quinta-feira, 12 de agosto de 2010

somos o esquecimento que seremos

Dizem que somos parecidos, parecendo-nos em aspecto e feitio. Dizem que foi de ti que herdei as artes, por muito modestas que ainda sejam, e dizem que foi o teu génio que se prolongou por mim.
Digam o que disserem, eu digo que vou herdar de ti as dores de ossos. Digo que vou envelhecer de dores e queixar-me à minha M.A., se tiver a tua sorte de a encontrar. Se conseguir viver em casa própria, também vou enxotar as crianças que se atreverem a jogar ás escondidas no meu quintal, vou ser tanto avô babado como homem impaciente. Continuando-te, vou continuar a não deixar que me mexam nas minhas coisas mas fazer muitas mais do que as que terei, para que as possa dar e mostrar a quem gosto. Vou espalhar sorrisos e boa disposição aos outros, só porque me está nos genes que me passaste.
Digam o que disserem, parecidos ou não, porque a história se repete e eu não acredito no destino, mas acredito na impossibilidade de fugirmos à nossa herança genética, se a minha história for a tua, com ou sem dores nos ossos, agrada-me! Agrada-me muito. Mas olha, se me encontrar a um eu, como tu a mim, não me deixarei ir tão cedo. Não deixarei que esse eu, como tu a mim, cá fique sem saber mais e não tenha o tempo que não tiveste para mais lhe ensinar. E se nada tiver para lhe ensinar, se por feitio não quiser ou não me apetecer, então, falo-ei ouvir as histórias dos anos de uma vida, para que as possa recordar e contar com orgulho. Se vier verdadeiramente a aprender a pintar, se vier a conseguir escrever, se me apurar, ensinar-lhe-ei.
Hoje, faz 13 anos que partiste.

1 comentário:

Natércia disse...

Uma bonita homenagem.Enquanto recordamos e nos lembramos... os nossos estão vivos e "vão-se da lei da morte libertando".A M.A. leu e ficou enternecida, com uma lagrimita na face...