terça-feira, 20 de abril de 2010

Ele e Ela


Acabou a música e a comida. Pior, acabou o vinho.
Ele, embriagado mas não pelo vinho, fixa-se nos seus magníficos olhos castanhos, naqueles olhos cor de felino, sem nunca se aperceber que isso a assustava, até a ouvir perguntar num rugido quase a medo – Que foi?!
Ela, sempre sedutora e provocadora, levanta-se da mesa a dois, saindo lentamente da sala de jantar, virando-lhe as costas dissimuladamente sem interesse mas com um sorriso nos lábios que ele não via. Passeia-se pela casa, aparentemente indiferente e atarefada com a vida que não era a dele.
Ele, agora sentado no chão comodamente revestido, ouve ironicamente a See-Line Woman da Nina vendo-a a duas cores e sorri também por isso. Sorri pela coincidência e pela conjectura daquela música. Esquece tudo, aumenta o volume e deseja, repetidamente, vem-te passear para este chão e vem ouvir a minha música!
Ela, sentindo-o demasiado quieto, aproxima-se silenciosamente dele e fica a olhá-lo, observando-o, sentado a dançar e a sorrir. Chega-se mais perto, como uma leoa na sua própria savana, examinando não a presa mas um cenário. Denuncia a sua presença.
Ele, sem tirar o sorriso estampado, vendo-a já junto a ele a aproximar-se, descendo sobre si, acompanhando-o no seu desejo repetido de então, estica-lhe a mão num abraço e sente-a junto dele.
Ela, sem resistir, deixando-se domar, entrega-se sem querer combater aquele sentimento de entrega e descoberta e cai rendida ao mesmo tempo no seu peito e no seu colo.
Ele, envolvendo-a nos seus braços, olhava para a Nina, vendo os seus olhos de uma inexpressão imutável, naquela ausênsia de sentimento com que contrasta o seu cantar, naquela magia com que a Nina envolvia a sala ao dizer, Be My Husband, e pede-a mais uma vez em casamento.


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