sexta-feira, 27 de março de 2009

NowyWarszawa - Cap2 - Nova Varsóvia (part1)

Já o sabia, porque já o tinha experienciado. Até tinha tentado não alterar esse hábito, mas mesmo assim estava espantado com a sua capacidade de resistência ao sono. A mente não quer e o corpo aceita e se a mente não quer porque o corpo deixa. E sabe que os próximos dias serão assim, enquanto o corpo deixar e a mente quiser, ninguém dorme nem ninguém pára.
Consciente de que o tempo, desta vez, está contado, entrega-se ao plano da Narradora. A Narradora tinha um plano e nesse plano não havia nenhuma referência a dormir nem tão pouco a parar. Esse plano tinha um nome: NowyWarszawa. Era um plano alternativo, inimaginável e fantástico que iria ficar registado para sempre. Embora ainda não o soubesse ou sequer suspeitasse, a nova Varsóvia em nada substituía a antiga, mas, talvez por ser nova ou por ter sido posterior, era muito melhor que a anterior.
A nova Varsóvia tinha um café nas nuvens, com nome de hotel, onde se bebem cappuccinos. Na nova Varsóvia o primeiro jantar é num palácio e a noite celebra-se num Park.
Park. Nome que escutou todas as semanas no passado, mas que nunca tinha sido mais do que um nome. Como tudo nesta viagem e neste plano, o que apenas tinha um nome agora iria ter uma imagem. E esta tinha mais do que uma imagem, tinha várias. As imagens de quem não sabia do seu plano, do seu post scriptum e por isso, ficaram registadas pela surpresa da sua presença. Pelos gritos embriagados do seu nome num Park intransitável de gente, pelos abraços, pesados mas calorosos de saudades, num Park que de oxigénio tem pouco.
Na nova Varsóvia há palácios e as cervejas de dia são quentes e à noite são frias. As festas são tricolores e à escolha: verde, amarelo ou vermelho. Na nova Varsóvia A Narradora tem mel e existe uma abelha preta.
Mas a nova Varsóvia também se junta à antiga, junta-se naquilo que para ele é antigo mas para que para quem o acompanha é novo. No seu trajecto ex-diário nada mudou e revê-o apenas com um sorriso na cara, mas para A Narradora, é um submundo escondido, dentro da nossa própria casa. E sabe-lhe bem, também ele, ter algo para partilhar. Na nova Varsóvia existe uma cidade dentro da própria cidade, uma zona, para ele nova, com nome de capital, onde a nova Varsóvia começou. Tudo começou por esta zona, onde nas melhores vistas dormem vagabundos, por serem pessoas de alto conhecimento dos melhores recantos das cidades e as igrejas católicas viram ortodoxas. Nesta zona, as estátuas cantam e tocam e dançam e acima de tudo, divertem. E muito. Nesta zona, as poetizas são de bronze. Na nova Varsóvia o terceiro jantar não são Tortillas. Na Opera da nova Varsóvia espera-se duas horas para entrar e nesta Opera para além de se ouvir e dançar tocam-se tambores. Na nova Varsóvia a noite não acaba quando sol nasce, acaba quando se acaba de puxar o Luzztro ao escuro, onde já de dia, o ar não se respira, empurra-se para dentro de tão denso que é e ao som de 150 batidas por minuto. Na nova Varsóvia o pequeno almoço toma-se antes de deitar. Na nova Varsóvia o pequeno almoço é um maravilhoso arroz de frango.

2 comentários:

littlegirl disse...

Nunca adivinharia (até porque nunca pensei sobre o assunto) que um cómico com amigos imaginarios pudesse escrever com tamanha profundidade e seriedade. E muito menos imaginava ser possível resistir à pressão desses amigos para devaneios e parêntesis "idiotas" (não...eu tb vou resistir! não vou escrever parêntesis idiotas. parem!!!).

Se tivesse de escolher entre o cómico ou o profundo (não que houvesse alguma coisa no mundo que me obrigasse a escolher tal coisa) (ups, parêntesis idiota) não conseguiria, porque é justamente essa esquizofrenia de expressão que me disperta curiosidade em ler o blog.

Obrigado pela companhia que os textos fazem.

Mariana Pinto da Costa disse...

Obrigada.
Obrigada ao livro do Ron.
Obrigada por alinharem no plano.
Obrigada por todas as idiotices e devaneios.
Por tudo, obrigada.