segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

duas horas e vinte cinco minutos de paraíso



Acordei com ele a avisar-me:
- Já venho, não te atrases !
E deixei-me dormir novamente. É uma manhã de Inverno a acordar-me a um segundo de cada vez, por cada gota de água nunca quente o suficiente para me confortar a manhã. Aqui, o verdadeiro dia só começa quando se abrem as janelas de madeira e se tem frio. Só o gelo em bicos dos pés, a saltitar na tarefa para que seja rápida e fria, pela preguiça de calçar o que foi descalço à presa e à força antes de deitar, me acorda verdadeiramente o sorriso. Este sol quente de madrugada fora da época, fala-me do final de mais um ano.
Uma insónia da minha Mãe assusta-me o frio e relembra-me em forma de agenda as horas futuras. De volta a mim, o meu pequeno almoço é o cheiro quente e o silêncio torrado com manteiga. Enquanto os consumo, à mesma velocidade que os meus olhos sentem o mover de um sol sem brisa, enquanto acordo os pulmões fechados da noite anterior, enfeitiçado pelo chilrear e os ladrares longínquos, passa por mim o meu Irmão, de inchada na mão e tarefas feitas, já desperto há muitas mais horas que as minhas. Aos poucos, a manhã acorda e cala o sol que cala o frio que cala o verde que cala os pássaros que calam os cães que acordam o mundo e me cala a mim e, já com o meu Pai desperto e o carro a acordar, ele finaliza o aviso e diz-me:
- Vamos !


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