segunda-feira, 18 de abril de 2011

Polícia Sinaleira




não parecia ser um dia diferente de todos os outros dias, até se aperceber da diferença para todos os outros. dias. uma qualquer coisa de estranho na ausência de movimento na rua: sem carros. Não havia carros porque não havia pessoas e, mesmo assim, resolveu ir trabalhar. Chegou mais rápido do que o normal porque não havia carros. Afinal, não havia pessoas mas, mesmo assim, parou em todos os sinais e semáforos vermelhos. Telefone. Ninguém atende porque não há ninguém para atender por isso também ninguém telefona e lembrou-se que tinha fome, mas sem pessoas, não havia comida.
Passou uma semana a chover guarda chuvas fechados. Quando voltou a fazer sol, não resistiu a andar nu pela cidade. Andar nu pela grande avenida era uma sensação de liberdade que nunca antes tinha experienciado. Era mais do que a de um apartamento de persianas corridas, mais do que a de um terreno privado no meio do campo e ainda mais do que a de uma praia aparentemente deserta.
Cada dia que avançava, avançava mais uma rua. Andava mais. Despido como a cidade, sem carros nem pessoas porque não havia mais pessoas nem havia mais cidade. Não existia o mundo. Só existia a pele de sexo caído e livre, a passear pelo nada e o silêncio.
Quando deixou de contar os dias, de se importar com a roupa, quando deixou de ir trabalhar, mesmo sem carros nem pessoas, a caminho de casa, no meio do cruzamento sem carros, a dirigir o trânsito imaginário, estava ela. Toda nua e a sorrir disse-lhe, Bom dia! e o mundo da manhã seguinte voltou aos carros e ás pessoas e o telefone tocou porque estava atrasado e tinha sido despedido porque fazia um mês que não ia trabalhar.



Sem comentários: