quinta-feira, 14 de outubro de 2010

tumulto



o centro da cidade. Era a última pessoa para a qual estava preparado para encontrar e só por isso, o meu coração bateu numa única contracção de segundos. Fiquei completamente atónico de a ver. No primeiro piscar de olhos sorri, peguei na mão dela sem dono, no braço dela abandonado e entregue ao vento e pu-la no meu peito. Perante toda aquela multidão babilónica, por entre gritos e apitos e buzinas de carros, perguntei-lhe baixinho:
- sentes?
o silêncio dela.
- pela primeira vez apresento-te-me calmo, sem borboletas ou palpitações.
o silêncio dela e um olhar. Com medo de mais palavras, apenas belas quando improvisadas em folhas de guardanapos perdidas, perguntou-me:
- porque não me abraças?
e os carros pararam. Os condutores saíram e olharam para mim. Os passageiros saíram e olharam para mim. Todas as pessoas na rua pararam e olharam para mim. As varandas encheram-se a olhar para mim. O vento passava lento a olhar para mim. O enorme silêncio que olhou para mim. O fim do dia parou a olhar para mim. O silêncio do mundo parado à minha volta continuava a olhar para mim. O meu coração, enquanto olhava para mim, respondeu:
- porque queria que me abraçasses de volta.





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