sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Parto hoje...







Tínhamos combinado voltarmo-nos a ver no último pôr do sol do mês de Setembro, no cais da Rocha do Conde de Óbidos e foi lá, junto ao estaleiro principal, que morri pela primeira vez. Quando cheguei, atrasado como de costume, já me aguardava, cabisbaixa, não conseguindo encarar os meus olhos surpresos pela sua estranha inquietude e falta de coragem muscular. Sem pontaria nem intenção, com palavras de tons ténues e uma voz trémula e nervosa, após uma pausa de hediondo suspense para os meus ouvidos, como que a ganhar coragem para regurgitar as palavras ingeridas previamente pelo pensamento, disparou certeira.
- Parto hoje... Não sei se volto mais, nem sei para onde vou. O meu pai quer-me longe desta cidade e deste país...
- ...cala-te! Não me interessa nada disso! Esperas por mim? No barco ou num qualquer outro porto, mas espera por mim! Eu procuro-te, eu encontro-te, eu acompanho-te e partimos os dois... mas se partimos os dois, não voltamos mais... Sim?
Levantou a cabeça e sorriu.
- Não demores. Temos o mundo para descobrir. Até à vista!
Virou costas ás lágrimas, e sem conseguir esconder os soluços, sem um beijo ou um dos nossos abraço de parar o tempo,  afastou-se.
A minha vida seguia agora outro rumo. A partir daquele momento tudo iria ser diferente e aguardar pelo momento em que nos reencontraríamos tornava-se um desejo em forma de sufoco estranhamente agradável. Nunca mais a vi.


1 comentário:

littlegirl disse...

snif

parte II com final feliz please!