quarta-feira, 29 de junho de 2011

Bóia Pretérita Imperfeita




Futura é a desilusão assombrada:
Planos por terra ____ de voar:
Cartas sem trunfos:
Ideias sós que não mais do que de ideias:
A representação teatralmente ocupada,
As Peças
Os Actos
Os Momentos em utopia que nunca ______,
apenas por terem sido planeados.
Os desejos,
muitas vezes agradecidos pelas estrelas,
________ maneira de lhe chegar,
encontra__-no.
Os planos, precisos,
elaborados,
mais certos ____ do fracasso.
Bisonho futuro de jovens planos,
Vate louco da vida!
- Estou cansado, disse.
Sinto um cansaço que é só meu e que por isso,
me cansa ainda mais,
Me corrói e me come os cantos de mim.
É um cansaço de estômago e de cabeça e de uma falta de vontade do mundo que me come o âmago.
É uma guerra de Domingo que amanhã será branca,
cada vez menos,
até ao próximo plano, ou Domingo.
É um cansaço pelo futuro de ontem e pelo passado de amanhã e é só isso que cansa.


quinta-feira, 23 de junho de 2011

mulher fatal




É uma noite quente, sufocante e sem vento. Daquelas noites que levam as pessoas a fazer coisas secretas, suadas. Eu espero. E escuto. Por momentos tudo fica tão silencioso quanto é possível em Sin City. Coiotes uivam nas colinas. O ruído das sirenes da polícia eleva-se no ar, antes de ser abafado pelo rugido surdo do tráfego. Começo a ficar com a perna direita dormente e penso em descer as escadas e recuperar o dinheiro com que subornei o porteiro, quando ouço o ruído das chaves na fechadura e eles entram...

- Esta é a última vez, Sally. Tem de ser a última vez!
- Como quiseres, Joey.
- Desta vez é a sério!

Ela desliza para fora do casaco como quem desembrulha um presente lentamente, para exibir o material. E que material! Tem um corpo capaz de despertar um morto. A voz é que estraga tudo. Uma vozinha aguda, de menina mimada. Açucarada e cheia de falsa inocência.


- Sonhei contigo ontem à noite, Joey. Foi um belo sonho. Queres que to conte?
- Hoje não tenho tempo para sonhos. Não tenho muito tempo. Tenho que voltar para casa cedo. Esta é a nossa última vez. Não posso continuar a correr riscos destes.
- Como quiseres, Joey. Tu mandas. Tu é que és o chefe.

Ele acrescenta mais uma boa meia dúzia de sílabas a "chefe", assobiando o fff final como uma profissional. Isso basta para deixar o idiota a arfar.


- É essa maldita da Glória. Não pára de me fazer perguntas. Aposto que suspeita de alguma coisa. Se me levar a tribunal fica-me com tudo!
- Tudo o que tu trabalhaste tanto para ganhar.
- Tens toda a razão. Trabalhei como um cão. Trabalhei a vida toda, noite e dia. Anos e anos. Construí um negócio do nada. Do nada!
- E ninguém dá valor ao teu esforço, Joey? Não como tu mereces.
- É isso mesmo. Ninguém! Nem os meus empregados, que se não fosse eu, andavam a pedir nas ruas e muito menos a Glória, grande puta! Vive na casa que eu lhe comprei, veste as roupas que eu lhe paguei com o dinheiro que custou a ganhar e não dá o mínimo valor ao meu esforço!
- Nem sequer se dá ao trabalho de tentar perceber a pressão a que estou sujeito. Nem sequer tenta! Maldita! Sempre em cima de mim, sempre com exigências. Nunca me deixa respirar tal como todos esses preguiçosos que não receberiam o ordenado se eu não lhes assinasse os cheques... Eles podem adoecer, mas eu? Nem pensar!
- Isso é porque tu és forte.
- PODER CRER QUE SIM! MAS ALGUÉM RECONHECE ISSO? NÃO! SÓ ME QUEREM EXPLORAR! UM DIAS DESTES DESPEÇO-OS A TODOS! MOSTRO-LHES QUEM É O PATRÃO. MOSTRO-LHE QUEM É QUE MANDA!
- Podes mostrar-me a mim, Joey. Podes mostrar-me quem é que manda.
- Eu vou-te mostrar... vou-te mostrar quem é que manda...

Então ela começa a gemer e a chamar-lhe chefe enquanto ele grunhe. A coisa termina depressa.
Já tenho tudo o que precisava. O mais triste é que algumas das fotos que tirei estão muito boas.


- Oh meu deus Joey. Foi fantástico. Fizeste-me sentir como uma mulher. Sei que soa foleiro, mas é verdade. A mais pura das verdades. Só um homem a sério faz uma mulher sentir-se assim.
- Amo-te, miúda. Sabes bem que te amo.
- Também te amo, Joey. Tu és tudo o que sempre quis num homem. Conto os minutos quando tu não estás. É a pura verdade! Começam-me a doer os pulsos. Podes-me passar as chaves das algemas. Estão na minha bolsa.
- Nem imaginas o quanto eu te amo! Quanto me tenho sacrificado. Quanto isto me custa...
- Joey... que estás a fazer?!
- Isto está a dar cabo de mim! Amo-te tanto... Mas tenho que o fazer! Trabalhei muito para chegar aqui! Como um cão! E a Glória vai ficar com tudo! A culpa é dela! Não tenho alternativa!
- Não, Joey! Por favor. Não digo a ninguém. Juro por deus!
- Eu sei que tu não queres falar, Sally, eu sei disso...
- Joey... suplico-te, querido...
- Não tornes isto mais difícil, puta de merda!
- Ninguém mata ninguém. Pelo menos à minha frente.
- MATA-ME JÁ ESSE CABRÃO!
- *WHUDD*


"Então, dás-me boleia?" pergunta ela na sua verdadeira voz, uma que há muito perdeu a inocência. Pego na chave e tiro-lhe as algemas. Servem para prender o outro palhaço até chegar a mulher da limpeza. À saída, ela dá-lhe um pontapé de despedida que lhe vai doer depois de acordar.
Apanho a estrada para El Redondo ao longo da colina até à cidade velha. É o caminho mais longo mas, da maneira como ela treme, imagino que este passeio só lhe fará bem. Ao princípio, o mais que ela consegue fazer é soluçar, assoar-se e fumar. Fuma-me seis cigarros. Quando ela estava a começar a acalmar, uma loura cheia de pressa quase que nos atira para a valeta. A pobre da Sally quase morre de susto. Aquela vaca conduz como se tivesse o diabo a persegui-la. Deve ser louca. Nunca há justificação para exceder os limites de velocidade.


- Obrigada por me salvares a vida, amigo!

Ela arranja a maquilhagem e afasta-se num passo sedutor enquanto acena um adeus e lança uma piscadela de olho cúmplice. Uma puta para outra. Foi a última coisa que vi dela antes de submergir no mar de carne da cidade velha.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

dramatikós


- Daqui a 30 dias vou morrer.
- Então, egoisticamente, serei a última pessoa que verás. Depois, morrerei eu todos dias, até te voltar a encontrar.



terça-feira, 21 de junho de 2011

Sebe




Assim que acabo de escrever, não me lembro do que escrevi e é apenas quando releio que me lembro do porquê de o ter escrito. Ás vezes, a meio do que escrevo, esqueço-me de tudo, depois, lembro-me da razão pela qual escrevo. Fosse eu outro e não escrevia. Tivesse eu tempo e vivido e certamente não teria escrito, mas só escrevo por viver e por um dia ter vivido qualquer coisa que valesse a pena escrever. Exprimo-me em letras, mas sou tímido, matreiro e desconfiado e por isso, as minhas letras não se percebem e, ainda mais por isso, tento que ao menos, já que não se percebem, que sejam bonitas de se ler e de se ouvir quando as dizemos a nós próprios, murmurando a sua leitura e respeitando as minhas pausas. Esta é a minha única regra e exigência: as minhas pausas. As longas, as curtas e as sem tempo, que ficam... no ar, a pairar, sem tempo, desconectadas e já sem sentido, como este, um daqueles momentos em que já não me lembro do que escrevi e só relendo me volto a lembrar do porquê de o ter escrito: Já tudo é demasiado fácil à nossa volta: o mundo é demasiado fácil, não se compram puzzles nem se percorrem encruzilhadas. Os meus labirintos correm o risco de ser só isso: uma mancha verde ao longe, elogiada raramente por quem gosta do som murmurado de um quebra cabeças mas que certamente não o percebe. Se perceber, que duvido, perceberá que me exprimo em letras, que não sei sequer falar, ou se gosto da minha língua. Gosto mais de corpos e de escrever sobre eles e... eis que surge mais uma sebe.


segunda-feira, 20 de junho de 2011

prudência

Assumamos que tudo o que pensamos dos outros é pensado sobre nós e o elogio será mais cuidado e o desdém repensado.


sábado, 18 de junho de 2011

Some things são qualquer coisa



Praticamos insistentemente para um momento que ainda não vislumbramos. Aperfeiçoamo-nos e tentamos influenciar o que nos rodeia, com qualquer coisa de nosso. Suspeitamos por qualquer coisa e guardamo-nos para ela. Deixamos o tempo passar, na esperança de que ele nos aperfeiçoe e que, com ele, venha qualquer coisa...

- What is this ?
- For you João, disse ela. Something I knew you'd like. Something for you to remember and, maybe, something for a special occasion.
"Something", disse-me ela. Detesto receber prendas. Nunca sei como reagir perante a desilusão e as expectativas desfraldadas. Demoro-me a rasgar o papel do pequeno embrulho mal embrulhado, caseiro e manual, como eu gosto. Na minha cabeça, treino já um sorriso satisfeito. Mas não há sorrisos desfraldados nem desilusão disfarçada.
- I'm... speechless... This is... amazing! Although I imagine this was what you intended to, I don't quite know if you're aware of how much I've appreciated this... I don't know what to say... Thank you!
Ela eleva o queixo e sorri um sorriso de missão cumprida, imagino eu (que não consegui tirar os olhos do desembrulho), de peito inchado e satisfeito. Termino numa contente voz de orgulho.
- I will save it for a very special occasion.

...eu pelo menos pratico essa suspeita e, principalmente passado todo este tempo, agora, que revejo a minha prenda de pó, penso insistentemente nela e nas suas implicações. É que ao pegar nela, no fundo, apercebo-me que há muito que expirou o prazo de validade.




quinta-feira, 16 de junho de 2011

aparte parêntesiado




São indicadores de má gestão financeira, de sanidade emocional comprometida e saúde mental dúbia (mas principalmente a primeira) quando o total do preço do Häagen-Dazs representa metade da fatura das compras de ontem. A segunda e a terceira tem mais a ver com o fato de hoje, o referido produto, já não existir...



quarta-feira, 15 de junho de 2011

egoísmo precioso explicado:



Não se emprestam livros!
Passam por lugares, viajam, sabem muito (demasiado) e com eles partilhamos tudo: Dou-lhes o meu toque, sempre leve e meigo; não há um único que se possa queixar de não ser bem tratado; passeiam apenas quando lhes apetece; viajam sem pagar nada; não requerem qualquer esforço para a sua vivência; possuem uma reforma abonatória garantida; a sua figura está sempre no melhor dos tratos.
Emprestar um livro é perder parte de nós e, receber um livro emprestado, é envenenar a alma de um doce veneno que não compreendemos, maltratar a experiência que nos fez e esbanjar o secreto tempo que nos faz.
Note to self: que não se repita!



terça-feira, 14 de junho de 2011

já não estou aqui



O medo adulto não é, muitas das vezes, mais do que o cansaço num desconhecimento. E é isso que esta viagem é: medo. Medo e bom e saudade e, sobretudo, desconhecimento. É não dormir pelo desconforto de que sonho e sei, num sonho, como é a vida numa remota e desconhecida noturna estação. Não tive a sorte de ter escolhido o sol mas, se a escolha foi minha, não é correcto da minha parte chamar-lhe sorte. Digo antes que não tive a audácia (ou mesmo a coragem) de ter escolhido o sol. Escolhi antes a negra solidão e toda a sua falta de luz.
Há cantos que não ouso chegar perto só pelo cheiro infeto a mijo. Não é a pestilenta urina ácida acumulada nos cantos mais recônditos, é mesmo mijo. No olhar dos residentes deste local, vejo o mesmo cheiro corrompido e caducado em forma de olhos, que me atrevo a desafiar: Não mexe ao encontrar o meu. Bastou um relance, um olhar de um segundo num sentimento inquieto de observação terceira, para numa fração de troca de olhares, eu perder e ser dominado pelos olhos negros. Aqui só vivem estes olhares, em corredores estreitos, espalhados pelo chão que me fazem medir os meus mínimos de limpeza. Apesar de aparentemente invisíveis, de ninguém se importar que os olhos durmam no chão, nas escadas ou nos corredores à média ou quase nenhuma luz, todos passam sem tocar, quebrando o ritmo certo dos passos que ora atrasam para acertar o evitar, ora adiantam para dar um salto e retomar. À medida que as horas passam, o mesmo ritmo dos passos torna-se pouco espesso e, com esta nova densidade, o movimento desaparece. Jogamos agora o jogo da estática. Nas regras, todos temos que ser pobres e, nas peças, todos temos que ter álcool.
Podia ter escolhido o sol, escolhi isto mas, até para mim, isto, está neste momento a ser demais e, aquele aparentemente inóspito e degradante café, agora, parece-me o mais acolhedor dos hotéis.
É aqui que me vou manter escondido até as horas me acordarem de volta e me trouxerem, numa voz de lençóis lavados e pequeno almoço na cama, de volta ao tempo. Neste medo pelo desconhecido, refaço a seguinte métrica: O estado de civilização de um sítio, mede-se não pela resposta à pergunta (que se torna irrelevante) mas pelo simples fato de ser feita a pergunta: se morresse aqui, neste preciso instante, neste mesmo local... que aconteceria ao meu corpo?
Foi não saber responder a esta pergunta que me fez suar frio de medo e pensar: O medo adulto não é, muitas das vezes, mais do que o cansaço num desconhecimento.



segunda-feira, 13 de junho de 2011







PARTE 3


- EPÍLOGO -




*knock* *knock* ! Who's there?



Até hoje, em média, 526 pessoas visitaram este blog todos os meses. Destas, 335 foram únicas (não repetidas). 150 das visitas mensais, fizeram-no pela primeira vez e, no mesmo intervalo, 185 voltaram a visitá-lo.
Maio de 2009 e Maio de 2011 foram os meses com mais visitas imaginárias e Agosto de 2010 foi, de longe, o menos visto.
Foram escritos 344 posts em 121 semanas, ou seja, em média, desde o dia 10 de Fevereiro de 2009 até hoje, foram escritos 3 posts por semana.

No entanto, no total e até à data, foram feitos apenas 302 comentários, que apenas consigo explicar nas palavra de um grande amigo meu que, outrora e a título de opinião pessoal sobre este blog, me disse que a escrita solitária e anónima e muitas vezes demasiado pessoal que o caracteriza, não é mais do que uma outra forma de masturbação. Algo que, acrescento, ninguém tem por hábito comentar, seja do próprio, seja de outro...






FIM DE PARTE 2




terça-feira, 7 de junho de 2011

Planet of Women





The two headed ladies said I couldn't land my ship.
I said "it will only take a minute".

- well, she said
- what's in it ?
- oh, I don't know, just some weird shit
- OK.

when I got to the surface there were women everywhere
-Hey, how you're doing?
and all the men were slaves, they had us all dressed up in chains
-uh, look at that one!
and there was a queen.
she had her own... dressed up in black.
-come back here Sam!
Her name was, I Like It Like That, queen I Like It Like That.
And fell in love with the leader from the underground he said he'd set me free.
But when I fell asleep he stole the keys and slit the scene.
I guess I'll never learn. No I'll never learn.
Fags in drag no matter were i land,
I get burned, so burned

It's hard living on a planet of women.
Gonna walk to the river and throw myself in it.

-Bye Bye.





segunda-feira, 6 de junho de 2011

Por,


    por vezes, por uma, por sempre ou por todos os dias,
por até depois e um, dois... demasiadas ou de vez em quando...
      mas sempre por qualquer coisa.

Por um momento, por dois, por uma ou duas lembranças, por vários pensamentos,
por algumas imagens ou por outras poucas...
      mas sempre por qualquer coisa.

Pelo silêncio de momentos em cor, pela paz, pela lentidão profunda do ar que entra e pela mesma cadência de ar que sai, nas páginas brancas e num lápis, nas seguintes e numa caneta...
      mas sempre numa qualquer névoa que fica.

Pela chuva que já caiu e pelo sol que já aqueceu,
(principalmente o sol)
                                                 na terceira pessoa de pele
(sem dúvida a pele das peles)
                                                          ou na vontade do ser, no sermos nós e no não sermos,
      mas no sermos sempre qualquer coisa,
nos sonhos de agora e nos de outrora, na tentativa indolente de pensamentos, vem uma música que fica por entre os sons que se parecem esquecer e as imagens que não vão, na capacidade de recordar, de manter e  de não querer sequer perder por cima por uma qualquer e nostálgica qualquer coisa






de silêncio.



sábado, 4 de junho de 2011

(mera)quimera



existe neste regresso um voltar ao mesmo estado de desejo de partida. não o mesmo, que já mudou o tempo que nos muda a nós. que tenta. desta, por pouco, que o regresso é apenas para voltar novamente, e partir, e voltar, e partir... até um dia não querer voltar, e um outro1, (aqui) longe, não querer partir.
Cá (de longe) o tempo é mais curto, mais pouco e mais tudo. Aqui, parece não haver nadas de tempo nem tempos sem nada: não há trocas de palavras que se trocam, porque Longe2 (aqui), sou ar por entre as nuvens: uma (mera) brisa.
E é só mais um pouco, grita o tempo, no ar, sem tempo nem ar, ao vento e Longe (daqui).


1 A melhor maneira de lidar com os outros é tomá-los por aquilo que eles acham que são e deixá-los em paz.
2 Pastor do Monte, Tão Longe de Mim