagem vai explicando a paisagem, mas na altura de sair, não abandona o jipe. Não é exigente com as pré estabelecidas horas de oração árabe. Se estamos em viagem, reza quando chegarmos.
Às refeições, consegue sempre escapulir-se antes que lhe perguntemos alguma coisa e a meio da viagem, fartamo-nos desta evasão impessoal e o Nuno diz-lhe que a partir de hoje vai sempre almoçar connosco. Que fazemos questão. Hammi come com as mãos e nós de talheres. Hammi pede uma água e nós uma rara cerveja marroquina. Hammi pede sempre a tajine e nós evitamos sempre a tajine. Explica-nos que todos os dias, ás 7h da manhã, come uma sopa e um chá. Ao almoço, tajine de poulet ou a tajine de bouef e ao jantar acrescenta um acompanhamento de arroz ou batatas. Todas as sextas-feiras come cous-cous e tudo isto, durante toda a vida.
Numa das refeições aproveito para lhe perguntar sobre o seu recém casamento. Casado há 3 meses, fala da cerimónia com um misto de timidez infantil e de contentamento. O casamento durou 3 dias. Muito diferente de um casamento português que lhe mostro, do meu último ainda presente na máquina digital. Não tem fotos do dele, mas tem o do primo no telemóvel, que partilha. Ao primeiro dia, a noiva apresenta-se tradicionalmente toda tapada e só no último revela o rosto. Perguntamos-lhe por filhos e volta o sorriso comprometido de criança.
- Para o ano... talvez, diz rindo. Para o ano!, diz sério.


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