quarta-feira, 3 de novembro de 2010

a chave da babilónia





O desejo de chegar e tirar aquela gravata que o sufocava crescia. Com ela, a vontade de fumar um cigarro e tornar a respirar a casa. Enquanto caminhava, a chuva caia-lhe sem saber ou, simplesmente, por não se importar. Era quarta-feira.
Ela chegava sempre ás sete e meia e, naquele dia, tudo se mantinha como sempre. Ele tinha-lhe dado as chaves do apartamento, inicialmente, sob uma qualquer desculpa sobre segurança ou de possível necessidade prática futura, mas ambos sabiam o verdadeiro significado daquela chave. Ambos sentiam o peso que ela acarretava.
Estava a acabar o seu primeiro cigarro, debruçado na janela sobre o trânsito, quando ela tocou. Ela tocava sempre.
No final, pela primeira vez, ele pediu-lhe que ficasse, e ela, pela primeira vez não quis ficar.
-Deixo as chaves ao pé da comida do gato. E saiu.
No dia seguinte, ás sete e meia, ninguém tocou... tocou ás oito.

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