terça-feira, 9 de junho de 2009

Objectos'R'Us

Todos temos ou tivemos objectos que nos são preciosos. Objectos que são verdadeiramente valiosos, objectos que nos lembram alguém, que nos lembram muitos ‘alguéns’, que nos lembram sítios, ou aquele sítio, objectos que de tão velhos, e por estarem há tanto tempo imóveis, preciosamente guardados nos mesmos sítios, já não nos lembram do que nos deveriam lembrar. Objectos, por vezes, tão pequenos que chegam a ser ridículos. Quando damos por nós em arrumações, e , por estes mesmos objectos todos, damos também por nós a demorar horas para arrumar seja o que for. A demorar meses, anos, uma eternidade, em viagens no nosso imaginário em cada objecto que vemos ou sentimos.
Se uma foto tem o poder de nos transportar, mesmo que desfocada ou mal tirada, mesmo que seja uma foto toda preta de quando íamos juntos e o várâss caiu e tirou a foto mesmo quando a máquina tocou no chão ou quando o bavárâss tirou uma foto com o dedo na objectiva no melhor momento das melhores férias da nossa vida, se uma foto tem este poder, um objecto tem exactamente o mesmo. Mas com cheiro.
O cheiro da sapateira (devidamente lavada) em cima do armário da cozinha, ou o cheiro a cola e tinta vermelha do coração partido de castanhas, o cheiro do som do djembe italiano ou do Pinóquio articulado na estante, o cheiro a cerveja da bandeira daquele país especial, o cheiro da areia do Brasil guardada num frasco, o cheiro zen do monge marcial na secretária, o cheiro dos lutadores de capoeira que, partidos, já não gingam, o cheiro que cheiramos, com um inspirar, demorado, e longo, para logo, expirarmos com um sorriso na boca. O expirar de meses, anos, de uma eternidade, o suspiro de um inspirar um objecto mágico.
Mas nem tudo o que guardamos faz sentido, nem tudo vale a pena ficar guardado só porque foi especial, sob a pena de nos por uma âncora nas pernas. Há objectos necessário perder para sempre, para se andar a velocidade cruzeiro, de âncora içada (mudemos de tema na metáfora não vá passarmos para os mastros…). Não acreditamos nisso mas sabemo-lo, mas não por nós. Para nós, todo o nosso espaço tem que ter história, construída por nós e por quem queremos que a ajude a construir, mesmo sabendo que a história nunca acaba. O que acaba é o espaço na gaveta, na estante, na mesa, no parapeito ou no chão para vagar noutra gaveta, estante, mesa, parapeito ou chão e mesmo vagar na memória.
Na memória também se vaga espaço para armazenar mais e melhor. Na memória também se esquece, para ganhar espaço para ganhar mais. Na memória ganha-se. Na memória guardam-se os ganhos dos objectos que nos dão, mas, principalmente, guardam-se os objectos que apanhamos e guardamos, na memória. Ou não. E aí, ficam perdidos porque são deitados fora. Afinal, já não servem para nada, nem mesmo para recordar.

4 comentários:

littlegirl disse...

:)

guille disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Sumekinda disse...

Fascista!!!! A censura já não existe!!! O 25 de Abril já foi há... (...2009-1974=35...) ... há 35 anos!!!


:P

M. disse...

O cheiro a cerveja na bandeira especial daquele país é bom, o pior é a letra borratada que está por baixo e o imaginar o que as pessoas disseram, em ver de ler. Mas imaginar também é bom.