quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Encontramo-nos na bandeira azul


Escrevo os momentos que guardo para inevitavelmente esquecer. Não controlo o tempo em mim: o do esquecimento do pormenor e do sabor, o tempo da memória que sai, dos momentos que se perdem pelo tempo: por isso escrevo. Escrevo para não me esquecer daquilo que tenho medo de não me lembrar mais: de mim.
-Encontramo-nos na bandeira azul...
Ele chegou primeiro. A minha ansiedade de não saber: o medo de tudo sem pensar em nada: a ansiedade do esperar. O diferente repetir, a agitação: a cada passo mais passos. Escondida, procurei-o com o olhar, quis ser eu a encontrá-lo primeiro, a chegar sorrateiramente e me plantar: Na sombra da bandeira azul: O resto do teu cabelo que te mostrava todo, que te denunciava. O tempo que não passa: o caminho até ti que não acaba: Tu que não chegas. Camuflada pelas sombras, tentando-me esconder de ti, escondida até ti na multidão que desaparecia, para ficar: No instante que te descobri na sombra: Só tu. A ansiedade: a agitação. Seca-me a boca, aperta-me o estômago, falta-me o ar: Faltam-me as forças e planto-me.
Silêncio: Fixam-se olhares: Tudo cai: Deixa-se tudo voar e cair: O mundo desaparece, ficamos nós e um abraço de muito tempo. Um abraço de cair o sol, levantar a lua, cair a lua, levantar o sol: e ainda o mesmo abraço. As minhas mãos na tua cara: Deixa-me olhar para ti, não te largo, não te deixo, deixa-me olhar para ti. As tuas mãos na minha cara: Olha para mim, não me largues, não me deixes, olha para mim: Uma lágrima de saudade com muito mais do que uma saudade. Uma lágrima presa no tempo, cansada de esperar: Um beijo num abraço dentro de um beijo fora de um olhar fixo num lugar sem ninguém: Nós: O mundo deserto: A bandeira azul nas nossas cabeças à sua sombra: O melhor momento e as nossas mãos dadas:
-Anda...

3 comentários:

Natércia disse...

Gostei imenso.

Diana disse...

Eu também... muito mesmo.

João disse...

...e é só isso que me importa.

obrigado