terça-feira, 25 de agosto de 2009

Terror

O meu maior medo é mergulhar sorrateiramente, de olhos fechados, e bater fortemente com a cabeça numa canela airosa. É perder as imagens das quais não há fotografias possíveis ou máquinas capazes de captar. É esquecer o olho felino e os seus diferentes rostos no singular. É não conseguir recordar mais o sabor e o toque, não reconhecer o cheiro de olhos fechados e não me vir à memória como se dança com o pulso e as mãos e os dedos ao som do nada. É não lembrar que a brisa também fala, embora baixinho mas atrevida quando precisa de intervir, dando sinal de que a sua vigília é constante e não tolera abusos nos seus domínios.
Mata-me o coração pensar que uma pancada na cabeça me passe a dizer que não existem criaturas escondidas nas areias tintas. Corta-me o ar o mero pensamento de poder não saber mais, os 57 minutos de diferentes tonalidades de vermelho e laranja e azul com que o céu morre. Cega-me a mera possibilidade de esquecer a incandescência decadente do, outrora meu, populado negro privado. Atordoa-me correr o risco de não ouvir mais o silêncio de tudo o que ouvi para que não sinta mais o barulho do nada.

O meu medo de perder e esquecer, para não conseguir recordar ou reconhecer o lembrar, Mata-me! Corta-me! Cega-me! e Atordoa-me!

1 comentário:

littlegirl disse...

Oh diacho... acabada de chegar de férias e já tantas palavras para ler.

ainda bem =)