quarta-feira, 9 de junho de 2010

O cruzamento

Domingo. Seis da tarde no cruzamento. Dirijo-me à padaria que já não entrava há anos com o meu irmão, para estupidamente comprar o lanche antes da festa. Está uma calmaria anormal, mesmo para um Domingo. Agora que penso, chamar-lhe-ia abandono. Não há carros nem pessoas, não há nada. Apenas eu, o meu irmão, o saco do pão, o nosso carro e as senhoras de aparente idade avançada a tomar um chá. É então que no meio do abandono, num intenso silêncio, por entre uma temperatura fantástica, na esquina do cruzamento, dentro da velha cabine pré-paga que lá se encontra há mais anos do que eu cá, vários quilos excessivos de cabelo oxigenado que mal cabem lá dentro, gritam em plenos pulmões, o mais alto que parecem poder:
- oh chico, vai pó caralho!
E desligam o telefone na cara do Chico, castigando violentamente o auscultador.
Neste momento, pareceu-me que o abandono envolvente cresceu ainda mais, e quase que juro ter ouvido o eco das duas últimas palavras por todo o cruzamento durante algum tempo. Depois pensei o quão espantosa é a durabilidade destas cabines, mais propriamente, destes auscultadores que tantas despedidas a chicos devem ter feito...

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