sábado, 30 de abril de 2011

não é tudo



ao longe cada vez mais perto: mulata linda. de cor perfeita. silhueta fina, desenhada, torneada. fazia-se passear em jeito de andar por casa, quase que desleixada, indiferente ao mundo, prendendo o mundo a cada passo, a cada passo, a cada passo, cada vez mais perto. Balzaquiana de metro e oitenta, cabelo matinal apanhado, de indumentária prática mas justa, a provocar a imaginação de um corpo. perfeita na sua imperfeição, magnífica na face e no ser desconhecido, por ser desconhecida, por ainda não ser nem existir para o mundo senão em ancas balançadas em molto pianíssimo, suave, a cada passo... a cada passo... cada vez mais perto, até chegar perto, olhar para o lado, revelando o esplêndido perfil, inclinando-se um pouco, como uma delicada criança que inicia a procura de algo que acabou de deixar cair, indiferente ao mundo e o mundo atento, a olhar, fixado. e, fazendo-se ouvir, "RRRáááK! PUUU!", escarrou. O mundo acordou, saiu do pause, continuou e comentei, "...não é tudo...".



sexta-feira, 29 de abril de 2011

Espero por ti cá em cima




- Papá, para onde vai aquele avião?
- Vai para o céu.
- ...ter com a mamã?



quinta-feira, 28 de abril de 2011

ouço um barulho... são grilos a cantar ou dentes a ranger?

Artista Convidado #7

Naquele piso, cheirava a polvo de morrer para o lado. Fiquei sem gás em casa. Partilhando (em conversa, que sozinho já é algo difícil de suportar) um duche de água fria, chegámos ao culpado:

- Estava aqui a tentar fazer uma ligação genial do caso do gás com o suspeito cheiro a polvo, mas não consigo… se calhar foi o Paulão do 5º esquerdo, na esperança que lhe peças para tomar banho em casa dele..
- Eu acho que me puseram a válvula para dentro, mataram um polvo que estava nos arrumos e esconderam-no no respiradouro do corredor. Se pensares bem, assim bate tudo certo. Só falta descobrir quem foi... Curiosamente, já vi um Paulinho a rondar a área do elevador, mas não sei o andar dele (refiro-me à casa, o outro acho era... funny) e fiz questão de carregar no botão só depois de ele sair...
- Watson, não estás a fazer a ligação entre os dois acontecimentos… Vou-te explicar: o funny-walking-paulinho foi atacado pelo polvo (ele no principio até gostou, mas o vácuo dos tentáculos assustou-o) e houve uma grande briga. Na discussão, o paulinho atirou o polvo contra o contador do gás (se lá fores ainda estão lá os restos de coentros e arroz) e, infelizmente, polvo e válvula sucumbiram ao traumatismo. Paulinho, em pânico, não sabia o que fazer e escondeu-o no respiradouro do corredor. Quando o viste, ele já tinha as mão sujas de azeite, mas ainda estava indeciso em deixar lá o corpo ou não. O andar esquisito foi causado pelo vácuo... Elementar.



quarta-feira, 20 de abril de 2011

juízos




Uma boa decisão vem da experiência... grande parte da experiência vem de más decisões.




terça-feira, 19 de abril de 2011

Ajuda Externa




- Desculpe, estou um pouco perdida... Sabe-me dizer onde é a caixa geral?
- Está um pouco longe... Segue por esta rua e, naquele cartaz ao fundo, corta à esquerda. Vai sempre em frente e vê logo o bavarouss. Atravessa-o e ao pé do eyzarouss deve ver logo a caixa.
- Ai que chatice. Sabe, é que me enganei na saída dos transportes.
- Mas não se preocupe, é só ir por ali e vê logo.
- ...
- ...
- Acho que vou antes por aqui. Obrigada.



segunda-feira, 18 de abril de 2011

Polícia Sinaleira




não parecia ser um dia diferente de todos os outros dias, até se aperceber da diferença para todos os outros. dias. uma qualquer coisa de estranho na ausência de movimento na rua: sem carros. Não havia carros porque não havia pessoas e, mesmo assim, resolveu ir trabalhar. Chegou mais rápido do que o normal porque não havia carros. Afinal, não havia pessoas mas, mesmo assim, parou em todos os sinais e semáforos vermelhos. Telefone. Ninguém atende porque não há ninguém para atender por isso também ninguém telefona e lembrou-se que tinha fome, mas sem pessoas, não havia comida.
Passou uma semana a chover guarda chuvas fechados. Quando voltou a fazer sol, não resistiu a andar nu pela cidade. Andar nu pela grande avenida era uma sensação de liberdade que nunca antes tinha experienciado. Era mais do que a de um apartamento de persianas corridas, mais do que a de um terreno privado no meio do campo e ainda mais do que a de uma praia aparentemente deserta.
Cada dia que avançava, avançava mais uma rua. Andava mais. Despido como a cidade, sem carros nem pessoas porque não havia mais pessoas nem havia mais cidade. Não existia o mundo. Só existia a pele de sexo caído e livre, a passear pelo nada e o silêncio.
Quando deixou de contar os dias, de se importar com a roupa, quando deixou de ir trabalhar, mesmo sem carros nem pessoas, a caminho de casa, no meio do cruzamento sem carros, a dirigir o trânsito imaginário, estava ela. Toda nua e a sorrir disse-lhe, Bom dia! e o mundo da manhã seguinte voltou aos carros e ás pessoas e o telefone tocou porque estava atrasado e tinha sido despedido porque fazia um mês que não ia trabalhar.



segunda-feira, 11 de abril de 2011

Pequena Fuga




Afinal, o mar não é assim tão salgado,
os nosso pés, não são assim tão diferentes e,
apesar de o sol queimar,
queima de tão bom que queima a sorrir.

O frio, resolve-se com um abraço,
A fome, saceia-se com a presença e,
o amor,
contém-se em pequenas fugas de beijos enormes,
só para que não seja pegabicho e enjoado e todo de uma só vez.

As noites, são passadas a desejar que a cara acorde,
o vento, refila e grita para que a cara acorde
e só depois, se cala e finge que dorme.

Os dias, são desejos de infindáveis tudos e,
a areia, é a minha pele e a tua pele e o meu suor e o teu suor, e,
nada mais senão a nossa pele e o nosso suor.


E passa o sol e mantém-se o mar,
e trocamos os pés e para sempre,
e mantemos uma nova cor e um sorriso,
e abraçamos o calor e contenho fugas,
e a saudade expulsa a fome e o amor alimenta o resto,
(e é só mais um pouco e seremos gordos outra vez!)
e a noite é só, mas cheia e plena e Feliz!,
e os dias, dizem que a culpa é do sol que se mantém e do mar que passou,
e o vento... não refila mais que não o deixo, nem o ouço, nem o quero,
porque esta areia, é para sempre,
e a minha pele, é para sempre.
E a tua pele e o meu suor e o teu suor e nada mais...
senão a nossa pele, e para sempre.


quarta-feira, 6 de abril de 2011

6/4 = 2























                                                                                  Houve tempo em que viagem era único pensamento,            único desejo,
e cada metro,
         minuto de única vontade.

Tempo houve em que único pensamento,
era desejo da viagem e passar dos minutos.
Tempo em que ar esperava pela calma e por porta.
Uma porta que, em tempos, se abria em sorrisos de mãos transpiradas.
Sonho de tempo sem viagem, do lado de dentro de uma porta.


            Houve ânsia de tempo,
   em que viagem
e partida,
                                                eram mais calmas que chegada,
        e era aí,
                                                            que tempo e mundo começava.


Chegados                                                :  
 mesma falta de vontade de partidas,
outro tempo                                                    ,
mãos ainda mais transpiradas                      ,
e mesmo único desejo de única vontade...



Parabéns! :)


terça-feira, 5 de abril de 2011

a gota de água



Este vai sendo o meu espaço, o rascunho de uma nova vida de onde não se vê nem ouve o mundo. Esta, é a minha casa, é o meu não alimento que masco a muito custo, que me doí a engolir e bebo e caio e levanto-me e bebo mais e fujo: devagar: longe: na cama aqui ao lado. É aqui que me lavo, a mim e à minha roupa, que a apanho e estendo, mas não é aqui que tento tratar de mim, porque tudo isto, podia ser tudo, que é... podia ser pior, que não pôde, mas foi: encontrei, nisto tudo, umas cuecas. E, naquele dia, podia ser tudo!... menos  aquelas cuecas!


segunda-feira, 4 de abril de 2011

dramático leproso




Estragou-se-me a música e foi assim mesmo que a decomposição começou: Estragou-se-me a música que me era tudo e agora nada ouço. Estragou-se-me o mundo por detrás da lente e agora tento-o guardar por mim. Por mim! que nem me recordo dos minutos anteriores a este. Estragou-se-me a comida que me fazia crescer e agora mirro. Estragou-se-me o sol que era de todos, depois nosso e agora só teu. E no final de tudo isto, estragou-se-me os dias, para que cada dia se arraste, sem o som solarengo por detrás da lente do mundo insípido e sem sabor.

E agora, a minha música é o meu silêncio. Os retratos, tiro-os para mim, de olho direito fechado, à espera que a minha fraca desculpa de cabeça os guarde por mais um dia ou outro. A minha comida, para o mal do meu interior, sou eu que a faço, sem sal nem gosto. A minha luz, é escura e fraca, ausente de calor que também esse ficou estragado. Como um leproso, vivo avelhentado pelo meu estado de putrefação invisível, corrompido pela ausência da luz e carência de nutrientes, numa doença mental, incómoda e nojenta que se revela na pele. A pele da minha pele que se escama, que cai de podre em pouco, pouco a pouco, de cada vez, em pedaços podres, senão já mortos, para remoçar a casca e reaparecer, não das cinzas (que não voo) mas da carne podre que sou e se amontoa.
E os meus dias, são tudo isto, mais um pouco.



domingo, 3 de abril de 2011

Is there?



There's a limit to your love
Like a waterfall in slow motion
Like a map with no ocean
There's a limit to your love
Your love, your love, your love

There's a limit to you care
So carelessly there, is it truth or dare
There's a limit to your care
There's a limit to your love
Like a waterfall in slow motion
Like a map with no ocean
There's a limit to your love
Your love, your love, your love




sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ri! Chora! liiindo... agora fica-me só a ouvir.




Os grandes espetáculos, como as grandes vidas, ou os grandes momentos de cada vida, tornam-se grandes pela capacidade dual de nos fazerem chorar e rir ao mesmo tempo. De nos ordenarem, como ordenaste, Ri!, Chora!, Triste!, Alegre!... lindo! Agora fica-me só a ouvir.

Alguém que nunca se engana, que sabe todos os lugares de cor, cada número e cada fila, indicou-me o lugar. Ainda não estava sentado e já me estavas a dirigir palavra. A mim! que só queria que o tempo passasse rápido, sem chorar rir ou emitir qualquer tipo de sentimento, para além da minha cara séria, quanto mais confraternizar.
20h50. Tiro o blazer, que esta noite está tão demasiado boa, que menos 2 graus eram bem vindos. 20h55 já éramos amigos. Por essa hora já nos riamos um com o outro e já só pedíamos para nenhum cabeçudo se sentar à nossa frente. 20h57, duas crianças minúsculas para três lugares à nossa frente. "Estamos safos", e o mesmo senhor que nunca se engana, porque sabe todos os lugares de cor e cada número, diz-me que estou mal. Felizmente não estou assim tão mal, porque só estou mal ao teu lado, mas estou bem atrás de ti. 21h e a conversa continua. Isto de espectáculos portugueses já se sabe, é cultural até, e nada começa ás 21h. Confesso-te agora, que senti muita inveja interior por já conheceres todas as salas de Lisboa e saberes de cor a sua acústica. Mas eu e Lisboa ainda não nos falamos muito bem, estamo-nos ainda a conhecer, mas cientes que vamos ser uma linda história de amor. Bom espetáculo. Para si também.
Mulher linda, a transbordar simpatia até à ponta do lenço na cabeça, inteligente, vivida e conhecedora da vida. Se isto não chegasse, cheia de sentido de humor. Cheia mesmo, que até se ri do que eu digo...
E isto de ser rico tem que se lhe diga. Posso comprar um lugar só para por o meu casaco.
Sabes o mais estúpido? Estranho até? É que se fosses a mesma pessoa, mas com outra idade, nem nos tínhamos falado. Tenho pena da minha cobardia por não te ter convidado para sairmos. Será que os teus 80 anos seriam um problema?