domingo, 7 de novembro de 2010

ultima noite



naquela noite, havia qualquer coisa de diferente. O silêncio, naquela noite, parecia impor-se cruelmente: não havia presença. naquela noite, a vontade ficava com as mãos: nos bolsos. A beleza era muda eu era mudo a noite era muda, naquela noite, o toque era surdo. Não havia fome naquela noite. A música era quase perfeita porque era só, porque era só e era só música e eram lágrimas daquelas noites. Os regressos, naquela noite, pesavam tanto que demoravam mais. Os Bichos, mais bichos nessa noite, pressentiam aquela noite, rossavam-se num lamento daquela noite: sentiam.
naquela noite, os beijos não eram beijos: toques de lábios amorfos. não sentidos.
naquela noite o toque da pele não sentido: escondido e fugidio. tímido.
naquela noite, o carinho tão tímido que se tapava a si próprio de vergonha daquela noite. 
A vergonha da solidão daquela noite.
naquela noite, esperou-se, esperou-se, tornou-se a esperar uma última vez, olhou-se, olhou-se, tornou-se a olhar mais uma última vez, esperou-se e olhou-se e nada. naquela noite, havia qualquer coisa de diferente mas que há muito era igual.
Naquele Dia, fui-me embora.



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