quarta-feira, 13 de maio de 2009

Sítio do amigo sem o imaginário

Nós sabemos de um sítio que mais ninguém sabe e poucos lá foram.
Um sítio vivo e peculiar, que eu próprio vi crescer e, nós, já lá estivemos. Um sítio onde o silêncio morava e as estações habitavam. Um sítio verde e castanho e azul e cinzento. Um sítio que eu vi nascer e um sítio que me viu crescer.
Foi um sítio que me fez mais feliz do que eu a ele e, se calhar por isso, tenho saudades dos tempos em que chorava, em silêncio, por ter de abandonar o meu sítio. Dos tempos em que não mandava como agora mando: pouco, mas o suficiente para lá poder ficar. Tenho saudades porque, eu e o sítio, já não nos vemos como dantes. Nós e o sítio, não é a mesma coisa...
É um sítio que viu o meu imaginário antes de eu próprio o imaginar. Sentiu as invasões imaginadas, os esconderijos secretos e as histórias fantásticas que contava às árvores, no topo delas e, acima de tudo, um sítio que me fez crescer, aos fins de semana.
Pouco a pouco, durante muitos poucos a pouco, e só aos fins de semana, eu crescia. Se calhar por isso não cresci muito, mas partilhámos o crescimento. Eu cresci verde e castanho e azul e cinzento, cresci sem frio do frio, seco da água da chuva e das poças, pela brisa e pelo vento no topo das árvores, onde contava histórias.
Em troca, este sítio cresceu mágico. Mais verde, mais castanho, mais azul e mais cinzento que qualquer outro. Com árvores sábias de histórias que a brisa e o vento contavam e que ouviam no topo das árvores. Também cada gota escutava uma breve gota de história, mas as poças, escutavam-na como se a elas lhes fosse contada.
E depois cresci demais. O sítio foi torturado, mutilado e amputado e ainda falamos em alguns fins de semana.
Mas já não o vemos.

1 comentário:

V disse...

Não sei se o sitio que referes é o que penso mas se for ou pelo menos foi o que senti ao ler, também eu tenho saudades...Mas a vida é feita de recordações e boas são as que nos fazem sorrir :) Beijinho V