segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma aventura no Teatro


Contra aquilo que é o conceito deste blog, e no fundo o meu, vou partilhar uma experiência pessoal. Pessoal daquelas que se passam com o escritor.
Fui ao teatro!
Fui ao teatro não porque sou um pseudóintelectual, nem tão pouco porque o sou sem o pseudo, mas porque me ofereceram bilhetes.
Peça em questão, Hedda Gabler. Como quem vai ver um filme ou comprar um carro, há que, pelo menos, ler qualquer coisa rápida sobre o assunto: "considerada uma das maiores peças de todos os tempos" ; "século XIX" ; "amor, traição, morte, mais amor e mais traição". - qualquer destes dados (e os seguintes), são não só questionáveis, como o devem mesmo ser, mas estou com preguiça de por a mão direita no rato e ir perguntar ao sr. google.
Vou directo ao assunto, e que me desculpe quem me disse bem da peça, até porque ninguém me perguntou nada, mas não a aconselho muito (nem pouco... simplesmente não aconselho). É daquelas peças só mesmo para fãs ferranhos de teatro à boa maneira antiga, porque para mim, ver a Sofia Alves sempre a olhar para o 2º anel do auditório municipal Eunice Muñoz, (que só tem para ai 6m de altura) como quem está a declamar poesia ao jeito de serenata shakespereana falada mas ao mesmo tempo sofre de um torcicolo vertical, apoiado num arregalar de olhos, altamente inquietante e de futuro estudo cientifico pelo recorde de tempo a não os piscar, certamente provocado por alguma deficiência mental (admito que possa não estar a ser muito verdadeiro... acho). Não quero parecer injusto e certamente até poderão estar a pensar "se calhar ela estava era a interpretar de forma exímia o papel", mas ela, era uma senhora de classe suposta média (e a subir) do século XIX por isso, ponto ponto ponto...
Mas até admito que não tenha qualquer tipo de sensibilidade para apreciar esta peça e portanto, mereço ser cuspido e até vaiado.
Long story short, Vítor de Sousa (vá.. Guilherme Filipe também) salva o espectáculo de 3h (felizmente com intervalo), Ana Rocha irrita com tanta anormalidade de interpretação, Paulo Rocha pela mediocridade e Berta Dulce por só aparecer 10min.
Ah, já agora gostava de enviar uma palavra de apreço à senhora de (vou atirar à sorte) 80 anos - vamos-lhe chamar Amélia em honra à senhora minha avó e, já agora, à Rainha Dona... Amélia - que lá estava e se conseguiu portar pior do que a segunda metade anterior da plateia, cuja média de idades rondava os 17 anos (arredondado para cima).


Hedda com a palma da mão esquerda no coração e as costas da mão direita na testa, olhando o 2º anel, numa interpretação magnífica de nos fazer suster a respiração durante o mesmo tempo que não pisca os olhos, diz muito alto - "Aaaaaaaah... e agora !!! que será de mim! QUE VOU EU FAZER!"
Amélia - vais dormir!

9 comentários:

Anónimo disse...

já vi a peça e sou estudante de conservatório de teatro. lamento informar-te que de facto de teatro não percebes mesmo!!!! a peça é genial e as interpretaçoes são geniais. a Sofia Alves está magnifica na pele de Hedda gabler, e não te esqueças que a peça é de Henrique Ibsen que é só o grande dramaturgo do teatro realista do sec xIX. Acredito que para quem não gosta de peças classicas e deste autor, tivesse como tu,alguma dificuldade em gerir o espectaculo, mas acredita que é mesmo muito bom.

Anónimo disse...

é preciso ser muito leigo para não gostar deste espectaculo já considerado pelo meio intelectual portuges como a peça do ano. desta vez meteste água no porta avioes. tambem já fui ver a Oeiras e passei-me.os actores são muito bons, a peça é rica, muito actual e a Sofia Alves em palco é mesmo muito boa. grande trabalho dela. alias, eles estão todos no seu melhor. fazes figuura de urso com os teus comentários sem nexo. para a proxima escolhe um stand-up comedy ou uma peça light com elenco de 3a, pode ser que já gostes mais. bj Joao
Alexandra

raquel disse...

Pois eu ainda não fui ver... Conheço o Celso, conheço a Sofia e o Vitor de Sousa. Por isso também, está nos meus planos ir ver brevemente. Fui ver a peça anterior do Celso e gostei. Gostei da Sofia Alves e principalmente da Manuela Maria. Não sou especialmente entendida em teatro e, mesmo que fosse, nunca teria a pretenção de julgar a sensibilidade e o gosto dos outros para o que quer que fosse. Que diria então de mim um jazzista por eu detestar free-jazz ou um adepto de wrestling por eu simplesmente não perceber a literal histeria em torno do desporto? Alguns dirão que estou a comparar o olho do cu com o mês de Agosto. Eu digo simplesmente... "que tal deixarmos cada um gostar exactamente do que gosta e ser exactamente o que é" Já temos hipócritas suficientes no mundo... Muitos deles vão ao teatro a sorrir e odeiam-se por isso. Não gostaste João? Quando eu for ver, logo te digo se gostei. E se tiver gostado... amigos na mesma, ok? Mas pagas tu a bejeca!

Unknown disse...

JOÃO, NÃO FOI FELIZ O TEU COMENTÁRIO VIPERINO E AINDA TE DIGO MAIS, FOI PROFUNDAMENTE INJUSTO. É UM ESPECTACULO NOTÁVEL, UMA TRAGICO-COMÉDIA DIVERTIDISSIMA.
EM VEZ DA GRANDE SECA DOS TEXTOS PESADOS E CHATOS. RESPEITO A TUA LIVRE OPINIÃO, MAS FOI MUITOOOO FORA!
NÃO PODES ANIQUILAR UM TRABALHO DE GRANDE HONESTIDADE E DIFICIL COMO A HEDDA GABLER. OS ACTORES DÃO ALI O LITRO EM PALCO E EM ESPECIAL A SOFIA ALVES QUE ESTÁ SEMPRE EM CENA SUPER CONCENTRADA NUM REGISTO TRAGICO-COMICO GENIAL. ELA É UMA ACTRIZ MUITO BOA, DIGO-TE MESMO QUE É RARO VER UMA GAJA COM TANTA GARRA EM PALCO. VI O BOA NOITE MÃE E FIQUEI RENDIDA. JÁ TINHA VISTO O SOCORRO ESTOU GRAVIDA E TAMBEM ADOREI. PODES DIZER QUE NÃO É O TEU TIPO PREFERIDO DE TEATRO E ISSO É INDISCUTIVEL, MAS NÃO PODES TIRAR O MÉRITO A QUEM O TEM. COMO DIZ A RAQUEL E BEM, EU TAMBEM ODEIO FUTEBOL MAS NÃO É POR ISSO QUE ATACO QUEM JOGA.
MENOS JOÃO... MENOS!!!
UM BEIJO E JÁ VÃO 2 BJECAS-LOL!

guille disse...

se não houvessem críticas neste mundo.. se todos gostassemos de tudo da mesma maneira.. que seria feito de nós??

mais João.. mais!! :)

Unknown disse...

Fico-lhe agradecido pelo comentário que fez. Tem a qualidade de não pretender ser um «crítico». Tem a virtude de ser uma opinião, expressa com um estilo muito próprio dos tempos que correm, e do espaço de crónica que são os blogs, os modernos espaços que antigamente os nossos melhores escritores disputavam na primeira página dos jornais de grande tiragem: o Folhetim, essa invenção do século XIX, e que deu grandes textos da que foi chamada literatura industrial ou, em termos actuais, «light». Tem razão, João, no seu comentário, porque é seu, tal como quem lhe respondeu também o tem. E se lhe chamam «viperino», será certamente desconhecendo que esse epíteto foi a grande arma dos grandes escritores do romantismo. Teatro é isto mesmo: uma tribuna de expressão de ideias que se debatem sob a forma de ficção, paradigmas de quotidianos que observamos, porque nos dispomos a assistir ao drama em gente da nossa metáfora. Podemos comentá-lo, ao mesmo tempo, que nos comentamos. Nunca ouviu dizer que criticamos nos outros aquilo de que não gostamos em nós? É só isso. E também é deste modo que se vão formando públicos heterogéneos, porque massificação é perigosa. Não gostou,ainda bem, é sinal de que não ficou indiferente. Este sentimento é que me preocupa.De resto, as coisas valem o que valem, no seu tempo e para quem se interessa por elas. Cem anos depois, os outros dirão de sua justiça, e nós já cá não estaremos para dizer se estão certos ou errados; será a interpretação deles.Temos que ser honestos no tempo em que vivemos e com quem vivemos, poderia dizer o Diógenes, a quem chamaram cínico, do ponto de vista filosófico claro.
Um grande abraço e, por favor, não deixe de ir ao teatro. Há mais marés do que marinheiros!
Guilherme Filipe

João disse...

Obrigado por todos os comentários mas em especial, ao do Sr. Guilherme Filipe por, a meu ver, não deixar qualquer margem de discussão futura, esclarecendo de forma perfeita, a ambiguidade de opiniões possíveis e presentes em tudo. Porque, apesar da particularidade deste caso, desta minha opinião, que nunca teve por intenção atacar ou desdenhar nem na peça nem nos actores, a crítica pessoal e a tolerância a ouvi-la, estão também presentes.
É realmente a indiferença que chateia ou, mais ainda, e num tom mais uma vez, muito pessoal, a quantidade de opiniões iguais que o são só por o serem...
Efectivamente, as opiniões pessoais valem o que valem, para quem as tem e para quem as ouve (ou lê) e para quem discorda delas, pode-o fazer de duas formas: não lhes dando qualquer valor ou respeitando-a (mesmo que discordando).

Fico feliz por não ter seguido um sentimento interior inicial, de não querer publicar algo demasiado pessoal e que, certamente (pensei eu na altura e vejo-o agora que com razão), contraditório a um grande número de pessoas. Ainda bem que o fiz e ainda bem que se prenunciaram.

Relativamente ao teatro em si, não se "preocupe", não só continuarei a ir, como sempre fui, como não me cingirei à "stand-up comedy ou ás peças light com elenco de 3a"... Mais uma vez, o meu muito obrigado!

um abraço,

João


P.S. Só uma pergunta... Guilherme Filipe como em, Tesman-Guilherme-Filipe-o-actor? Apenas uma curiosidade minha, porque em nada retira a opinião que tive sobre o excelente comentário que efectuou. Seria só, de certa forma e a meu ver, uma enorme ironia a todo o post/comentário.

Anónimo disse...

João, vai à stand-up! E vai ao teatro de terceira, seja lá o que isso for. Vai numa excursão ver o La Feria! Vai ver o Nekrosius. Vê tudo! E se gostares, volta. E conta-o aqui. E se não gostares conta-o também.
Eu percebo aquela fase da vida em que achamos que não gostar do Achternbucsh é indigência intelectual. E não ter aquele disco do Cage! E não conhecer as abordagens contemporâneas aos textos clássicos... Deus meu!!
Mas confesso que acharia mais interessante que me mostrassem uma alternativa ao Ibsen do que ser chamado de palerma. Mas, enfim...
E tu também és assim, João. Pelo que acabo de decidir que não levas uma t-shirt no Natal.

Sílvio

Unknown disse...

É verdade, meu caro, o seu faro apontou para o alvo certo. Sabe que o conceito de ironia para os gregos clássicos significava «perfeito discernimento dos deuses»? E já agora, à laia de remate, como diria o Unamuno, o acaso não existe, trata-se apenas de um momento muito bem organizado pela Natureza e que o Homem, de repente, se deu conta. Confluências de tempos, de espaços, de sinergias, nada existe por acaso; tudo tem uma razão de ser desde que nos propunhamos a entendê-lo de forma interessante e progressista.
Um abraço e disponha
Guilherme Filipe